Conteúdos

– Rachel de Queiroz
– Romance da década de 1930

Objetivos

– Conhecer a escritora Rachel de Queiroz
– Reconhecer a obra O Quinze no contexto da literatura de 1930
– Conhecer as características da obra O Quinze

1ª Etapa: Apresentação de Rachel de Queiroz

Inicie a aula contando aos alunos que até meados da década de 1970 a palavra escritora não era usada no meio literário, na Academia Brasileira de Letras, e Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ganhar uma cadeira na instituição, ao tomar posse foi apresentada como “escritor do sexo feminino”. Comente com eles que isso já nos dá um retrato de como a autora é precursora não só de uma escrita feminina, como também de uma visão feminina sobre o sertão. Um dos intelectuais da época, Tristão de Ataíde, chegou a dizer: “Era a opinião de Tristão de Ataíde, que redimiu “O Quinze” da massa de romances da época, por revelar “em sua autora, um autor”. Para o crítico católico, não era claro o lugar da mulher na cultura brasileira, e a metafísica de menos pesava mais que as qualidades da romancista.

Apresente o vídeo (link 4 na Seção Saiba mais) “Memória política”, da TV Senado, além do Arquivo N, da Globo News, e comente que o reconhecimento da autora veio de todos os intelectuais da época: Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. Ela, junto com alguns desses autores, fez parte do momento que ficaria conhecido como o romance de 30.

2ª Etapa: Conhecendo a obra - O Quinze

Rachel de Queiroz surpreendeu não apenas pela qualidade de seu primeiro livro, mas também por tê-lo escrito com apenas 19 anos. O Quinze conta não apenas a história da grande seca ocorrida em 1915, como também coloca a mulher como personagem nesse contexto tipicamente masculino, faz da mulher – sujeito, não apenas coadjuvante. A personagem Conceição representa a mulher que ocupa seu lugar sem precisar estar lado de um marido, normalista, são os livros e a vó que lhe fazem companhia. Distante de todo sofrimento da seca por sua condição social, acompanha as rezas da vó que pede a São José que traga a chuva tão esperava.

Leia com os alunos o trecho a seguir:

“Todos os anos, nas férias da escola, Conceição vinha passar uns meses com a avó (que a criara desde que lhe morrera a mãe), no Logradouro, a velha fazenda da família, perto do Quixadá.

Ali tinha a moça o seu quarto, os seus livros, e, principalmente, o velho coração amigo de Mãe Nácia. Chegava sempre cansada, emagrecida pelos dez meses de professorado; e voltava mais gorda com o leite ingerido à força, resposta de corpo e espírito graças ao carinho cuidadoso da avó.

Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona.

Ouvindo isso, a avó acolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa é um aleijão…

– Está menina tem umas ideias!” (QUEIROZ, 1993, pp. 9-10)

Converse com a classe sobre o espaço descrito nesse trecho, a fazenda da avó e um quarto cercado de livros, Conceição alimentava-se de ideias, como dizia a avó. Ela adquiria muito conhecimento através dos livros e isso a distanciava do primo Vicente, moço trabalhador que lutava contra a seca para manter o gado vivo.

Vicente era primo de Conceição, entre eles parecia existir mais do que amizade, sentimento que é deixado de lado por ambos, por alguns desencontros e, principalmente, pela diferença cultural que os separava.

Comente com os alunos que a personagem Conceição é uma moça corajosa que se isola no mundo das letras e se distancia da busca de um marido para estar a seu lado. Mostre aos alunos que não existe pesar na escolha da moça, ficar solteira era uma opção, pois sentia que Vicente não entenderia seu amor pelos livros, pois preso à terra, não deixaria a fazenda mesmo com toda a seca que demorava a cessar.

3ª Etapa: O quinze e a seca

O romance de Rachel de Queiroz tem como cenário a grande seca ocorrida em 1915, que deixou grande número de flagelados, incluindo a família de Chico Bento que recebeu ordem de soltar o gado e ir embora com a família já que a não havia nenhum sinal de chuva.

Entregue aos alunos uma cópia deste trecho e leia com eles:

“Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar.

Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse.

Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha…

Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida.

Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas.

Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos no Norte.

A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra, abarcando projetos e ambições. E a imaginação esperançosa aplanava as estradas difíceis, esquecia saudades, fome e angústias, penetrava na sombra verde do Amazonas, vencia a natureza bruta, dominava as feras e as visagens, fazia dele rico e vencedor.

Cordulina ouvia, e abria o coração àquela esperança; mas correndo os olhos pelas paredes de taipa, pelo canto onde na redinha remendada o filho pequenino dormia, novamente sentiu um aperto de saudade, e lastimou-se:

– Mas, Chico, eu tenho tanta pena da minha barraquinha! Onde é que a gente vai viver, por esse mundão de meu Deus?”

Mostre aos alunos que o narrador alterna seu discurso entre indireto e indireto livre, peça para que tentem identificar qual é o trecho de indireto livre e por que foi usado? Observe se a classe reconheceu o terceiro parágrafo como indireto livre, comente que esse discurso reforça o pensamento da personagem, mostrando como a ideia de uma vida melhor domina Chico Bento, fazendo-o acreditar que era preciso tentar a vida em outro lugar.

Com esse pensamento, Chico Bento tentou conseguir as passagens gratuitamente, acreditando no apoio do governo federal. Não conseguindo, retirou-se com a família, passando por muitas agruras, perdendo dois de seus filhos, um para a fome e outro para o mundo. Ao chegar à capital, passou a viver com a família em campos de concentração, chamados também de ‘currais do governo’, espaço destinado aos retirantes que chegavam fugindo da seca. Esses campos foram criados como medida preventiva contra saques e invasões temidas pelo governo.

A história de Chico Bento mostra as condições do povo nordestino que estava à mercê dos interesses dos proprietários da terra, que decidiam não investir mais na fazenda e deixavam seus empregados à própria sorte, morrendo de fome. Enquanto aqueles que podiam, como a família de Conceição, fechavam a fazenda e iam para a capital esperar o período de estiagem acabar.

Leia o artigo da Folha de S. Paulo, disponível na seção Saiba Mais, e apresente o vídeo para que possam conversar sobre as condições de vida desse povo que teve de migrar para conseguir sobreviver.

Peça para que os alunos façam uma pesquisa sobre as secas ocorridas no Nordeste brasileiro, monte com os alunos um painel com essas notícias, comece por esta nota de jornal dO Povo de 1932:

4ª Etapa: os caminhos de Conceição e Chico Bento se cruzam

Converse com os alunos sobre os dois planos narrativos presentes no romance de Rachel de Queiroz, mostre que a seca atinge Conceição e Chico Bento de maneira diferente: ela convenceu a avó a deixar a fazenda de Quixadá para viver na capital até que a estiagem passasse, assim ambas embarcaram no trem para a capital e, enquanto a avó ocupava-se com afazeres domésticos e rezas, a neta, além do magistério, ajudava as vítimas da seca que chegavam ao campo de concentração. Ele se viu obrigado a deixar sua casa, a pé, até encontrar o compadre que lhe ajudou com passagens de terceira classe até a capital, ao chegar foi encaminhado ao campo de concentração e passou a viver como pedinte, esperando a ração dada pelo governo.

Pergunte a eles se reconhecem que os dois vivem a seca de forma diferente. Mostre que Conceição pertence a uma classe social que consegue passar pela estiagem sem grandes perdas, enquanto Chico perde não só a casa e o trabalho, como sua dignidade de sertanejo, que lida com a fazenda para ganhar a vida.

Leia com os alunos outro trecho do artigo da Folha de S. Paulo (disponível na seção Saiba Mais link 5) sobre a representação dos campos de concentração na obra:

“ESMOLINHA

No romance “O Quinze”, Rachel de Queiroz narra como a heroína Conceição “atravessava muito depressa o campo de concentração”, trêmula ao ouvir a súplica: “Dona, uma esmolinha”. Apertava o passo, “fugindo da promiscuidade e do mau cheiro do acampamento”.

Algo de fato cheirava mal no Ceará, e desde a grande estiagem de 1877, a elite local sentia o odor. Sete anos antes, haviam sido estabelecidas normas de conduta “que identificavam a ‘modernidade fortalezense’ com a ‘civilidade europeia'”, fazendo da capital “um modelo asséptico para todas as cidades cearenses”, escreveu o historiador Tanísio Vieira no artigo “Seca, Disciplina e Urbanização” (também coligido em “Seca”). Uma das proibições fixadas era a de sair às ruas sem “pelo menos camisa e calça, sendo aquela metida por dentro desta”.

Imposições dessa ordem eram a última coisa a passar pela cabeça dos mais de 100 mil sertanejos em retirada da seca de 1877. Fortaleza, então com 30 mil habitantes, viu sua população se multiplicar por três. O governo, por sua parte, redobrou esforços para que a invasão bárbara jamais se repetisse.

Em “A Seca de 1915”, o escritor Rodolfo Teófilo (1853-1932) descreveu o pioneiro campo do Alagadiço, nos arredores da capital, que serviria de piloto para os sete campos dos anos 1930: “Um quadrilátero de 500 metros onde estavam encurralados cerca de 7.000 retirantes”. Lá, quando havia comida, ganhavam “reses que morriam de magras ou do mal [peste]”, cozidas “em algumas dúzias de latas que haviam sido de querosene”.

É importante frisar aos alunos que, apesar desse cenário catastrófico, a narrativa da autora não cede lugar ao lamento, coloca-se em contrapartida como voz dessas agruras como foram, fatos vivenciados por pessoas como Chico Bento e Cordulina, que perderam tudo, menos o sonho de uma vida melhor em outro lugar.

Ao encontrar Chico Bento e a família no campo de concentração, Conceição se compadece da condição deles e pede para cuidar do menino mais novo, seu afilhado, leia com os alunos o trecho em que Cordulina consulta o marido sobre o pedido da moça:

“Mais tarde, já deitados, Cordulina lhe falou, meio hesitante:

– Chico, a comadre Conceição, hoje, cansou de me pedir o Duquinha. Anda com um destino de criar uma criança. E se é de ficar com qualquer um, arranjado por aí, mais vale ficar com este, que é afilhado…

– E o que é que você disse?

– Que por mim não tinha dúvida. Dependia do pai…

– E tu não tem pena de dar teus filhos, que nem gato ou cachorro?

A mulher se justificou amargamente:

– Que é que se é de fazer? O menino cada dia é mais doente… A madrinha quer carregar pra tratar, botar ele bom, fazer dele gente… Se nós pegamos nesta besteira de não dar o mais que arranja é ver morrer, como o outro…

Chico Bento calou-se e ficou olhando uma estrelinha, quase no rebordo do horizonte, que esmaecia aos poucos, ao passo que a lua vermelha, enorme e lustrosa, ia se levantando devagar:

Mas, detrás dele, a mulher insistiu:

– Que foi que você resolveu, Chico?

Sem se voltar, fixando ainda a estrelinha moribunda, ele concordou:

– É… dê… Se é da gente deixar morrer, pra entregar aos urubus, antes botar nas mãos da madrinha, que ao menos faz o enterro…”

Converse com os alunos sobre tom da narrativa, o que eles percebem sobre o sofrimento dessa mãe que já perdera dois filhos? Reforce que as condições em que se encontravam não traziam nenhuma esperança para criar filhos com um bom futuro, nesse sentido, entregar aos cuidados da madrinha era uma saída possível.

Converse com a turma também sobre a diferença entre Cordulina e Conceição, o que as diferencia? Observe se os alunos notam que a primeira tem o marido como referência e a ele segue conforme o destino, enquanto a segunda constrói seu destino ocupando-se em cuidar de suas aulas, seus livros e agora do afilhado que será criado como seu filho.

5ª Etapa: Fechamento

Inicie a aula retomando o enredo da obra de Rachel de Queiroz, mostre como o título O Quinze, apresenta-se como uma metonímia das mazelas ocorridas na seca de 1915. Porém, o romance vai além disso, mostra mundos paralelos de Conceição e Chico Bento.

Retome o painel organizado na terceira etapa e peça para a classe pesquisar sobre a seca no século XIX, será que houve avanços? Como vive o sertanejo neste século? Com essas informações, faça uma linha do tempo com as transformações ocorridas a partir do lançamento do livro, em 1930.

Materiais Relacionados

1. Para conhecer mais sobre Rachel de Queiroz, acesse.

2. Para conhecer mais sobre Rachel de Queiroz, assista ao documentário “Memória política – Rachel de Queiroz”, disponível noo link.

3. Para ouvir a obra O quinze, acesse.

4. Para assistir ao filme baseado na obra O quinze de Rachel de Queiroz, acesse.

5. Texto de ARRIGUCCI JR., Davi. “O sertão em surdina”. In: Folha de S. Paulo. Disponível no link.

6. Texto de BALLOUSSSSIER, Anna Virginia. “Viagem pela memória de campos de concentração no Ceará”. In: Folha de S. Paulo. Disponível no link.

7. Texto de QUEIROZ, Rachel. O Quinze.  57.ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.

Arquivos anexados

  1. O Quinze

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