Conteúdos
O liberalismo econômico e político do século XIX: o lugar social de produção de O Capital.. Os conceitos-chaves: mercadoria, valor de uso, valor de troca fetiche da mercadoria, trabalho, mais-valia e capital.
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Objetivos
Compreender o contexto histórico, político, econômico e social de produção de O Capital.
Compreender alguns conceitos da obra de Karl Marx: mercadoria, valor de uso, valor de troca fetiche da mercadoria, trabalho, mais-valia e capital.
Identificar validades e apropriações dos conceitos-chaves da obra O Capital na realidade cotidiana.
1ª Etapa: Procedimentos de Leitura
Primeiramente, peça aos alunos que leiam com atenção o texto O Capital [LINK 2 da área Para organizar seu trabalho e saber mais], grifando as informações que eles julgam importantes e, se necessário, atribuindo conceitos-chaves/títulos aos parágrafos. Oriente-os para que pesquisem, na internet ou em dicionários, as palavras desconhecidas, ou mesmo conceitos, e que anotem os significados encontrados no caderno/no computador, criando um vocabulário do texto.
O texto aborda as condições sociais de produção da obra máxima de Karl Marx, destacando, em linhas gerais, os objetivos do autor ao analisar o capitalismo e cita alguns conceitos-chaves presentes em O Capital, fundamentais para compreender a crítica de Marx à economia política.
2ª Etapa: Exibição de Vídeo: Contextualização Histórica
Depois da leitura atenta do texto e dos registros individuais, exiba o vídeo Encontro do Século: Karl Marx e Adam Smith [LINK 4] e solicite aos alunos que registrem as informações referentes ao liberalismo político e econômico apresentado e defendido por Adam Smith, já que é dentro desse contexto histórico, político, econômico e social que Karl Marx irá produzir a obra O Capital.
3ª Etapa: Pesquisando Conceitos/Construindo Relações com a Realidade
Depois da leitura atenta do texto e das anotações do vídeo, divida a sala em agrupamentos produtivos, com um mínimo de quatro e um máximo de seis alunos. Defina um conceito-chave da teoria marxiana presente em O Capital para cada grupo, assim como funções específicas para cada membro, respaldando as características pessoais e potencializando, assim, o trabalho colaborativo, como exemplo:
Conceitos-Chaves:
• GRUPO I: mercadoria;
• GRUPO II: valor de uso e valor de troca;
• GRUPO III: fetiche da mercadoria;
• GRUPO IV: trabalho;
• GRUPO V: mais-valia.
• GRUPO VI: capital;
Funções dentro dos agrupamentos
As definições pelo professor quanto às funções de cada membro dentro do grupo são extremamente importantes, uma vez que ao conhecer seus alunos, o professor conseguirá identificar e potencializar as características individuais, já que nem sempre os grupos formados têm maturidade e/ou autonomia o suficiente para fazer tais decisões. Além disso, caberá também ao professor definir momentos de diálogo com os grupos, para fazer as mediações necessárias quanto às escolhas e encaminhamentos tomados. Caso seja necessário, delimite o tempo de apresentação para que os alunos possam se organizar previamente.
Importante ressaltar aos grupos de que a pesquisa visa buscar os significados dos conceitos para Karl Marx. Com a mediação do professor, os alunos poderão ler trechos da própria obra O Capital, a fim de investigar, no próprio autor, as definições de tais conceitos acima elencados.
O que é capital para Marx? Qual a definição de mercadoria apresentado pelo autor em O Capital? O que seria o fetiche da mercadoria? Essas perguntas são alguns exemplos de questões norteadoras que poderão iluminar as pesquisas e discussões dos alunos sobre os temas/conceitos selecionados.
4ª Etapa: Apresentações e Aula Expositiva Dialogada
Trabalhos finalizados, organize as apresentações dos grupos, respeitando a ordem estabelecida: grupos I, II, III, IV, V e VI. Ao final de cada apresentação – feita pelos relatores -, proponha a discussão e a avaliação do trabalho apresentado (definição do conceito, divisão e etapas de trabalho e produto final), a partir da leitura compartilhada de alguns trechos selecionados da obra O Capital, que exprimam os conceitos trabalhados, explicando-os e os relacionando. Caberá aos demais alunos da sala avaliarem se os trabalhos apresentados estão coerentes com as definições conceituais propostas por Marx. Dessa forma, todos avaliam o seu próprio trabalho e o trabalho dos demais grupos. É nesse momento também que os alunos deverão levantar as dúvidas, a fim de solucioná-las.
Lembre-se de que, dependendo dos objetivos da sequência didática, outros conceitos precisarão ser mobilizados, ao apresentar os trechos de O Capital, tais como força de trabalho, meios de produção, dinheiro, trabalho alienado etc. Isso poderá ser feito pelo professor em aulas expositivas ou atribuindo esta tarefa aos grupos.
Sugestão de trechos a serem usados pelos alunos para avaliarem as apresentações
Mercadoria
“A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.” [Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]
Valor de uso
“O casaco é um valor de uso que satisfaz a uma necessidade específica. Para produzi-lo, precisa-se de determinada espécie de atividade produtiva. Ela é determinada por seu fim, modo de operar, objeto, meios e resultado. O trabalho cuja utilidade representa-se, assim, no valor de uso de seu produto ou no fato de que seu produto é um valor de uso chamamos, em resumo, trabalho útil. Sob esse ponto de vista é considerado sempre em relação a seu efeito útil.” [Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]
Valor de troca
“As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de valores de uso ou de corpos de mercadorias, como ferro, linho, trigo etc. Essa é a sua forma natural com que estamos habituados. Elas são só mercadorias, entretanto, devido à sua duplicidade, objetos de uso e simultaneamente portadores de valor. Elas aparecem, por isso, como mercadoria ou possuem a forma de mercadoria apenas na medida em que possuem forma dupla, forma natural e forma de valor.” [Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]
Fetichismo da mercadoria
"O caráter misterioso da forma mercadoria reside em que projeta diante dos homens o caráter social do trabalho destes como se fosse o caráter material dos próprios produtos do seu trabalho, um dom natural destes objetos, como se a relação social que existe entre os produtores e o trabalho coletivo da sociedade fosse uma relação social estabelecida entre os mesmos objetos, à margem dos seus produtores. (…) O que aparece aos olhos dos homens como sendo uma relação fantasmagórica de uma relação entre objetos materiais não é mais do que uma relação social estabelecida entre os mesmos homens. (…) As relações sociais que se estabelecem entre seus trabalhos aparecem (…) não como relações diretamente sociais das pessoas em seus trabalhos, mas como relações materiais entre pessoas e relações sociais entre coisas."
[Marx, O Capital, Capítulo A Mercadoria, Volume I, Capítulo I]
Trabalho
“Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. Não se trata aqui das formas instintivas, animais, de trabalho. (…) Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho. E isto é tanto mais necessário quanto menos se sinta o trabalhador atraído pelo conteúdo e pelo método de execução de sua tarefa, que lhe oferece por isso menos possibilidade de fruir da aplicação das suas próprias forças físicas e espirituais.” [Marx, O Capital, Capítulo Processo de Trabalho e Processo de Produção de Mais Valia, Volume I, Capítulo VII]
Observação: A definição do conceito trabalho alienado foi detidamente explorada Manuscritos Econômico-Filosóficos, publicado por Karl Marx em 1844. Este conceito pode ser explicado a partir da charge Frank e Ernest – Thaves [12] e do trecho abaixo:
“(…) o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer, não pertence à sua natureza; portanto, ele não se afirma no trabalho, mas nega-se a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz, não desenvolve livremente as energias físicas e mentais, mas esgota-se fisicamente e arruína o espírito. Por conseguinte, o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades. O seu caráter estranho ressalta claramente do fato de se fugir do trabalho como da peste, logo que não exista nenhuma compulsão física ou de qualquer outro tipo. O trabalho externo, o trabalho em que o homem se aliena, é um trabalho de sacrifício de si mesmo, de mortificação. Finalmente, a exterioridade do trabalho para o trabalhador transparece no fato de que ele não é o seu trabalho, mas o de outro, no fato de que não lhe pertence, de que no trabalho ele não pertence a si mesmo, mas a outro. […] Pertence a outro e é a perda de si mesmo.” [MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1964, p. 162]
Mais valia
“O produto, de propriedade do capitalista, é um valor-de-uso, fios, calçados etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores-de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor-de-troca. Tem dois objetivos. Primeiro, quer produzir um valor-de-uso, que tenha um valor-de-troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no mercado. Além de um valor-de-uso quer produzir mercadoria, além de valor-de-uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente (mais valia).”
[Marx, O Capital, Capítulo Processo de Trabalho e Processo de Produção de Mais Valia, Volume I, Capítulo VII]
Capital
“A circulação simples de mercadorias — a venda para a compra — serve de meio para um objetivo final que está fora da circulação, a aproriação de valores de uso, a satisfação de necessidades. A circulação do dinheiro como capital é, pelo contrário, uma finalidade em si mesma, pois a valorização do valor só existe dentro desse movimento sempre renovado. Por isso o movimento do capital é insaciável. (…) Como portador consciente desse movimento, o possuidor do dinheiro torna-se capitalista. Sua pessoa, ou melhor, seu bolso, é o ponto de partida e o ponto de retorno do dinheiro. O conteúdo objetivo daquela circulação — a valorização do valor — é sua meta subjetiva, e só enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata é o único motive indutor de suas operações, ele funciona como capitalista ou capital personificado, dotado de vontade e consciência. O valor de uso nunca deve ser tratado, portanto, como meta imediata do capitalismo. Tampouco o lucro isolado, mas apenas o incessante movimento do ganho.” [Marx, O Capital, Capítulo A Transformação do Dinheiro em Capital, Volume I, Capítulo VII]
5ª Etapa: Sistematização do conteúdo
Depois das apresentações dos alunos, da exposição e explicação dos trechos da obra O Capital, exiba os vídeos Mais Valia, Fetichismo da Mercadoria e Tempos Modernos. Esses vídeos tornam esses conceitos abstratos em algo mais concreto, permitindo fazer relações com as diversas formas em que, hoje, o capital, a mercadoria, o fetichismo etc. se manifesta e se integra ao sistema capitalista de produção.
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