Conteúdos

– Lélia Gonzalez: compreendendo os conceitos da afroperspectividade (memória, consciência, pretoguês e amefricanidade)

– Reflexão sobre a condição da mulher negra por Lélia Gonzalez. 

Objetivos

– Compreender o pretoguês como expressão do povo brasileiro; 

– Entender a narrativa da afroperspectividade brasileira ou da diaspórica negra;

– Conhecer o feminismo negro brasileiro;

Sugestão de aplicação para o ensino remoto:

Tais sugestões estão organizadas em tópicos, com uma breve explicação de cada recurso.

–  Jitsi Meet: É um sistema de código aberto e gratuito, que permite a criação e implementação de soluções seguras para videoconferências via Internet, com áudio, discagem, gravação e transmissão simultânea. Possui capacidade para até 200 pessoas, não há necessidade de criar uma conta, você pode acessar através do seu navegador ou fazer o download do aplicativo, disponível para Android e iOS.

Trabalhando com essa ferramenta, é possível:

– Compartilhar sua área de trabalho, apresentações e arquivos;

– Convidar usuários para videoconferência por meio de um URL simples e personalizado;

– Editar documentos simultaneamente, usando Etherpad (editor de texto on-line de código aberto);

– Trocar mensagens através do bate-papo integrado;

– Visualizar automaticamente o orador ativo ou escolher manualmente o participante que deseja ver na tela;

– Reproduzir um vídeo do YouTube para todos os participantes.

Gravação de videoaula usando o Power Point: O PPT, já tão utilizado no preparo das aulas, também permite a gravação de uma narração para os slides, que tanto nos auxiliam na explanação dos conteúdos. É possível habilitar a função de vídeo enquanto grava, assim, os alunos irão vê-lo em uma janelinha no canto direito da apresentação. O legal dessa ferramenta é que ela é bem simples e eficaz.

– Envio de Podcast aos alunos: talvez esse nome ainda seja novidade para você, mas Podcast nada mais é do que um áudio gravado (tipo esses que usamos no WhatsApp). Podem ser utilizados para narrar uma história, para correção de atividades, revisar ou aprofundar os conteúdos. Para tanto, sugerimos o app Anchor, que pode ser baixado em seu celular, muito fácil e simples de utilizar. 

– Plataforma Google Classroom: O Classroom permite que você crie uma sala de aula virtual. Esta ação irá gerar um código que será enviado aos alunos, para que tenham acesso à sala de aula. Neste ambiente virtual, você poderá criar postagens de avisos, textos, slides do ppt, conteúdos, links de vídeos, roteiros de estudos, atividades, etc. É uma forma bem simples e eficaz de manter a comunicação com os alunos e postar as aulas gravadas, usando os recursos anteriormente mencionados. Confira também outros recursos oferecidos pelo Google, como a construção de formulários (Google Forms) para serem realizados pelos alunos.

Sugerimos aulas de até 30 minutos. Além disso, em toda aula precisa gerar uma atividade avaliativa, para não sobrecarregar o/a aluno/a. As aulas virtuais também podem ser úteis para correção de exercícios e plantões de dúvidas.

Previsão para aplicação:
4 aulas (30 min./aula)

Proposta de Trabalho:

1ª Etapa: Introdução ao pensamento de Lélia Gonzalez

Para iniciar esta etapa será importante apresentar a filósofa, antropóloga, feminista e professora mineira, Lélia Gonzalez (1935–1994). Sua produção cultural se estendeu entre o Brasil da ditadura militar até os anos noventa. Ela é considerada como uma das vozes mais importantes dos movimentos sociais, sobretudo do feminismo negro. É classificada como uma das primeiras filósofas feministas do Brasil, denominada madrinha do feminismo brasileiro.  

Gonzalez deixou uma história de luta memorável para o movimento feminista, além de textos muito importantes sobre a cultura brasileira, que são vistos como interpretação do Brasil. 

Neste plano de aula, abordamos a forma como Lélia entendia alguns conceitos, entre eles, a noção de consciência, de memória e de amefricanidade. Os fragmentos dos textos utilizados trazem essas noções a partir do que a pensadora brasileira nos deixou. 

Há pouquíssimo tempo, em 2018, foi publicado pela editora Filhos da África um livro que traz estudiosas de Lélia Gonzalez e do feminismo negro, além dos principais textos da filósofa reunidos, tal obra chama-se Lélia Gonzalez, Primavera Para as Rosas Negras.   

Para Gonzalez, a consciência e a memória são partes de uma dialética que descreve a condição do povo negro, dentro da cultura brasileira, enquanto a consciência aborda a identidade que se forja a partir de estereótipos. Já a memória é a identidade descolonizada, essa se forma a partir de uma visão mais histórica ou daquela que não tem uma amnésia dos fatos que ocorrem a partir de todo tipo de extermínio, de negação e de exclusão que existem por meio da consciência presente do nosso mundo. A memória entende o sujeito negro como um eu ativo e não como um objeto coisificado ou alienado em uma consciência hegemonicamente opressora, por isso que pela memória ele é um sujeito com ancestralidade e história, sujeito da episteme que se faz pela resistência ao imposto pela consciência cultural, racista e sexista. Com isso, a memória inclui e ajuda no processo de tornar-se sujeito do discurso e do conhecimento, por sua vez, a consciência exclui e aliena, tira a originalidade histórica e participativa do sujeito.  

Gonzalez nos traz algo muito impactante para pensarmos a nossa linguagem e a identidade do nosso continente, que são os conceitos de amefricanidade/amefricanos, Améfrica Ladina e pretoguês/pretuguês. Para a filósofa, é importante a descolonização da forma como percebemos o nosso mundo, a nossa história e a nossa linguagem. Como colocado, o processo de colonização tirou a originalidade histórica e cultural de todo povo amefricano, mesmo que todo continente tenha sido africanizado há séculos, mais ainda, mesmo que todo continente tenha antes mesmo da colonização raízes indígenas em todo contexto do continente amefricano. Todas essas raízes autóctones e as influências diaspóricas negras foram desconsideradas pelo projeto colonial e político de alienação. Então, o que cabe para as gerações do presente é a descolonização da cosmo-percepção de mundo. Para Gonzalez, o povo brasileiro não fala português, mas sim o pretoguês, pois existem muitas palavras que são de origem da cultura banto e que estão no idioma presente, como “marimbondo”, “quitanda”, “fubá”, “minhoca”, “bunda”, “dendê”, “moleque”, “batuque”, “samba”, “capanga”, etc; mesmo assim, é colocado uma falsa noção de linguagem que não condiz com a realidade falada. Por isso, não faz sentido classificar a língua reduzindo-a somente a cultura europeia, é preciso pensar em todas as raízes que constituem o povo brasileiro. Abaixo, temos alguns fragmentos dos textos que Gonzalez aborda amefricanidade, a/o/x professora/o/x pode ler em sala.

TEXTO 1                                   

Quando se lê as declarações de um Dom Avelar Brandão, Arcebispo da Bahia, dizendo que a africanização da cultura brasileira é um modo de regressão, dá prá desconfiar. Porque afinal de contas o que tá feito, tá feito. E o Bispo dançou aí. Acordou tarde porque o Brasil já está e é africanizado. M. D. Magno tem um texto que impressionou a gente, exatamente porque ele discute isso Duvida da latinidade brasileira afirmando que este barato chamado Brasil nada mais é do que uma América Africana, ou seja, uma Améfrica Ladina. Prá quem saca de crioulo, o texto aponta prá uma mina de ouro que a boçalidade europeizante faz tudo prá esconder, prá tirar de cena. (GONZALEZ, 2018, p. 205)

TEXTO 2                                   

É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l, nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais, que condensa você em cê, o está em tá e por aí afora. Não sacam que tão falando pretuguês. E por falar em pretuguês, é importante ressaltar que o objeto parcial por excelência da cultura brasileira é a bunda (esse termo provém do quimbundo que, por sua vez, e juntamente com o ambundo, provém do tronco linguístico bantu que “casualmente” se chama bunda). E dizem que significante não marca… Marca bobeira quem pensa assim. De repente bunda é língua, é linguagem, é sentido é coisa. De repente é desbundante perceber que o discurso da consciência, o discurso do poder dominante, quer fazer a gente acreditar que a gente é tudo brasileiro, e de ascendência europeia, muito civilizado etc e tal. (GONZALEZ, 2018, p. 208)

TEXTO 3                                   

A gente tá falando das noções de consciência e de memória. Como consciência a gente entende o lugar do desconhecimento, do encobrimento, da alienação, do esquecimento e até do saber. É por aí que o discurso ideológico se faz presente. Já a memória, a gente considera como o não-saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção. Consciência exclui o que memória inclui. Daí, na medida em que é o lugar da rejeição, consciência se expressa como discurso dominante (ou efeitos desse discurso) numa dada cultura, ocultando memória, mediante a imposição do que ela, consciência, afirma como a verdade. Mas a memória tem suas astúcias, seu jogo de cintura: por isso, ela fala através das mancadas do discurso da consciência. O que a gente vai tentar é sacar esse jogo aí, das duas, também chamado de dialética. E, no que se refere à gente, à crioulada, a gente saca que a consciência faz tudo prá nossa história ser esquecida, tirada de cena. E apela prá tudo nesse sentido (1). Só que isso ta aí… e fala. (GONZALEZ, 2018, p.197)

Lélia Gonzalez para o Ensino Médio (Parte 13)

Para essa primeira etapa, sugerimos o preparo de uma apresentação de slides e gravação da narração da apresentação deles através do recurso do próprio PowerPoint (PPT). Use o material descrito anteriormente para a preparação dos slides e enriqueça-os com imagens para ficar mais atrativo para os alunos. 

2ª Etapa: Uma reflexão sobre a condição da mulher negra por Lélia Gonzalez

Nesta segunda parte vamos explorar o entendimento que Lélia Gonzalez tinha a respeito da visão ou da consciência brasileira sobre o papel das mulheres negras. A filósofa cita o exemplo das atrizes brasileiras, Zezé Motta, Ruth de Souza, Zenaide Zen, Léa Garcia, etc. A terceira e quarta parte trazem o depoimento que Zezé Motta e Ruth de Souza deram sobre as chances que tiveram de fazer comercial de televisão. As atrizes falam da consciência racista brasileira e a forma que negras e negros são tratados no teatro e na televisão. Além disso, no último vídeo, vale a pena conhecer a história da primeira atriz negra do Brasil, a própria Ruth de Souza. 

Para essa etapa, sugerimos duas aulas ao vivo on-line através da plataforma Jitsi Meet, para que você assista com os alunos aos vídeos sugeridos abaixo, através do recurso do compartilhamento de tela do seu computador. É interessante realizar um pequeno debate sobre os episódios assistidos ao final das aulas, colhendo as impressões e sentimentos dos alunos sobre o tema abordado. Os alunos podem participar escrevendo no chat da plataforma ou de forma oral, habilitando seus microfones. 

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

 

3ª Etapa: Proposta de atividade

Empretecendo o discurso 

Solicite aos alunos que façam uma dissertação de 20 linhas com base nas noções que Lélia Gonzalez deixou sobre a cultura brasileira. Deverão citar os quatro conceitos trabalhados nas aulas: consciência, memória, pretoguês e Améfrica Ladina. Como seria possível entender a realidade brasileira da mulher negra a partir do pensamento da filósofa mineira? Por que a mulher negra tem seu papel predeterminado pelas instituições? No meio de todo esse contexto problemático, qual é a importância da filósofa feminista negra?  

As orientações acima podem ser compartilhadas com os alunos através da plataforma Google Classroom, bem como o envio das redações finalizadas. 

Plano de aula elaborado pelo Professor Mestre Fabiano Bitencourt Monge.
Adaptação para o ensino remoto elaborada pela Professora Doutora Nathalie Lousan.

Materiais Relacionados

LIVROS: 

– CASTRO, Clarissa Petry. REPENSANDO AS MULHERES E A FILOSOFIA: uma análise dos livros didáticos de Filosofia de Ensino Médio. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Especialização. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 60 p., 2016.

– GONZALEZ, Lélia. Lélia Gonzalez: primavera para as rosas negras. São Paulo: Filhos da África, 2018.

– GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, nº. 92/93, Rio de Janeiro, jan./jun. 1988. 

– GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984.

– KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Trad. Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

– NASCIMENTO, Maria Beatriz. Beatriz Nascimento: quilombola e intelectual. São Paulo: Filhos da África, 2018. 

VÍDEOS:

Lélia Gonzalez para o Ensino Médio (Parte 13)

Conheça mais um pouco sobre a vida e obra de Lélia Gonzalez 

– CULTNE DOC – Lélia Gonzalez

Parte 1

Parte 2

Parte 3 

Parte 4 

Pensamento Descolonial: Lélia Gonzalez, por Julia Abdalla

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