Conteúdos

Ditadura Militar;
Greve;
Exploração do trabalho;
Política;
Cinema Brasileiro;

Objetivos

Aprofundar o conhecimento acerca da história sociopolítica brasileira, a partir da segunda metade do séc. XX;

Introduzir o conceito de luta de classes;
Apresentar e refletir sobre visões a respeito do direito de greve do proletariado e da repressão pelas classes dominantes; 
Refletir sobre as perspectivas individuais e coletivas nos momentos de crise;        
Conhecer a proposta estética do Cinema Novo e outras expressões artísticas brasileiras;
 

1ª Etapa: Língua Portuguesa e Arte – Criação de cena

Os alunos podem realizar uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos operários em sua cidade, na atualidade. Pode-se realizar entrevistas com familiares, sindicalistas e/ou moradores do bairro que exercem essa atividade, buscando uma atualização do perfil profissional, suas reivindicações e condições de vida. A partir dessa pesquisa, os alunos podem recriar uma cena do filme (escrita ou representada) com um novo diálogo entre pai e filho, mostrando um possível choque de gerações a partir da realidade atual. Algumas perguntas que poderiam inspirar as entrevistas e criação da cena:

 

Como seria uma versão atual desse filme? 

 

Além das reivindicações econômicas dos trabalhadores e sua organização sindical, o filme apresenta problemas graves do país, como alcoolismo, violência contra a mulher e más condições de moraria. Como está essa realidade hoje no Brasil?

 

Como são vistos os movimentos grevistas hoje?

 

Quais seriam as reinvindicações da classe operária atual?

 

Há diferenças de concepção política entre pais e filhos? 

 

E a vida das operárias?

 

O álcool aparece muitas vezes como alívio para as tensões e o pai de Maria é um alcoólatra. Como esse problema social vem sendo encarado hoje?

 

2ª Etapa: Exibição do Filme

É preciso situar os alunos no contexto da época. A obra retrata a relação de exploração da classe operária na região do ABC paulista pela elite industrial, no início da década de 1980 – época em que explodiram as greves operárias e o país enfrentava um momento de transição da ditadura militar para um período de distensão política. Com uma estética neorrealista, o filme traz um drama familiar em que se apresentam interesses individuais e coletivos. A família sofre igualmente  a exploração dos patrões, e a repressão dos militares. 

3ª Etapa: A luta operária e a redemocratização

Exibido o filme, pode-se pedir aos alunos que partilhem sua impressões para, na sequência, iniciar o  debate a respeito da obra. Como são os personagens? Com quais personagens eles mais se identificaram? Qual foi a cena mais marcante? Quais são os conflitos que o filme apresenta (os familiares/ os sociais/ os geracionais) A partir desta discussão, pode-se ampliar para os elementos contextuais da trama. Será possível mapear o que sabem, o que pode ser objeto de pesquisa e o que vale ser aprofundado.

 

O que foi a Ditadura Militar? Como ela se instalou?

 

Quais foram os setores que a apoiaram ou a repudiaram?

 

Como se deu o processo de industrialização do Brasil e da região do ABC?

 

Como a luta do proletariado (metalúrgicos do ABC) desenvolveu a organização sindical? 

 

Como o filme retrata os debates dos metalúrgicos? 

 

Como os patrões aliciavam empregados para colher informações sobre os insurgentes? 

 

A serviço de quem está a polícia militar no filme?

 

O filme aborda o movimento operário que contribuiu para mudanças recentes na história política do Brasil. Trata-se de uma boa oportunidade para exercitarmos o debate político partindo de argumentos e dados objetivos, ainda que todos os participantes mantenham suas convicções pessoais. 

 

O professor pode ouvir os alunos sobre o que eles sabem a respeito da ditadura militar e sobre as lutas operárias no Brasil, para que esse repertório seja a base da conversa. É necessário salientar a complexidade desse período político, desde a implantação do Golpe Militar de 64, passando pela implantação dos Atos Institucionais até sua ruptura. Como os movimentos operários se organizaram nesse contexto? Quais figuras públicas atuais emergiram dessa fase? A perseguição, tortura, morte e desaparecimento de figuras políticas que contestaram a própria exploração é um tema que pode ser analisado não só no Brasil como também em outros países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. O processo de anistia até a abertura do processo conhecido como “Diretas Já” é um momento crucial na história recente do Brasil e muito pouco debatido nas salas de aula.

 

4ª Etapa: História e Cotidiano – Quem são nossos heróis?

A obra Eles não usam Black Tie, de Guarnieri e Hirszman, tem a qualidade de discutir o drama familiar à luz de um contexto político geral. É comum que jovens não relacionem sua vida cotidiana com a vida política do seu país. Para sugerir este debate o professor poderá reapresentar as cenas finais: 

 

Na cena do velório de Bráulio (1’51”), Otávio diz ao filho Chiquinho que o filho deste ainda estudará Bráulio como personagem da História do Brasil. O que se tem a dizer sobre isso atualmente? Em que momento da nossa História operários se tornaram personagens estudados nas escolas? Será que pessoas mortas pela repressão são hoje lembradas e citadas? Qual a importância de sabermos sobre esses indivíduos? 

 

A cena seguinte à do velório (1’52”) retrata uma situação bem cotidiana de uma família das classes populares. O casal Romana e Otávio, tristes com a morte do amigo, estão escolhendo o feijão para a refeição do dia seguinte. Esta cena antológica do cinema foi inventada na montagem teatral por Lélia Abramo, a atriz que interpretava a personagem Romana. Ao separar os feijões, conta as porções pelo número de pessoas da família. Ao separar a quarta porção, lembra-se que o filho mais velho foi embora e devolve os feijões para o pote. Otávio ajuda Romana a escolher os feijões. São aproximadamente 5 minutos apenas de gestos, lágrimas e olhares, sem palavra ou música. Seria interessante discutir com os alunos a força expressiva desta cena, tão fora dos padrões atuais do cinema e da TV. O que estariam pensando e sentindo aqueles personagens? De que forma ela resume o drama do filme? Qual a simbologia possível da escolha dos feijões?

 

A cena final do filme assemelha-se muito ao movimento gerado pelo assassinato do líder operário Santo Dias da Silva, em São Paulo, durante uma greve, em 1979. Sugere-se que os alunos pesquisem esse acontecimento que muito se relaciona ao filme e que foi um marco na história recente do Brasil (ver item 9 de para saber mais). 

Materiais Relacionados

1. O DVD deste filme integra o catálogo da Programadora Brasil, disponível em bibliotecas, centros culturais e unidades do SESC. O DVD pode ser encontrado em sebos. Nele,  há “extras” preciosos, como os depoimentos dos atores e a repercussão das premiações.  O filme está disponível na íntegra no link.

 
2. O filme é baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, que contribuiu para o roteiro do filme. Na peça, em 1958, Guarnieri interpretava o jovem Tião. No filme ele interpreta Otávio, o pai. A biografia de Guarnieri está no link.
 
3. A biografia de Leon Hirszman, um dos mais importantes cineastas brasileiros pode ser lida no link.
 
4. Leon Hirszman iniciou sua carreira no início no Cinema Novo, que foi um movimento cinematográfico surgido ao final dos anos 1950. Um breve panorama sobre esse movimento encontra-se no link. Leon Hirszman começou sua trajetória no cinema nesse período, coincidente com a montagem e sucesso da peça teatral de Guarnieri. Embora nos anos 1980, quando o filme foi realizado, o movimento do Cinema Novo já não existisse em sua forma original, o cineasta manteve seu compromisso político e estético, adaptando-o ao contexto político da época.
 
5. Vários filmes brasileiros também abordam a luta contra o autoritarismo no Brasil, especialmente sobre o período da ditadura militar. No Portal Net Educação há um artigo específico sobre esse tema, que pode dar base ao professor, no link.
 
6. A música executada ao final do filme “Nóis não usa os blequetais”, de Adoniran Barbosa e Guarnieri foi composta para a peça de teatro de 1958. Ao final do filme, ela é executada com orquestra. A canção pode ser conhecida no link.
 
7. Embora a peça teatral tenha sido escrita em 1958, o filme foi filmado no ano de 1980. Em outubro de 1979, em uma greve de metalúrgicos em São Paulo, a polícia assassinou um de seus líderes, que conversava com seus companheiros na porta da fábrica. A morte de Santo Dias da Silva provocou enorme comoção e seu enterro levou 30 mil pessoas às ruas. Tal acontecimento foi um marco na luta contra o regime ditatorial e reforçou a luta dos metalúrgicos de São Paulo e do ABC. A cena final é inspirada no enterro de Santo Dias. Mais sobre a história deste operário no link.
 
8. O filme aborda o movimento operário que contribuiu para mudanças recentes na história política do Brasil. Sugerimos como fonte de pesquisa do movimento operário no Brasil o site. No mesmo site há muito material sobre as memórias do período da ditadura militar.
 
Eles não usam Black-tie 
 
Sinopse: 
 
Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete Mendes) decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.
 
Ficha técnica
 
Título: Eles não usam Black-tie Gênero: Longa-metragem Duração: 122 min.Direção: Leon Hirszman Elenco (vozes): Gianfrancesco Guarnieri (Otávio), Fernanda Montenegro (Romana), Milton Gonçalves (Bráulio), Carlos Alberto Riccelli (Tião), Bete Mendes (Maria) e outros. Classificação: Livre Ano/Pais de Produção: Embrafilme 1981.
 

Arquivos anexados

  1. Eles não usam Black-Tie

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