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História, memória e emoção

Passados mais de 500 anos da chegada dos portugueses à América – e, na sequência, ao Brasil – parece possível tomar posições menos parciais acerca do que ocorreu.&a

Objetivos

• Discutir os efeitos da ditadura militar no Brasil

• Relacionar assuntos do presente com a evolução histórica brasileira
• Exercitar o pensamento crítico e a tomada de posição acerca de questões contemporâneas
• Identificar no universo pessoal aspectos do processo histórico
• Desenvolver a argumentação

1ª Etapa: Ditadura Militar - História, memória e emoção

            Passados mais de 500 anos da chegada dos portugueses à América – e, na sequência, ao Brasil – parece possível tomar posições menos parciais acerca do que ocorreu. Mesmo sabendo que a história pode sempre ser recontada (a cada nova descoberta documental e arqueológica; a cada nova interpretação dos historiadores), ainda assim a emoção é paulatinamente substituída por uma objetividade possível, pela comprovação e pelo desapego sentimental de uma época. São nossos parentes muitíssimo distantes que tiveram alguma participação no contexto da colonização – e talvez por isso a história se pareça mais com a “estória” contada, a narrativa imaginativa. História que não nos afeta, senão em uma longa cadeia de relações.

 

Mas contar a história de uma crise política que faz somente 50 aniversários é bastante diferente. Ainda mais quando o regime instalado perdurou por outros vinte anos e foi marcado por atos violentos e atentatórios à vida e à liberdade de cidadãos brasileiros. À conhecida frase “as feridas permanecem abertas” atribuímos valor de verdade quando pensamos na ditadura militar, pois testemunhas ainda estão vivas: vítimas e algozes.

 

Os relatos trazem lágrimas, amargor e decepção.  Nossos músicos ainda cantam as mesmas músicas de revolução, nossos exilados estão vivos entre nós, aguardamos a volta ou o paradeiro dos desaparecidos  e o mundo das justificativas ainda é debatido nos meios de comunicação. Os documentos não foram totalmente revelados e parentes ainda buscam respostas (por vezes ossadas) de seu passado recente.

 

Da mesma angústia participam os familiares dos envolvidos de ambos os lados:  militares e militantes, direta e esquerda, revolucionários de um lado ou de outro, golpistas de ambas as falanges.

 

E ainda restam entre nós os indiferentes, aqueles que lembram do período somente por conta de jornais, mas que não se sentiram afetados diretamente. Passaram pelo período somente como audiência desinteressada.

 

Neste sentido é difícil até mesmo escolher as palavras sem evidenciar alguma posição. Afinal, golpe ou revolução de 1964? Instaurou-se uma ditadura feroz ou uma forte reação ao avanço galopante do comunismo? Surgira um estado de exceção ou fora constituído um regime de proteção ao estado? Perguntas que revelam posições políticas históricas e que ainda se encontram em debate na sociedade.

2ª Etapa: Democracia em crise e o avançar de um processo

Entender a mudança de um regime político é entender seus conceitos e também o contexto em que ele se inseriu. O que é uma ditadura e o que é uma democracia? O que ocorrera com o Brasil nos anos antecedentes ao fim do primeiro trimestre de 1964? Quem foram os atores daquela narrativa? O que é viver sob o regime em comparação com a vida atual?

 

É inegável que a mudança radical atingiu de morte matada a ainda nascitura democracia brasileira. A força jurídica dos Atos Institucionais que paulatinamente retiraram o poder da representação popular, além da censura e da violência física, certamente tornaram a política brasileira um ambiente árido para qualquer tipo de manifestação popular.

 

Mas talvez somente com a Constituição de 1988, após a queda do regime e com a instituição do sufrágio universal é que tivemos uma verdadeira democracia formal, com participação popular maciça. Antes, somente alguns poucos milhões realmente participavam politicamente – uma democracia urbana e aristocrática, ferindo o próprio conceito de democracia. Que foram votados Jânio Quadros e João Goulart não há dúvidas, mas por quantos e por quem? Contudo o custo desta vitória democrática ainda está nas peles dos que sobreviveram ao conturbado período de 1964 a 1985.

 

E é neste sentido que podemos questionar o quanto somos, hoje, herdeiros deste processo. O quanto encontramos eco na nossa vida atual – escolar ou não – daquilo que foi a instauração e libertação do regime militar. Nossos jovens estão inseridos ainda em um mundo que debate tais efeitos e precisamos, com eles, conhecer o período e debater seus efeitos atuais.

 

3ª Etapa: O que restou do regime

  

Conhecido o período, talvez seja necessário refletir sobre seus efeitos, sobre o que resta do período militar entre nós. Para as novas gerações apresentam-se desafios e, também, desafetos. Uma dupla jornada se faz necessária, a saber, perquirir no âmbito familiar o que significou o regime para nossos jovens e seus parentes, verificar se, como e porque o período afeta suas vidas e também saber, como segunda parte de nossa jornada, no âmbito público-social o que ainda está por se decidir na sociedade.

 

Afinal, devemos indenizar vítimas, punir ofensores ou manter a anistia dita “ampla geral e irrestrita” (será, afinal, que é possível revogá-la)? O que abrir dos arquivos, a que custo e a que título? O que significa anistiar e o que dizer da anistia feita no Brasil? Estas são questões que ainda hoje estão em pauta e podem ser interessantes para nossos jovens.

 

A frase do pensador George Santayana de que “aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo” parece ser importante em nosso contexto. O estudante precisa conhecer o período militar e compreender suas conseqüências. Os desvios e abusos são importantes lições para o futuro e para a compreensão da nossa sociedade atual.

 

Prof. Ricardo Alves Barreira Lourenço

 

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