Conteúdos

● Alienação;
● Humanismo radical;
● Essencialismo tático e estratégico;
● Liberdade humana.

Objetivos

● Entender sobre a visão filosófica fanoniana;
● Aprender as noções de alienação, humanismo radical, essencialismo tático e essencialismo estratégico;
● Problematizar o colonialismo epistêmico;
● Conhecer parte da filosofia diaspórica negra.

Palavras-Chave:

Máscaras brancas. Raça. Negro. Alienação. Humanismo radical. Essencialismo tático. Essencialismo estratégico. Desumanização. Liberdade.

Sugestão de aplicação para o ensino remoto:

As sugestões estão organizadas em tópicos com uma breve explicação de cada recurso.

Jitsi Meet: é um sistema de código aberto e gratuito, com o objetivo de permitir a criação e implementação de soluções seguras para videoconferências via Internet, com áudio, discagem, gravação e transmissão simultânea. Possui capacidade para até 200 pessoas, não há necessidade de criar uma conta, você poderá acessar através do seu navegador  ou fazer o download do aplicativo, disponível para Android e iOS .

Trabalhando com essa ferramenta, é possível:

– Compartilhar sua área de trabalho, apresentações e arquivos;
– Convidar usuários para uma videoconferência por meio de um URL simples e personalizado;
– Editar documentos simultaneamente usando Etherpad (editor de texto on-line de código aberto);
– Trocar mensagens através do bate-papo integrado;
– Visualizar automaticamente o orador ativo ou escolher manualmente o participante que deseja ver na tela;
– Reproduzir um vídeo do YouTube para todos os participantes.

● Gravação de videoaula usando o Power Point: o PPT, já tão utilizado por nós professores para preparamos nossas aulas, também permite a gravação de uma narração para os slides, que tanto nos auxiliam na explanação dos conteúdos. É possível habilitar a função de vídeo enquanto grava, assim, os alunos verão o professor em uma janelinha no canto direito da apresentação. Essa ferramenta é bem simples e eficaz. Confira o guia!

● Envio de Podcast aos alunos: Podcast nada mais é do que um áudio gravado (tipo esses que pelo whatsapp). Podem ser utilizados para narrar uma história, para correção de atividades, revisar ou aprofundar os conteúdos. Para tanto, sugiro o app Anchor, que pode ser baixado em seu celular, muito fácil e simples de utilizar.

● Plataforma Google Classroom: o Classroom permite que você crie uma sala de aula virtual. Esta ação irá gerar um código que será compartilhado com os alunos, para que acessem à sala. Neste ambiente virtual, o/a professor/a poderá criar postagens de avisos, textos, slides do PPT, conteúdos, links de vídeos, roteiros de estudos, atividades, etc. É uma forma bem simples e eficaz de manter a comunicação com os alunos e postar as aulas gravadas, usando os recursos anteriormente mencionados. Confira outros recursos oferecidos pela Google, como a construção de formulários (Google Forms) para serem realizados pelos alunos.

Sugiro aulas com até 30 minutos de duração. Além disso, nem toda aula precisa gerar uma atividade avaliativa, para não sobrecarregar os alunos. As aulas virtuais também podem ser úteis para correção de exercícios e plantões de dúvidas.

Previsão para aplicação:

5 aulas (30 min./aula)

1ª Etapa: Disparadores alienantes

Frantz Fanon (crédito: reprodução)

Neste primeiro momento, serão necessárias três aulas, a primeira será para apresentar o filósofo martiniquense, Frantz Fanon (1925 – 1961), de forma expositiva. Depois, recomendo conhecer os especialistas brasileiros em Fanon, que são o professor Dr. Renato Noguera, o historiador, professor, educador popular e youtuber, Jones Manoel e o professor Dr. Deivison Nkosi, através de vídeos curtos do YouTube. Sugiro que a primeira aula seja realizada de forma ao vivo e on-line através da plataforma Jitsi Meet, onde os conteúdos e problematizações abaixo descritos possam ser organizados em slides (com textos e imagens) e compartilhados com seus alunos através do recurso de compartilhamento de tela do seu computador, disponibilizado na plataforma. Instigue os alunos a participarem da aula, questionando-os sobre o tema, a participação deles pode ser através do chat ou através da habilitação do microfone dos alunos. Ao final da primeira aula oriente os alunos que a segunda e terceira aula será para que assistam aos vídeos sugeridos mais abaixo nesse plano.

Para iniciar a apresentação de Fanon, vale a pena problematizar o ensino de Filosofia ou a cultura ocidental, pois esta possui conteúdo ou dispositivos que podem virar disparadores alienantes ou “máscaras brancas”, servindo para o condicionamento das colonizadas e colonizados, e isso vai ao encontro da tese do filósofo negro.

O ensino de Filosofia não é o único componente curricular que produz essa reação de alienação, apesar de ser a mais ariana de todas as áreas do conhecimento, no entanto, não está sozinha nesse plano do embranquecimento: projeto que existe violentamente em toda cultura colonizada.

Já não é novidade que o continente latino-americano foi saqueado, estuprado e colonizado pelos povos mais imperialistas dos últimos séculos, isto é, os europeus, que deixaram esse corpo ou a América Latina com suas veias abertas, sangrando, devastada e historicamente desorientada. Por isso que trabalhar com Fanon é um ato de resistência ao conhecimento hegemônico ou maior da Filosofia. Apesar de ele ter escrito para o povo antilhano, mesmo assim, são reflexões e noções que podem servir para todos os países que tiveram sua marca de colonização.

É importante salientar que problematizar a colonização não se trata de provocar ódio, exagero ou criar uma avaliação anacrônica contra os europeus. Para isso, vale lembrar o que Fanon disse sobre atiçar violência: “[…] inversamente, o negro que quer embranquecer a raça é tão infeliz quanto aquele que prega ódio ao branco” (FANON, 2008, p.26). Como disse o filósofo, antes de qualquer coisa, “é preciso superar o ódio”. A ideia de trabalhar com o filósofo segue nesta direção, isto é, de combater o racismo e superar o ódio ao mesmo tempo. Para Fanon, em sua obra Pele negra, máscaras brancas, colonizadas e colonizados buscam sobreviver ou atingir seus objetivos fazendo o teatro das máscaras brancas, vale dizer que ele escreveu para seu povo, os martinicanos, na intenção de chamar a atenção deles para essa alienação que existe entre o/a negro/a colonizado/a, que busca suas máscaras como tentativa de sobreviver ou ser aceito diante da sociedade racista. Mas quando os colonizados descobrem que nunca serão aceitos, diante disso, vem o ódio ao mundo dos brancos e a sua cultura colonizada.

Para comprovar a visão fanoniana, basta analisar a quantidade de negras e negros que não reconhecem sua identidade política, ou seja, sua cor ou sua etnia. Por isso que podemos pensar o filósofo Fanon em nossa realidade, pois análises assim são provas irrefutáveis de que há muitas máscaras brancas presentes na cultura do povo brasileiro. Diante dessa problemática, a professora ou o professor poderá lançar a pergunta que Fanon colocou na introdução da obra aqui citada. É importante mencionar que na segunda etapa será retomado esse problema, através da proposta de leitura do texto filosófico de Fanon.

Estereótipos desumanizadores dos negros, criados e disseminados pela cultura colonizadora – Capa do livro Pele Negra, Máscaras brancas, de Fanon (crédito: reprodução)

“O que quer o homem negro?” (FANON, 2008, p. 26). O que quer o colonizado?

Para Fanon, ele quer ser um ser humano, pois sendo assim se torna civilizado, que também é sinônimo de ser branco. Logo, é branco que ele tentará ser. Para resistir em todos os espaços, colonizadas e colonizados precisam se adequar nessa saída de embranquecimento, mas, segundo o filósofo, é uma armadilha para o nada ou para um não-ser, esse seria um indivíduo imerso na cultura alheia e alheio a sua própria cultura, sua identidade, sua história. O sujeito alienado faz isso através das máscaras brancas, pois enxerga nelas a única saída de sua negritude marginalizada, ou seja, esses disfarces são disparadores para alienação, que é uma vida definida pela prisão, pelo servilismo, pela prostração, pelo desespero, pelo medo, pelo tremor e pela escravidão. Para entendermos mais da filosofia de Fanon, recomendo que no segundo momento a/o professor/a passe ou indique os três vídeos abaixo. Neles, podemos compreender a visão de máscaras brancas, alienação, humanismo radical, essencialismo tático, essencialismo estratégico e de liberdade. Por isso, é importante que a turma anote as explicações, para que possa responder o questionário proposto como atividade. Vejam:

[UBUTV] Frantz Fanon e a dialética da violência, com Renato Noguera (8:56)

Humanismo Radical de Frantz Fanon (19:12)

Introdução ao pensamento de Frantz Fanon – Deivison Nkosi (CyberQuilombo) (14:32)

2ª Etapa: Leitura de trechos da introdução da obra Pele negra, máscaras brancas

O ensino de Filosofia e Sociologia é muitas vezes constituído através da leitura das obras dos filósofos, por isso, é importante apresentar aos alunos pelo menos alguns trechos, assim é possível introduzi-los nos textos filosóficos e sociológicos. Vale dizer que isto depende do interesse de cada sala, porque a/o professor/a pode solicitar uma leitura mais ampla. Aqui, sugerimos a leitura de alguns trechos de Pele negra, máscaras brancas. A obra completa se encontra na Internet, o site do Geledés disponibilizou o PDF do livro do filósofo. Vejamos:

Frantz Fanon: Pele negra, máscaras brancas – obra disponível pelo blog Geledés

Introdução

Falo de milhões de homens em quem deliberadamente inculcaram o medo, o complexo de inferioridade, o tremor, a prostração, o desespero, o servilismo. (Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo).

A explosão não vai acontecer hoje. Ainda é muito cedo… ou tarde demais.
Não venho armado de verdades decisivas.
Minha consciência não é dotada de fulgurâncias essenciais.
Entretanto, com toda a serenidade, penso que é bom que certas coisas sejam ditas.
Essas coisas, vou dizê-las, não gritá-las. Pois há muito tempo que o grito não faz mais parte de minha vida. Faz tanto tempo…
Por que escrever esta obra? Ninguém a solicitou.
E muito menos aqueles a quem ela se destina.
E então? Então, calmamente, respondo que há imbecis demais neste mundo. E já que o digo, vou tentar
prová-lo.
Em direção a um novo humanismo…
À compreensão dos homens…
Nossos irmãos de cor…
Creio em ti, homem…
O preconceito de raça…
Compreender e amar…
De todos os lados, sou assediado por dezenas e centenas de páginas que tentam impor-se a mim. Entretanto, uma só linha seria suficiente. Uma única resposta a dar e o problema do negro seria destituído de sua importância.
Que quer o homem?
Que quer o homem negro?
Mesmo expondo-me ao ressentimento de meus irmãos de cor, direi que o negro não é um homem.
Há uma zona de não-ser, uma região extraordinariamente estéril e árida, uma rampa essencialmente despojada, onde um autêntico ressurgimento pode acontecer. A maioria dos negros não desfruta do benefício de realizar esta descida aos verdadeiros Infernos.
O homem não é apenas possibilidade de recomeço, de negação. Se é verdade que a consciência é atividade transcendental, devemos saber também que essa transcendência é assolada pelo problema do amor e da compreensão. O homem é um SIM vibrando com as harmonias cósmicas. Desenraizado, disperso, confuso, condenado a ver se dissolverem, uma após as outras, as verdades que elaborou, é obrigado a deixar de projetar no mundo uma antinomia que lhe é inerente.
O negro é um homem negro; isto quer dizer que, devido a uma série de aberrações afetivas, ele se estabeleceu no seio de um universo de onde será preciso retirá-lo.
O problema é muito importante. Pretendemos, nada mais nada menos, liberar o homem de cor de si próprio. Avançaremos lentamente, pois existem dois campos: o branco e o negro.
Tenazmente, questionaremos as duas metafísicas e veremos que elas são frequentemente muito destrutivas.
Não sentiremos nenhuma piedade dos antigos governantes, dos antigos missionários. Para nós, aquele que adora o preto é tão “doente” quanto aquele que o execra.
Inversamente, o negro que quer embranquecer a raça é tão infeliz quanto aquele que prega o ódio ao branco.
Em termos absolutos, o negro não é mais amável do que o tcheco, na verdade trata-se de deixar o homem livre.
Este livro deveria ter sido escrito há três anos… Mas então as verdades nos queimavam. Hoje elas podem ser ditas sem excitação. Essas verdades não precisam ser jogadas na cara dos homens. Elas não pretendem entusiasmar. Nós desconfiamos do entusiasmo. Cada vez que o entusiasmo aflorou em algum lugar, anunciou o fogo, a fome, a miséria… E também o desprezo pelo homem.
O entusiasmo é, por excelência, a arma dos impotentes. Daqueles que esquentam o ferro para malhá-lo imediatamente. Nós pretendemos aquecer a carcaça do homem e deixá-lo livre. Talvez assim cheguemos a este resultado: o Homem mantendo o fogo por autocombustão.
O Homem liberado do trampolim constituído pela resistência dos outros, ferindo na própria carne para encontrar um sentido para si.
Apenas alguns dos nossos leitores poderão avaliar as dificuldades que encontramos na redação deste livro.
Em uma época em que a dúvida cética tomou conta do mundo, em que, segundo os dizeres de um bando de cínicos, não é mais possível distinguir o senso do contra-senso, torna-se complicado descer a um nível onde as categorias de senso e contra-senso ainda não são utilizadas.
O negro quer ser branco. O branco incita-se a assumir a condição de ser humano.
Veremos, ao longo desta obra, elaborar-se uma tentativa de compreensão da relação entre o negro e o branco.
O branco está fechado na sua brancura.
O negro na sua negrura.
Tentaremos determinar as tendências desse duplo narcisismo e as motivações que ele implica.
No início de nossas reflexões, pareceu-nos inoportuno explicitar as conclusões que serão apresentadas em seguida.
Nossos esforços foram guiados apenas pela preocupação de por fim a um círculo vicioso.
Mas também é um fato: alguns negros querem, custe o que custar, demonstrar aos brancos a riqueza do seu pensamento, a potência respeitável do seu espírito.
Como sair do impasse?
Há pouco utilizamos o termo narcisismo. Na verdade, pensamos que só uma interpretação psicanalítica do problema negro pode revelar as anomalias afetivas responsáveis pela estrutura dos complexos. Trabalhamos para a dissolução total desse universo mórbido. Estimamos que o indivíduo deve tender ao universalismo inerente à condição humana. Ao pretendermos isto, pensamos indiferentemente em homens como Gobineau ou em mulheres como Mayotte Capécia. Mas, para se chegar a esta solução, é urgente a neutralização de uma série de taras, sequelas do período infantil.
A infelicidade do homem, já dizia Nietzsche, é ter sido criança. Entretanto não podemos esquecer, como lembra Charles Odier, que o destino do neurótico está nas suas próprias mãos.
Por mais dolorosa que possa ser esta constatação, somos obrigados a fazê-la: para o negro, há apenas um destino. E ele é branco. (FANON, 2008, p. 25-28)

Para essa etapa, sugiro a gravação prévia de um Podcast (veja qual recurso usar e como fazer anteriormente neste plano) por você, professor/a. Você poderá narrar o texto descrito anteriormente, inserir músicas ao fundo ou até mesmo pedir para alguém de casa gravar pequenos trechos com você, mudando o tom da voz. Compartilhe o episódio gravado com os aluno através da plataforma Google Classroom. Você ainda poderá pedir aos alunos que abriram o PDF contendo a obra completa de Fanon supra mencionada, escolham um trecho e gravem seus próprios Podcast, que podem ser utilizados no processo de avaliação e divulgados nas mídias sociais da escola, interagindo e integrando toda comunidade escolar e familiar.

3ª Etapa: Atividade

Com base no percurso feito até aqui, o/a professor/a poderá solicitar aos alunos que respondam às questões abaixo, no intuito de compreenderem os problemas da filosofia de Frantz Fanon. Tal questionário pode ser montado e disponibilizado através dos recursos Google Forms e Google Classroom, respectivamente. Além disso, temos algumas citações do professor Jones Manoel, o qual as disponibilizou em sua conta do Twitter, que podem servir de auxílio para o/a professor/a que utilizar esta proposta de ensino.

Questionário:

1. O que são as máscaras brancas? O que seria alienação?
2. O que seria essencialismo tático e essencialismo estratégico?
3. O que seria o humanismo revolucionário ou radical?
4. O humanismo de Fanon pode ser comparado com a visão humanista de Morgan Freeman, a qual ele diz, “somos todos humanos”? Existe ou não diferença na visão dos dois? Explique.

O Humananismo Radical em Frantz Fanon (crédito: reprodução/ Jones Manoel)
O Humanismo radical de Frantz Fanon (crédito: reprodução/ Jones Manoel)

Plano de aula elaborado pelo Professor Mestre Fabiano Bitencourt Monge

Adaptação para o ensino remoto elaborada pela Prof.ª Dr.ª Nathalie Lousan

Materiais Relacionados

1. FANON, Frantz. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005.

2. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. 1ª ed. Salvador: EDUFBA,2008.

3. FAUSTINO, Deivison Mendes. “Por que Fanon? Por que agora?”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. São Carlos. UFSCar, 2015.

4. Frantz Fanon: Pele negra, máscaras brancas.

5. [UBUTV] Frantz Fanon e a dialética da violência, com Renato Noguera (8:56)

6. Humanismo Radical, de Frantz Fanon (19:12)

7. Introdução ao pensamento de Frantz Fanon – Deivison Nkosi (14:32)

8. Documentário: Pele negra, máscaras brancas

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