Conteúdos

Este plano de aula discorre sobre o que foi o Massacre de Eldorado dos Carajás, traz a importância da memória em relação aos acontecimentos históricos e reflete sobre os motivos para os conflitos por terra no território brasileiro.

● Massacre de Eldorado dos Carajás;
● Reforma Agrária; e
● Memória histórica.

Objetivos

● Compreender o que foi o Massacre de Eldorado dos Carajás;
● Identificar os motivos para os conflitos por terra no território brasileiro; e
● Analisar a importância da memória em relação aos acontecimentos históricos.

Ensine também:

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Palavras-chave:

Massacre de Eldorado dos Carajás. Memória. Conflitos por terra.

Sugestão de aplicação para o ensino remoto:

As sugestões estão organizadas em tópicos com uma breve explicação de cada recurso.
Jitsi Meet: é um sistema de código aberto e gratuito, com o objetivo de permitir a criação e implementação de soluções seguras para videoconferências via Internet, com áudio, discagem, gravação e transmissão simultânea. Possui capacidade para até 200 pessoas, não há necessidade de criar uma conta, você poderá acessar através do seu navegador ou fazer o download do aplicativo, disponível para Android e iOS.

Trabalhando com essa ferramenta, é possível:

– Compartilhar sua área de trabalho, apresentações e arquivos;
– Convidar usuários para uma videoconferência por meio de um URL simples e personalizado;
– Editar documentos simultaneamente usando Etherpad (editor de texto on-line de código aberto);
– Trocar mensagens através do bate-papo integrado;
– Visualizar automaticamente o orador ativo ou escolher manualmente o participante que deseja ver na tela;
– Reproduzir um vídeo do YouTube para todos os participantes.

● Gravação de videoaula usando o Power Point: o PPT, já tão utilizado por nós professores para preparamos nossas aulas, também permite a gravação de uma narração para os slides, que tanto nos auxiliam na explanação dos conteúdos. É possível habilitar a função de vídeo enquanto grava, assim, os alunos verão o professor em uma janelinha no canto direito da apresentação. Essa ferramenta é bem simples e eficaz. Veja um guia.

● Envio de Podcast aos alunos: podcast nada mais é do que um áudio gravado (como os enviados pelo Whatsapp). Podem ser utilizados para narrar uma história, para correção de atividades, revisar ou aprofundar os conteúdos. Para tanto, sugiro o app Anchor, que pode ser baixado no seu celular. Ele é muito fácil e simples de utilizar.

● Plataforma Google Classroom: permite a criação de uma sala de aula virtual. Essa ação irá gerar um código que será compartilhado com os alunos, para que acessem a sala. Nesse ambiente virtual, o/a professor/a poderá criar postagens de avisos, textos, slides do PPT, conteúdos, links de vídeos, roteiros de estudos, atividades, etc. É uma forma bem simples e eficaz de manter a comunicação com os alunos e postar as aulas gravadas, usando os recursos anteriormente mencionados. Confira outros recursos oferecidos pela Google, como a construção de formulários (Google Forms) para serem realizados pelos alunos.

Sugerimos aulas com até 30 minutos de duração. Além disso, nem toda aula precisa gerar uma atividade avaliativa, para não sobrecarregar os alunos. As aulas virtuais também podem ser úteis para correção de exercícios e plantões de dúvidas.

Previsão para aplicação:

2 aulas (30 minutos).

Proposta de trabalho:

Para os conteúdos trazidos nas etapas 1 a 3, sugerimos o agendamento de 2 aulas on-line síncronas com os alunos, por meio da plataforma Jitsi Meet, organizando os conteúdos em slides e compartilhando-os com os alunos, bem como os vídeos sugeridos, fazendo uso do recurso do compartilhamento de tela do seu computador, disponível na plataforma sugerida. Conduza as aulas de forma leve e tranquila, estimulando a participação dos alunos, seja pelo chat da plataforma ou abrindo o microfone. A criação de uma sala da aula virtual, usando o recurso Google Classroom, também é um excelente caminho para o compartilhamento de materiais didáticos com os alunos, como os slides preparados por você e links dos vídeos sugeridos, bem como para realizar atividades em diferentes formatos.

1ª Etapa: Contextualização

Poema 17 – Carlos Pronzato
Abertas
Na imensidão dos campos
Feridas
E mortes
Sem terra e sem justiça
Como o sangue
Derramando
Do vermelho das bandeiras

Marcas indeléveis
Nas estradas
Ocupadas pelas marchas
Esparzidas como apelos
Para a luta

Gritam
Desde os olhos
Camponeses desarmados
Detidos nos jagunços
Que disparam
O sangrento latifúndio

Gritam
Seu grito desgarrado
A espera do eco
Da memória
E da justiça restituída.

O sangue jorra – Antony Josué Corrêa
(…)
Assim como os troncos das castanheiras,
Postos de pé para que sustentem a lembrança
E persistam dia a dia, como se insistindo para que não esqueçamos,
Eu vos peço: Não esqueçam!
Estamos de pé, pelos que tombaram,
Assassinados friamente em El Dourado dos Carajás a 20 anos,
Levantamos!!!!
Levantamos porque escolhemos não calar,
Podem tentar nos derrubar,
Podem até nos atacar e ferir,
Alvejar, e dilacerar com tiros nosso peito,
Não importa, pois o que levantamos nos transcende,
É a vida que alimenta a luta,
E a luta alimenta a vida!
Falar de reforma agrária,
É cômodo,
Discurso e debate, mesmo que acalorados,
São essenciais, mas cômodos,
Mas não se esqueçam, daquelxs que acreditam no que vocês proferem,
A ponto de darem suas vidas pela causa!
Então, o sentido não pode ser meramente uma delimitação acadêmica,
E isso precisa ser sentido!!
Estão ouvindo isso?
Calem-se por um instante, e ouçam…
É a vida que está pulsando e mantém a luta.
É o sentido…
E vocês sabem onde ela vem?
Do que sangue que jorra no asfalto,
Do sangue que cai sobre a terra,
E verte pelo peito aberto por um projétil ardil.
Que sentido isso tem para vocês?
Eis a mística,
Não esquecer…o sentido,
Pois é ao esquecer este sentido do pelo que vale morrer,
Que o sistema nos torna alienados,
Não animais, mas mero objetos.
Resistamos!!! Lembremo-nos!!

Professor/a, esta etapa tem como objetivo introduzir o tema para os alunos. Apresente os poemas acima e seus autores. O primeiro é “Poema 17”, que foi escrito pelo cineasta e poeta Carlos Pronzato, e é um dos 19 poemas escritos em homenagem aos 19 mortos do Massacre de Eldorado dos Carajás. O segundo é um trecho do poema “O sangue jorra”, de Antony Josué Corrêa, publicado no livro “Versando Rebeldia”, coletânea organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que trata da importância da memória de acontecimentos como o de Eldorado dos Carajás.

Discuta os textos com a turma. Para direcionar a discussão, você pode partir de questionamentos como:
• O que é reforma agrária? Por que os trabalhadores rurais a reivindicam?
• Como é feita a distribuição de terras no Brasil?
• Você sabe como se dão os conflitos por terra no Brasil?
• Qual a importância de lembrarmos de eventos como o Massacre do Eldorado dos Carajás?

Aproveite a discussão para identificar os conhecimentos prévios da turma e apresentar o tema que será trabalhado.

O Massacre de Eldorado dos Carajás é um marco da história brasileira, tendo ocorrido no dia 17 de abril de 1996, data que se tornou o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Enfatize que o conflito está ligado à má distribuição de terras no Brasil e às reivindicações pela reforma agrária.

A questão da distribuição de terras no Brasil remonta ao período colonial, com a divisão das capitanias hereditárias e a concessão de sesmarias. Em 1850, durante o período imperial, D. Pedro II assinou a Lei de Terras, consolidando a divisão das terras brasileiras em grandes latifúndios. Desde esse período, a reforma agrária vem sendo discutida no Brasil.

Em 1982, foi fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), formado por pequenos agricultores, meeiros, migrantes e outros trabalhadores rurais, com o objetivo de reivindicar uma melhor distribuição fundiária. O Massacre de Eldorado dos Carajás faz parte dessa história: ocorreu em 1996, durante uma manifestação de integrantes do MST no Pará, que reivindicavam a desapropriação da Fazenda Macaxeira.

2ª Etapa: Problematização e aprofundamento

Professor/a, nesta etapa você irá aprofundar com os/as alunos/as o que foi o Massacre de Eldorado dos Carajás.

• Contexto: O Massacre de Eldorado dos Carajás ocorreu no dia 17 de abril de 1996, na “curva do S” da BR-155, município de Eldorado dos Carajás.

Eldorado dos Carajás
Localização de Eldorado do Carajás no Pará. (crédito: reprodução)

Antecedentes: Em setembro de 1995, cerca de 3.500 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra criaram um acampamento próximo à Fazenda Macaxeira, na margem da rodovia PA-275. Segundo os trabalhadores, a fazenda estava ociosa e não cumpria sua função social. Desde a Constituição de 1988, a lei brasileira prevê a desapropriação de terras ociosas, com base no Artigo 184, que assim diz:
“Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com suas cláusulas de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de emissão, e cuja utilização será definida em lei”.

Após diversas negociações sem conclusão, o grupo decidiu marchar até Belém, buscando pressionar o governo. A caminhada se iniciou no dia 10 de abril de 1996.

Desenvolvimento: No dia 17 de abril de 1996, as 1.500 pessoas que participavam da marcha e estavam acampadas na chamada “curva do S”, no município de Eldorado dos Carajás, foram surpreendidas pela Polícia Militar, que atuou a mando do governador Almir Gabriel. A investida contou com 155 policiais e teve um desfecho trágico: 79 pessoas ficaram feridas, 19 pessoas foram mortas no local e 2 pessoas faleceram a caminho do hospital. Dos 155 policiais envolvidos, apenas os dois comandantes da operação foram julgados e punidos. O Coronel Pantoja morreu em 2020 e o Major Oliveira cumpre pena em regime domiciliar. Em memória das vítimas do massacre, o dia 17 de abril se tornou o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. No local do massacre, foi erguido o Monumento das Castanheiras Mortas, para homenagear os mortos e servir como lembrança do episódio.

Eldorado dos Carajás
O monumento das castanheiras queimadas (crédito: reprodução)

Professor/a, após a exposição, retome os poemas lidos no início da atividade, questionando os alunos sobre a importância da memória em casos como o do Massacre de Eldorado dos Carajás:

• Qual a importância de lembrar esse episódio?
• O que poderia ter sido feito para evitar o massacre?

3ª Etapa: Sintetização

Professor/a, nesta etapa os/as alunos/as deverão desenvolver uma atividade que sintetize os conhecimentos adquiridos durante a aula. Abaixo apresentamos algumas sugestões:

1. Memorial:
Com base nos poemas lidos e no conteúdo apresentado, peça para os alunos escreverem um pequeno texto justificando a importância da memória em casos de violência como o do Massacre de Eldorado dos Carajás. Oriente-os sobre a continuidade dos conflitos em relação à distribuição de terras desde o período colonial e ao papel da população em movimentos de resistência e contestação. O material produzido pelos alunos pode ser entregue a você pelo Google Classroom.

2. Simulação das negociações:
Divida a turma em dois grupos, (no caso de ensino remoto, isso pode ser feito em uma aula síncrona pelo Jitsi Meet), de forma que um represente o Estado e o outro o MST, e simulem uma mesa de negociação sobre as terras da Fazenda Macaxeira. Incentive-os a apresentarem argumentos sobre a desapropriação ou não do terreno: As terras são ociosas? Os trabalhadores têm direito a ela? E os proprietários? Procurem soluções não violentas para esse impasse.

Referências:

Massacre de Eldorado do Carajás completa 24 anos: “Um dia para não esquecer”. Acesso em 14 de março de 2021.
A formação da propriedade e a concentração de terras no Brasil. Acesso em 14 de março de 2021.
Há 170 anos, Lei de Terras oficializou opção do Brasil pelos latifúndios. Fonte: Agência Senado.  Acesso em 14 de março de 2021.
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Acesso em: 14 de março de 2021.

Plano de aula elaborado pela Professora Júlia Bittencourt.
Adaptação para o ensino remoto elaborada pela Prof.ª Dr.ª Nathalie Lousan.

Materiais Relacionados

Documentário “Curva do S – O relato de um massacre. [Parte 1]
Acesso em: 25 de maio de 2021.

Documentário “Curva do S – O relato de um massacre. [Parte 2]
Acesso em: 25 de maio de 2021.

Lei de Terras de 1850
Acesso em: 25 de maio de 2021.

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