Conteúdos
– Primeira República
– Guerra de Canudos
– Coronelismo
Objetivos
– Compreender o contexto político da Primeira República no Brasil
– Conhecer as condições sociais do Nordeste brasileiro no século XIX
– Entender a origem do conflito de Canudos e os diferentes discursos sobre ele
– Refletir sobre a questão do coronelismo no Nordeste durante o período republicano
1ª Etapa: Contexto Histórico – A Primeira República
Na primeira etapa, realizada em uma aula de 50 minutos, o professor deverá introduzir ao aluno o contexto histórico em que ocorreu a formação do Arraial de Canudos e sua posterior destruição. Sugerimos a exibição da reportagem “Segredos do Sertão” (disponível no item 1 da seção Materiais Relacionados), sobre o conflito de Canudos.
Após a apresentação do vídeo, o professor deverá discutir com os alunos o que foi o Arraial de Canudos, desde sua formação até o conflito que levou ao seu fim.
Abaixo, há resumos que podem ser utilizados para relembrar o conteúdo.
2ª Etapa: Conhecendo Canudos
O período, de 1889 a 1930, chamado de Primeira República, foi marcado por dois projetos políticos em disputa, um militar (levado a cabo pelo Estado brasileiro), outro civil (expresso nos conflitos protagonizados pela população, como Canudos).
A Guerra de Canudos aconteceu entre os anos de 1896 e 1897, quando o governo se concentrou nas mãos das oligarquias agrárias, representada pelos coronéis que dominavam a população mais pobre de determinada região e controlavam a política por meio do chamado “voto de cabresto”.
O Brasil, principalmente o Nordeste, enfrentou o problema da concentração fundiária, que juntamente com a seca, a pobreza e a falta de atenção do Estado com a região, gerou uma séria crise política e social, expressa no grande descontentamento da população com o governo. Por isso, o período da Primeira República foi marcado por várias revoltas populares contra os governos em vigência, e Canudos se formou a partir desse descontentamento popular.
O Arraial de Canudos foi uma forma de organização social formada por sertanejos pobres que não tinham terra nem trabalho, grande parte deles negros recém-libertados, que não achavam lugar na República e, liderados por Antônio Conselheiro, buscaram uma maneira alternativa à falta de emprego, terras e assistência por parte do governo oligárquico da época. A comunidade de Canudos se desenvolveu de forma coletivista, sem propriedade privada e logo tomou grandes proporções, assustando as autoridades e a Igreja, já que o Antônio Conselheiro era visto pelos seus seguidores como um “santo”, adotando o papel de “messias” para a população do Arraial. A comunidade desenvolveu uma economia própria que resistia ao Estado e, assim, passou a ser perseguida e considerada inimiga número um dos governos da época.
É importante pesquisar e descrever as características de Canudos: misticismo religioso, sebastianismo/messianismo, economia coletivista, oposição à República e às eleições e a regulação da vida cotidiana, como o casamento civil, entre outras.
O líder, Antônio Conselheiro, ficou conhecido por suas “pregações” sertão adentro, onde falou contra o Estado, que não assistia o povo sertanejo, contra os “coronéis” que concentravam todo o poder em suas mãos e contra a Igreja, que seria uma instituição dos poderosos. Aos poucos, seu discurso ganhou seguidores que formaram o Arraial de Canudos. Logo, Conselheiro atingiu o papel de “messias” do povo de Canudos. A importância que Conselheiro ganhou como “messias” diante da população do Sertão Baiano preocupou a Igreja, que apoiou as autoridades do Estado no combate ao Arraial.
3ª Etapa: Os Conflitos
Após desenvolver previamente o contexto histórico e o que foi o Arraial de Canudos, o professor deverá expor como se deram os conflitos armados que levaram ao extermínio do Arraial.
Para auxiliar a exposição, recomendamos a leitura pelos alunos da História em quadrinhos “Guerra de Canudos” (disponível no item 2 da seção Materiais Relacionados).
O conflito de Canudos é considerado o maior massacre em território nacional, deixando cerca de 25 mil mortos. O então presidente Prudente de Moraes organizou expedições das tropas do exército para atacarem o Arraial de Canudos, com a justificativa de que seria uma ameaça à República. As duas primeiras expedições não conseguiram alcançar a comunidade, sendo dizimadas pelas tropas sertanejas. Na terceira expedição, o governo convocou um militar conhecido por lutar em revoltas regionalistas, Coronel Moreira César, que junto com mais 1.300 soldados partiram para o combate. Mais uma vez as tropas federais foram derrotadas, contando com a baixa do Coronel. A terceira derrota preocupou as autoridades que organizaram uma quarta campanha fortemente armada e, essa sim, conseguiu acabar com o Arraial de Canudos, matando quase todos os seus habitantes e não deixando rastro da existência da comunidade.
4ª Etapa: Atividade de análise dos diferentes discursos históricos
Nessa etapa, já conhecendo o conteúdo proposto, os alunos irão realizar uma atividade para analisar os diferentes discursos históricos presentes na construção da memória.
Usaremos como fonte uma reportagem de jornal da época do conflito e um trecho do livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha.
O objetivo dessa atividade é conseguir identificar duas visões distintas construídas sob a memória do conflito. Uma é a visão “oficial” do governo, endossada pela mídia, onde Canudos é narrado como uma ameaça à República, uma aglomeração de “bandidos” e assassinos.
A outra visão virá do trecho do livro de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, que descreve o conflito como consequência de uma série de contradições que formam os sertões brasileiros, passando a visão do sertanejo como “forte”, “heroico” e não “bandido”.
Gazeta de notícias, 07/10/1897
5ª Etapa: Exercícios de revisão do conteúdo
O professor deverá aplicar exercícios sobre o conteúdo dado em sala de aula, para avaliar o nível de compreensão dos alunos sobre o conflito.
1.
Garantidos pela lei
Aqueles malvados estão
Nós temos as leis de Deus
Eles têm a lei do Cão!
Bem desgraçados são eles
Pra fazerem a eleição
Abatendo a lei de Deus
Implantando a lei do Cão!
Casamento vão fazendo para o povo iludir
Vão casar o povo todo no casamento civil!
D. Sebastião já chegou
E traz muito regimento
Acabando com o civil
E fazendo o casamento!
O Anticristo nasceu
Para o Brasil governar
Mas aí está o Conselheiro
Para dele nos livrar!
Visita vem nos fazer
Nosso rei D. Sebastião
Coitado daquele pobre
Que viver na lei do Cão!
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. 33 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. p. 139.
Os versos recolhidos em Canudos por Euclides da Cunha tornam perceptíveis várias características do movimento liderado por Antônio Conselheiro. A partir de seus conhecimentos sobre Canudos e os versos reproduzidos acima, indique em qual das alternativas abaixo contém uma característica incorreta deste fenômeno histórico.
a) Sebastianismo
b) Oposição ao casamento civil
c) Socialismo
d) Misticismo religioso
e) Oposição às eleições
Alternativa: C
2. Sobre a Revolta de Canudos, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O seu principal líder foi Antônio Conselheiro
b) Os sertanejos de Canudos lutaram contra a injustiça e a miséria persistente na região
c) Caracterizou-se como um movimento de caráter messiânico
d) A Guerra de Canudos foi tema do livro “Os Sertões”, do escritor Euclides da Cunha
e) Os revoltosos de Canudos receberam apoio incondicional dos coronéis da região
Alternativa: E
3. Os vaqueiros e os peões do interior escutavam o Conselheiro em silêncio, intrigados, atemorizados, comovidos… Alguma vez, alguém o interrompia para tirar uma dúvida. Terminaria o século? Chegaria o mundo ao ano 1900? Ele respondia (…) em 1896, mil rebanhos correriam da praia para o sertão e o mar se tornaria sertão e o sertão mar (…). Mario Vargas Llosa
O carismático Antônio Conselheiro, de que fala o texto acima, liderou a Revolta de Canudos em 1897. Podemos apontar como principais fatores da revolta:
a) o crescimento e a modernização da economia nordestina
b) o apoio incondicional do sertanejo à Monarquia
c) a impossibilidade de adaptação do sertanejo aos valores republicanos
d) o abandono em que vivia o sertanejo, o coronelismo e a luta pelo acesso à terra
e) a oposição contra a Igreja Católica, aliada dos monarquistas
Alternativa: D
4. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO / 1997) – “Canudos ficava num cenário que lembrava as paisagens descritas na Bíblia: uma região árida repleta de caatingas, rodeada por cinco serras ásperas e atravessada por um rio, o Vaza-Barris. Decidido a permanecer naquela autêntica fortaleza natural, e isso não deve ter escapado à percepção de Conselheiro, ele e seu grupo entraram em ação para construir uma comunidade onde estivessem livres do incômodo das autoridades religiosas católicas e políticas, bem como das leis republicanas, dos “coronéis”, dos juízes, dos impostos, da justiça arbitrária, da política etc”.
(COSTA, Nicola S. Canudos – Ordem e Progresso no Sertão. São Paulo, Moderna, 1990.)
O movimento de Canudos (1896-97), liderado pelo beato Antônio Vicente Mendes Maciel, o “Antônio Conselheiro”, no sertão nordestino, é um dos mais conhecidos exemplos de movimentos místico-populares que marcou o início da República no Brasil. As problemáticas sociais que deram vida àquele movimento permanecem, até hoje, em grande parte sem solução.
a) Cite e justifique dois motivos pelos quais o povoado de Canudos incomodava as “autoridades políticas locais e religiosas”.
RESPOSTA: Permitir o acesso livre a terra criando uma comunidade coletivista, sem propriedade privada. Em um sertão onde o domínio político estava ligado ao controle da terra essa iniciativa gerou incomodo aos coronéis locais, que se sentiram ameaçados com o crescimento da comunidade.
O messianismo do líder Antônio Conselheiro, que passou a ser visto como um líder religioso crítico a Igreja como uma instituição dos poderosos, que esquece dos homens simples. O crescimento da popularidade das ideias de Antônio Conselheiro incomodou a Igreja Católica e o Estado que se sentiram ameaçados.
Materiais Relacionados
1 – Introduza a aula com o vídeo da reportagem realizada pela Record na série “Segredos do Sertão” sobre o conflito de Canudos
2 – Para conhecer mais sobre a Guerra de Canudos, usando uma linguagem atual, você pode ler o HQ da Guerra de Canudos