Conteúdos
O regime militar e a linha de ação dos militares (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo).
Objetivos
Explorar o contexto sociopolítico pós-64, com base na produção caricatural do período.
1ª Etapa: Atividade em dupla: a produção caricatural pós-64
Finalizada a retomada da etapa anterior, solicite aos alunos que se organizem em duplas. E que cada dupla eleja uma produção caricatural pós-64 para leitura (descrição e interpretação), dentre aquelas apresentadas na 2ª etapa deste plano de aula. Oriente os alunos a elaborar, em uma folha avulsa, um registro escrito com um comentário sobre o contexto sociopolítico pós-64, que os auxiliem a identificar o humor nestas imagens. Por exemplo: O humor na charge de Ziraldo, de 1970, está na versão caricatural que ele faz do slogan do Governo Médici (1969-1974): “Ame-o ou deixe-o”. No Governo Médici, os militares apelaram ao “ufanismo”, investindo em slogans nacionalistas avessos a críticas: “Brasil: ame-o ou deixe-o”, “Pra frente, Brasil!”, “Ninguém segura este país”. Este slogan, “Brasil: ame-o ou deixe-o”, é satirizado, inclusive, na charge de Henfil, a respeito das mobilizações populares pela democracia na década de 1980: “Vote-o ou deixe-o”. Já na charge de Hilde Weber, o humor está na interpretação caricatural que ela faz do fechamento do Congresso, determinado no texto do Ato Institucional de número 4, decretado em 7 de dezembro de 1966. Na charge de Fortuna, a legenda “Foi você, Maria, ou já começou a Lei da Imprensa?” ajuda a identificar onde está o humor desta produção caricatural, à época da discussão do projeto para a nova Lei de Imprensa, que entraria em vigor a 14 de março de 1967. A legenda ajuda igualmente a identificar onde está o humor na charge de Claudius: “Eu só gritei: Olha o DROPS!”. E não: “Olha o DOPS!”. Drops, do inglês “drops”, é sinônimo de pastilhas ou balas confeitadas. E DOPS, a sigla do Departamento de Ordem Política e Social, órgão criado para manter o controle do cidadão e vigiar as manifestações políticas no pós-64.
2ª Etapa: Avaliação Individual: as charges nas redes sociais
Caso julgue pertinente avaliar individualmente os alunos ao final deste plano de aula, sugira a interpretação da charge reproduzida a seguir, publicada, em março deste ano, pela jornalista Cynara Menezes, em uma rede social e compartilhada por centenas de usuários desta rede, disponível no Link 5.
Vocês conseguem identificar onde está o humor nesta imagem? E a visão de mundo que ela transmite?
3ª Etapa: Charge: o que é? Como interpretá-la?
Considerando as respostas dos alunos à questão “E charge, vocês sabem o que é?”, inicie esta etapa definindo charge e caricatura, com base na definição oferecida na página 69 do “Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora: caderno de orientação didática de História” disponível no link 1
“O humor visual é um relevante meio de observar a realidade. Assim, a charge e a caricatura têm papel fundamental e decisivo no espaço jornalístico. Não têm a precisão e o detalhamento da reportagem e muito menos do ensaio das ciências sociais, mas atingem o leitor com rapidez e agudeza. Podem ter impacto comparável ao de um bom artigo e, em geral, podem ser transmissoras da voz da opinião pública. Ambas são importantes instrumentos de expressão cultural e de pensamentos. Ridicularizam o comportamento político dos “donos do poder” ou de outros segmentos sociais e remetem a um conjunto de informações da dimensão da cultura popular e de massa. Envolvem os leitores em um processo lúdico e os instiga a observar com outro olhar seu cotidiano, sempre com algum acréscimo. A charge e a caricatura oferecem a possibilidade de analisar a história social, política, artística etc. O Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1995, p.130 e 145) contém as seguintes definições:
“Caricatura. S. f. Desenho que, pelo traço, pela escolha dos detalhes, acentua ou revela aspectos caricatos de pessoa ou fato.”
“Charge. S. f. Representação pictórica, de caráter burlesco e caricatural, em que se satiriza um fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento público.” […]”.
A seguir, apresente aos alunos as produções caricaturais pós-64 aqui sugeridas e não forneça a eles outras informações a respeito destas imagens que não quem a desenhou e quando ela foi desenhada. Por exemplo: A charge A, de Ziraldo, é de 1970. Vocês conseguem identificar onde está o humor nesta imagem? E a visão de mundo que ela transmite? O que ela representa? E deixe que se manifestem livremente.
Ao apresentar as charges aqui sugeridas, deixe que os alunos se manifestem livremente, inclusive suas dificuldades em identificar onde está o humor nestas imagens e a visão de mundo que elas transmitem.
“É difícil interpretar caricaturas e charges do passado, pelo fato de o leitor pertencer a outro tempo e não necessariamente conhecer os personagens retratados. Para identificar o humor nestas imagens, é preciso saber quem eram eles, dominar informações históricas e reconhecer quais foram as intervenções dos humoristas. Na caricatura, por exemplo, uma que são os exageros que provocam o riso, o leitor precisa identificar qual era a referência social ou política do personagem no passado, para entender o que o humorista salientou em seu desenho. […] O riso só aflora se o leitor do presente reconhecer na caricatura a dimensão material, humanizada, degradada, construída para ela.”
*Confira as charges no Material de Apoio deste plano de aula.
4ª Etapa: Aula Expositiva: o regime militar e a linha de ação dos militares
Considerando que o objetivo deste plano de aula é explorar o contexto sociopolítico pós-64, com base na produção caricatural do período, e que “para identificar o humor nestas imagens, é preciso saber quem eram eles [os personagens retratados], dominar informações históricas e reconhecer quais foram as intervenções dos humoristas”, aproveite esta etapa oferecer subsídios aos alunos para a leitura das imagens, apresentadas na etapa anterior, sugerida na etapa subsequente. Elabore uma aula expositiva que retome os aspectos que definiram a linha de ação dos militares: Governo Castelo Branco (1964-1967); Governo Costa e Silva (1967-1969); Governo Médici (1969-1974); Governo Geisel (1974-1979); Governo Figueiredo (1979-1985), com base nos artigos do dossiê “O golpe de 1964” da edição de agosto de 2012 (n.83) da Revista de História da Biblioteca Nacional, disponível no Link 3 ou consulte o texto “O Regime Militar (1964-1985)”, de História do Brasil, de Boris Fausto, citado no para Saber mais.
Não deixe de contextualizar os atos institucionais (quando foram editados, sob qual pretexto e qual seu texto. Por exemplo: Em fevereiro de 1966, como resposta às pressões pelo fim do regime, Castelo Branco editou o AI-3 e, em dezembro, o AI-4. O texto do AI-3 fixava eleições indiretas para governador, vice-governador, prefeito e vice-prefeito. E o do AI-4, fechava o Congresso e determinava as regras para a aprovação da nova Constituição.). Destaque que os atos (ou abusos) institucionais procuravam dar força de lei às ações dos militares. E que 17 é o número total de atos institucionais decretados entre 1964 e 1969 (Eis onde está o humor da charge de Jaguar.). Caso opte por tal sugestão, estruture-a com base no texto destes atos, disponíveis no link 4.
5ª Etapa: “O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo"
Inicie este plano de aula, cujo objetivo é explorar o contexto sociopolítico pós-64, com base na produção caricatural do período, convidando os alunos a refletir a respeito de seu subtítulo, extraído do “Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora”, disponível no link 1 “O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo.”. Estimule-os, lançando questões, como: O que este título sugere, na opinião de vocês? O que é humor? Como vocês o definiriam? Vocês sabiam que há um provérbio latino que diz: “O humor corrige os costumes.”? E o provérbio “Quem ri seus males espanta.”, vocês conhecem? O que estes provérbios sintetizam, na opinião de vocês? E deixe que se manifestem livremente. A seguir, compartilhe com os alunos a reportagem “Arte interativa mostra charges censuradas pela ditadura militar”, de Vanessa Aquino, transcrita abaixo e disponível no site do Correio Braziliense, Link 2
ARTE INTERATIVA MOSTRA CHARGES CENSURADAS PELA DITADURA MILITAR
Ziraldo, Jaguar e Henfil são alguns nomes que se destacam pelas críticas ao governo e à censura
“O humor corrige os costumes.”. O provérbio latino pode ser corroborado, também, na história do Brasil por meio da charge, especialmente nos períodos mais perversos da ditadura militar, nos quais a liberdade de expressão foi suprimida. Durante a época, entre 1964 e 1985, cartunistas e chargistas assumiram uma frente de resistência por meio das mensagens dos desenhos, publicados em grandes jornais e em veículos assumidamente nanicos panfletários, como O Pasquim. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, inaugura, nesta semana, a exposição Resistir é Preciso, com documentos, cartazes inéditos e acervo de toda a imprensa clandestina da época. No contexto apresentado pela mostra, a charge aparece como instrumento importante tanto nos momentos mais difíceis e repressivos dos anos de chumbo – pós o Ato Institucional Nº 5, em 1968 – quanto da época que marcou a abertura política, a partir de 1974. Em Brasília, o chargista Lopes, então funcionário do Correio, publicou diversos desenhos com críticas ao governo, aos problemas econômicos e à falta de liberdade de expressão. No Rio de Janeiro, nomes como Ziraldo, Jaguar e Henfil ganharam destaque nesse cenário e criaram meios criativos e ousados de driblar a censura e cutucar o governo ou instigar na população sentimento contrário à resignação.”
Caso opte por ler a reportagem aos alunos (ou disponibilizar e distribuir cópias para que eles a leiam na íntegra), questione-os: Do que trata a reportagem? Vocês notaram que o mote da reportagem é aquele provérbio latino “O humor corrige os costumes.”? Considerando o contexto histórico a que a reportagem faz referência, o que este provérbio sintetiza?
A seguir, de modo a verificar o que sabem a respeito do contexto histórico a que a reportagem (e o presente plano de aula) faz referência e introduzir a etapa subsequente deste plano de aula, lance questões aos alunos, como: Vocês já ouviram a expressão “anos de chumbo”? A que anos ela se refere? E a respeito do Ato Institucional de número 5, vocês já ouviram falar? O que vocês sabem sobre ele? E de “O Pasquim”, vocês já ouviram falar? E de Ziraldo, Jaguar e Henfil? O que vocês sabem sobre eles? E charge, vocês sabem o que é? E deixe que se manifestem livremente.
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