Conteúdos

• Pepetela;

• Angola;

• Mayombe.

Objetivos

• Conhecer o escritor Artur Maurício Pestana Dos Santos (Pepetela);

• Conhecer o contexto histórico-cultural de produção da obra Mayombe;

• Reconhecer a obra Mayombe no contexto da literatura angolana;

• Conhecer as características da obra Mayombe

 

1ª Etapa: Apresentação do contexto histórico

Inicie a aula chamando a atenção dos alunos para o fato de que Mayombe, embora seja um romance escrito em português, é uma obra estrangeira, que fala de outro país, Angola, e de outra cultura, diferente da nossa. Como é uma obra que recria ficcionalmente um momento histórico determinado, dar uma ideia geral do que foi esse momento histórico pode ser útil à leitura do romance.



Pergunte aos alunos como se configurou o mundo pós-Segunda Guerra Mundial. Verifique se sabem que o mundo ficou dividido em dois blocos, o Ocidente capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o Leste socialista, liderado pela União Soviética.  Explique que esse novo arranjo político levou ao declínio o poder das antigas potências coloniais como França e Inglaterra, que acabaram por abrir mão de suas colônias, algumas vezes após confrontos armados. França e Inglaterra sabiam que poderiam continuar explorando economicamente suas antigas colônias mesmo não tendo mais sobre elas o poder político e administrativo. Portugal, embora fosse uma nação pequena e pobre, também tinha o que chamavam pomposamente Império Colonial, conquistado desde as navegações, nos séculos XV e XVI. Índia, Brasil já haviam feito parte desse império. No século XX restavam as colônias africanas, Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e alguma coisa mais na Ásia. Portugal, dominado pela ditadura de Salazar desde 1926, se recusou a abrir mão de suas colônias. Ele sabia que Portugal, país pobre, não teria capacidade de continuar influindo sobre aqueles territórios se eles ficassem independentes. Como ditadura, não devia satisfações à opinião pública e falar de independência era motivo de prisão. Porém as populações subordinadas ao colonialismo português partiram para a guerra de independência.



Peça para os alunos, em pequenos grupos, fazerem uma pesquisa sobre o processo de independência das colônias portuguesas. Numa roda de conversa, escolha alguns para contarem o que descobriram. Chame a atenção para Angola. Verifique se a pesquisa trouxe dados sobre a independência de Angola, em 1961, que se iniciou com um ataque às cadeias onde estavam presos os nacionalistas, na capital, Luanda, e com um grande massacre de colonos brancos (e seus empregados) promovido no norte da colônia, a partir da fronteira do Congo ex-Belga. Portugal respondeu com força militar e um massacre ainda maior. Assim teve início uma guerra que se prolongou até 1974.  Conte aos alunos que Angola é um país formado por uma população multiétnica, cada grupo possui sua própria língua e uma cultura diferenciada. Há os quimbundos (ou kimbundos), na região de Luanda e seus arredores; há os quicongos (ou kicongos) no norte de Angola; os umbundus, no sul; os fiotes, ou cabindas, em Cabinda. Apresente aos alunos um trecho do documentário Angola – O mundo segundo os brasileiros (link disponível na Seção Saiba Mais). Aponte que essa são apenas algumas das etnias mencionadas no romance Mayombe, mas há outras mais. Embora os brancos sejam minoria, a língua portuguesa acaba por ser o veículo de comunicação geral entre esses diversos grupos, e tem grande importância entre os combatentes pela independência.



Destaque também que no contexto da Guerra Fria havia interesse das duas potências rivais em exercer influência sobre as novas nações, que seriam criadas ao fim da guerra. Para isso ajudavam grupos rivais. Em Angola, havia o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), que se originou em Luanda e congregava negros, mestiços e até brancos, como o próprio Pepetela, não tendo um caráter acentuadamente étnico. Esse grupo, durante a guerra, recebeu apoio de Cuba, da China e da União Soviética. Outro grupo, inicialmente chamado UPA (União dos Povos de Angola) e depois FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), era ligado aos quicongos, tinha apoio do governo do Congo ex-Belga e também dos Estados Unidos. Embora os dois grupos combatessem pelo objetivo comum da independência, também lutavam um contra o outro.

2ª Etapa: Conhecendo o contexto geográfico

Mostre a seus alunos um mapa de Angola em que apareçam também os países vizinhos (essa atividade pode ser interdisciplinar com a disciplina de Geografia). Isso permitirá que eles visualizem o espaço em que acontece a ação do romance. Aponte Cabinda, enclave situado ao norte do território e completamente separado dele. Explique aos alunos que o enclave existe porque os portugueses cederam aos belgas, ainda no século XIX, uma faixa de terra que ligasse ao mar o imenso território do Congo Belga, atualmente República Democrática do Congo. Ao norte de Cabinda fica outro país, antiga colônia francesa, a República do Congo, também chamado Congo-Brazzaville (nome de sua capital), para distingui-lo da República Democrática do Congo. No início da guerra de independência, tanto o MPLA quanto a FNLA estavam sediados em Leopoldville (depois Kinshasa), a capital do antigo Congo Belga. Mas como o governo desse país apoiava a FNLA e hostilizava o movimento apoiado pela União Soviética, o MPLA mudou-se para o outro Congo. Dolisie, cidade que é um dos espaços do romance de Pepetela, fica no Congo-Brazzaville. Chame a atenção dos alunos para o local e data em que o romance foi finalizado, e que está na última página: Dolisie, 1971. Pela fronteira do Congo-Brazzaville, os guerrilheiros do MPLA só podiam entrar no território de Cabinda.



Peça aos alunos que examinem a fronteira leste de Angola. Ali é a fronteira com a Zâmbia, antiga colônia inglesa chamada Rodésia do Sul, que ficou independente em 1964. O governo do novo país apoiava os que lutavam contra o colonialismo e também tinham ligações com o bloco socialista. Isso permitiu ao MPLA uma fronteira de acesso ao território principal de Angola e a abertura da Frente Leste, mencionada mais de uma vez no romance. Lembrar ainda que Mayombe, a floresta que dá nome ao romance, é a segunda floresta tropical do mundo em extensão, só perdendo para a floresta amazônica, e que, além de ocupar parte do território de Cabinda se estende ainda para áreas na República Democrática do Congo, do Congo-Brazzaville e do Gabão.

 

3ª Etapa: Conhecendo o autor: autor e sua participação histórica

Inicie a aula apresentando o documentário “Leituras: Pepetela – Mayombe” para que conheçam Pepetela (link 1).  Ouça os comentários dos alunos e, em seguida, apresente a biografia de Pepetela: Artur Carlos Pestana dos Santos, mais conhecido como Pepetela, nasceu em 1941, em Benguela, segunda cidade de Angola, bastante ao sul de Luanda, também no litoral. Filho de colonos estabelecidos em Angola a mais de uma geração, sempre se sentiu mais angolano que português. Em 1961, com vinte anos, estava em Portugal, estudando, quando teve início a luta armada anticolonial. Saiu de Portugal para a França, ligou-se ao MPLA, estudou e viveu na Argélia e por volta de 1969 foi para Cabinda, participar da luta de libertação como guerrilheiro.  Conte aos alunos que Pepetela é a palavra em umbundu, língua falada no sul de Angola, para pestana, justamente um dos sobrenomes do guerrilheiro-escritor. Esse foi o nome de guerra que os companheiros escolheram para ele e que acabou adotado como nome literário. Pepetela participou da luta em Cabinda e também na Frente Leste, nos dois lugares como dirigente encarregado de Educação e Cultura. Será útil destacar para os alunos como essa circunstância biográfica é importante para demonstrar como a ficção do autor se sustenta na experiência pessoal e na convivência direta com companheiros participantes da luta guerrilheira. 

4ª Etapa: O romance: estrutura e narrador(es)

Inicie a aula com a leitura do trecho a seguir (trecho do primeiro capítulo, “A missão”): 



Pelos sinais, Sem Medo compreendeu que os soldados vinham a pé, o que dificultava a operação. A notícia correu rapidamente pelos guerrilheiros. Momentos depois, ouviram as primeiras vozes. Os tugas vinham alegres por regressarem ao quartel, barulhentos, despreocupados, convencidos de que os guerrilheiros já estavam no Congo. Sem Medo percebeu mesmo a alusão gritada dum soldado aos hábitos da irmã de outro. O tuga é sempre o mesmo, em todas as circunstâncias, pensou. Será o que fala que tombará com a minha rajada, ou o outro, cuja irmã foi ofendida?



Os primeiros soldados apareceram na curva da estrada. Depois, aos poucos, o resto da companhia. Vinham sem ordem, aos grupos, desatentos, as armas sobre o ombro. O grupo da frente entrou na zona de morte, avançou até passar pelo Comandante. Sem Medo ia contando os soldados inimigos. Contou até setenta. Os guerrilheiros esperavam a rajada do Comandante, sinal de abrir fogo. A vanguarda inimiga aproximava-se do último guerrilheiro, enquanto os da cauda entravam na emboscada.

Está lindo, entraram que nem patinhos! — pensou Sem Medo. E disparou, visando os que estavam à sua frente, a menos de quatro metros. Imediatamente crepitaram as pépéchas com o seu barulho de máquina de costura. Dois segundos depois, Milagre erguia-se e bazucava sabiamente o grupo avançado. Os soldados, apanhados na mais completa surpresa, só placaram ao solo ou cambalhotaram, quando já muitos tinham caído. Os gemidos confundiam-se com o cacarejar das pépéchas e o estrondo das granadas. Finalmente, os primeiros soldados começaram timidamente a responder ao fogo, para permitir que os que estavam na estrada pudessem ganhar a mata protetora.



Sem Medo mudou o carregador, no momento em que apercebeu o soldado à sua frente, deitado na borda da estrada, tentando febrilmente desencravar a culatra da G3. O soldado tinha-o visto, mas a arma encravara. Sem Medo apontou a AKA. O soldado era um miúdo aterrorizado à sua frente, a uns quatro metros, as mãos fincadas na culatra que não safava a bala usada. Os dois sabiam o que se ia passar. Necessariamente, como qualquer tragédia. A bala de Sem Medo abriu um buraquinho na testa do rapaz e o olhar aterrorizado desapareceu. Necessariamente, sem que qualquer dos dois pensasse na possibilidade contrária. 



Após a leitura, conte aos alunos que o assunto do romance é a atuação de um grupo de guerrilheiros do MPLA durante a guerra de independência. O tempo da narrativa é o ano de 1971. Pergunte aos alunos se eles sabem como é possível determinar a data. Como a guerra começou em 1961 e um dos personagens menciona que estão em guerra já há dez anos, isso é um índice da data. Dois espaços são utilizados no romance. O primeiro é a floresta, o Mayombe, onde fica a Base guerrilheira e os personagens se movimentam em ações ofensivas (o ataque aos madeireiros e à tropa portuguesa; o ataque aos portugueses no Pau Caído) e defensivas (o socorro ao suposto ataque à Base). O segundo é a cidade de Dolisie, onde fica a retaguarda de apoio à guerrilha.



Chame a atenção dos alunos para uma das características singulares do romance: além do narrador onisciente que constitui a principal voz narrativa da obra, há a presença de vários outros narradores que tomam de empréstimo essa voz. Como o romance é basicamente estruturado em ação e diálogos, essas vozes narrativas alternadas fornecem um espaço de introspecção que de outro modo não estaria presente. Essas intervenções de diferentes personagens parecem cumprir a mesma função que os solilóquios cumprem no teatro: momentos em que o personagem, afastando-se da ação de que faz parte, dirige-se diretamente ao público. Também as diferentes vozes narrativas de Mayombe parecem estar se dirigindo aos leitores, contando fatos sobre o passado de cada um deles e dando visões muito pessoais e particulares sobre os acontecimentos.



Apresente dois exemplos dessas mudanças na voz narrativa. No primeiro deles, quem fala é Teoria, o único mestiço do grupo. A mudança de voz fica evidenciada pelo título que antecede o solilóquio: EU, O NARRADOR, SOU TEORIA.


Entre Manuela e o meu próprio eu, escolhi este. Como é dramático ter sempre de escolher, preferir um caminho a outro, o sim ou o não! Por que no mundo não há lugar para o talvez? Estou no Mayombe, renunciando a Manuela, com o fim de arranjar no universo maniqueísta o lugar para o talvez.

[…]

Criança ainda, queria ser branco, para que os brancos me não chamassem negro. Homem, queria ser negro, para que os negros me não odiassem. Onde estou eu, então? E Manuela, como poderia ela situar-se na vida de alguém perseguido pelo problema da escolha, do sim ou do não? Fugi dela, sim, fugi dela, porque ela estava a mais na minha vida; a minha vida é o esforço de mostrar a uns e a outros que há sempre lugar para o talvez.  



No segundo exemplo fala o personagem Mundo Novo (EU, O NARRADOR, SOU MUNDO NOVO). Sua linguagem parece caricaturalmente feita de slogans políticos e palavras de ordem, a avaliação que ele faz do Comandante Sem Medo, com o decorrer da ação do romance, vai se mostrar muito equivocada.



O Comandante não passa, no fundo, dum diletante pequeno-burguês, com rasgos anarquistas. Formado na escola marxista, guardou da sua classe de origem uma boa dose de anticomunismo, o qual se revela pela recusa da igualdade proletária. Não é de bom grado que aceita a democracia que deve reinar entre combatentes e, por vezes, tem crises agudas e súbitas de tirania irracional. Defensor verbal do direito à revolta, adepto da contestação permanente, abusa da autoridade logo que a contestação se faz contra ele. […]

A Revolução é feita pelas massas populares, única entidade com capacidade para a dirigir, não por indivíduos como Sem Medo.

O futuro ver-me-á, pois, apoiar os elementos proletários contra este intelectual que, à força de arriscar a vida por razões subjetivas, subiu a Comandante. A guerra está declarada.



Mostre aos alunos o fato de todos os personagens serem negros, com exceção de Teoria, que é mestiço, é outro traço do romance que deve ser assinalado. Como nos lembra a pesquisadora Rita Chaves, durante muito tempo produziu-se nos territórios africanos sob domínio português uma literatura chamada colonial. Nela, contavam-se histórias de personagens brancos que iam para a África. O território e as populações nativas apareciam apenas como cenário. Pepetela inverte esse procedimento da literatura colonial: em seu romance são os brancos que aparecem como paisagem, têm uma presença muito circunstancial, nunca são vistos de perto, não se individualizam. Além do motorista que foge do ataque ao grupo madeireiro, só aparecem brancos como soldados com quem os guerrilheiros se defrontam. Os que são vistos de mais perto são aqueles que estão prestes a morrer, como vimos no primeiro trecho do romance. 

5ª Etapa: O romance: propaganda política ou obra literária?

Inicie a aula com a pergunta título desta etapa. Ouça as opiniões e justificativas dos alunos.



Verifique se reconhecem que Mayombe é um romance político porque seu assunto é a guerra revolucionária de independência, uma forma de ação política. Von Clausewitz, um estudioso alemão da atividade bélica, disse que a guerra é a continuação da política por outros meios. Sendo um romance político, alguns leitores talvez possam ver nele também um romance partidário, ou seja, escrito em defesa de um determinado grupo ou pensamento político, sobrevalorizando esse grupo sobre outros, o que lhe daria um possível caráter de propaganda e, em consequência, diminuiria seu valor literário. Será que é isso que acontece com Mayombe?



Embora o romance tenha de fato um ponto de vista partidário no sentido de assumir uma posição francamente declarada, duas, aliás, contra o colonialismo português e a favor do MPLA, ele se distingue da literatura de propaganda porque permite uma pluralidade de vozes e assume uma postura crítica que não hesita em apontar as contradições e defeitos dentro do seu próprio partido. As dúvidas de Sem Medo a respeito do futuro político da Angola independente são um exemplo disso, como podemos ver no trecho abaixo, em que fala o Comandante Sem Medo em diálogo com o Comissário Político. 



— Evidentemente! Comissário, compreende-me bem. O que estamos a fazer é a única coisa que devemos fazer. Tentar tornar o país independente, completamente independente, é a única via possível e humana. Para isso, têm de se criar estruturas socialistas, estou de acordo. Nacionalização das minas, reforma agrária, nacionalização dos bancos, do comércio exterior, etc., etc. Sei disso, é a única solução. E ao fim de certo tempo, logo que não haja muitos erros nem muitos desvios de fundos, o nível de vida subirá, também não é preciso muito para que ele suba. É sem dúvida um progresso, até aí estamos de acordo, não vale a pena discutir. Mas não chamemos socialismo a isso, porque não é forçosamente. Não chamemos Estado proletário, porque não é. Desmistifiquemos os nomes. Acabemos com o feiticismo dos rótulos. Democracia nada, porque não haverá democracia, haverá necessariamente, fatalmente, uma ditadura sobre o povo. Ela pode ser necessária, não sei. Outra via não encontro, mas não é o ideal, é tudo que sei. Sejamos sinceros com nós próprios. Não vamos chegar aos cem por cento, vamos ficar nos cinquenta. Por que então dizer ao povo que vamos até aos cem por cento? (trecho do capítulo dois “Base”)



Embora haja, com as mortes de Sem Medo e de Lutamos, uma celebração romântica do herói que dá a vida pela causa, o que também inclui uma didática lição contra o tribalismo, em nenhum momento os personagens são idealizados, suas contradições, qualidades e defeitos estão presentes no romance, tornando-os figuras dotadas das complexidades humanas, muito além de meras figuras de propaganda política.

6ª Etapa: Questão do tribalismo

Inicie a aula, apresentando um trecho em que a voz narrativa pertence ao personagem Milagre (EU, O NARRADOR, SOU MILAGRE):



Os intelectuais têm a mania de que somos nós, os camponeses, os tribalistas. Mas eles também o são. O problema é que há tribalismo e tribalismo. Há o tribalismo justo, porque se defende a tribo que merece. E há o tribalismo injusto, quando se quer impor a tribo que não merece ter direitos. Foi o que Lenine quis dizer, quando falava de guerras justas e injustas. É preciso sempre distinguir entre o tribalismo justo e o tribalismo injusto, e não falar à toa.



A esse vamos contrapor um trecho do solilóquio do personagem Muatiânvua (EU, O NARRADOR, SOU MUATIÂNVUA), que antes de entrar na guerrilha foi marinheiro:



Querem hoje que eu seja tribalista! / De que tribo?, pergunto eu. De que tribo, se eu sou de todas as tribos, não só de Angola, como de África? não falo eu o swahili, não aprendi eu o haussa com um nigeriano? Qual é a minha língua, eu, que não dizia uma frase sem empregar palavras de línguas diferentes? E agora, que utilizo para falar com os camaradas, para deles ser compreendido? O português. A que tripo angolana pertence a língua portuguesa? / […] / Eu, Muatiânvua, de nome de rei, eu que escolhi a minha rota no meio dos caminhos do Mundo, eu, ladrão, marinheiro, contrabandista, guerrilheiro, sempre à margem de tudo (mas não é a praia uma margem?), eu não preciso de me apoiar numa tribo para sentir a minha força.



Mostre que as rivalidades entre os grupos étnicos são um dos temas mais constantes no romance. A partir dos dois trechos selecionados, um em defesa do tribalismo, outro expondo uma posição divergente, promova um debate entre os alunos a respeito da posição que parece melhor justificada. Peça a eles que lembrem outros momentos do livro em que a questão do tribalismo é discutida. Além da presença da oposição entre quimbundos e quicongos, há o grupo dos destribalizados e dos que, de algum modo, superaram o tribalismo. Peça a seus alunos que tentem identificar a posição de cada personagem. Convide-os a debater se essas duas posturas, presentes nos trechos selecionados, só estão presentes nas rivalidades entre os diferentes grupos étnicos angolanos ou podem ser encontradas nas relações humanas de maneira geral.

7ª Etapa: Personagens principais: Comandante Sem Medo e Comissário Político João

Pergunte aos alunos se conseguiram identificar as personagens principais do romance. Verifique se consideraram como personagens principais o Comandante Sem Medo e o Comissário Político, que a partir de determinado ponto do romance sabemos chamar-se João. O romance também se estrutura, em parte, na relação entre estes dois personagens. Mostre a seus alunos como os dois têm uma relação de mestre e discípulo que está presente tanto nos momentos de proximidade como nos momentos de conflito. Discuta de que maneira o envolvimento de Ondina com os dois personagens também faz parte dessa relação entre mestre e discípulo. A trajetória completa da aprendizagem do discípulo deixa bem marcada sua transformação: ele começa sem identidade, nomeado por sua função dentro da estrutura de comando, humaniza-se e passa a ser chamado João, por fim, depois do rompimento e da reconciliação no momento final, acaba de assumir o papel que estava reservado ao mestre. 

 

8ª Etapa: Fechamento

A partir da leitura do romance e de toda a informação que eles tiveram a respeito de Angola e da sua luta pela independência, sugira a seus alunos que façam uma pesquisa sobre o que aconteceu a Angola no pós-independência e comparem com as opiniões que Sem Medo expressou sobre o futuro do país. A questão a ser debatida é se o Comandante Sem Medo tinha ou não razão a respeito dos receios que ele declarava a respeito do futuro de Angola. Esta também é uma atividade que pode ter caráter interdisciplinar. O professor de História poderia falar aos alunos sobre a guerra civil que ocupou Angola até 2002 e sobre as transformações que o fim da União Soviética trouxeram ao país.

Materiais Relacionados

1. Para conhecer mais sobre Mayombe, acesse

2. Para conhecer mais sobre Angola, acesse

3. VEIGA, Luiz Maria. De armas na mão: personagens-guerrilheiros em romances de Antônio Callado, Pepetela e Luandino Vieira. São Paulo: FFLCH/USP, 2015 (tese de doutorado). Disponível

(Neste trabalho será possível encontrar uma contextualização minuciosa da evolução das ideias anticoloniais em Angola e da trajetória da guerra de independência, além de informação biográfica da formação de Pepetela e de sua participação no conflito, bem como um perfil de cada personagem-guerrilheiro presente no romance.)

CHAVES, Rita. “Mayombe: um romance contra correntes” in CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania (or.) Portanto… Pepetela. Cotia: Ateliê Editorial, 2009, p. 125-139.
PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Ática, 1982. (Coleção Autores Africanos 14)

Arquivos anexados

  1. Mayombe – Pepetela

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