Conteúdos
Identidade; Influência indígena; Linguagem Artística.
Objetivos
Contextualizar, com base na etimologia das palavras ÍNDIO e INDÍGENA, a construção de determinadas representações sobre o “outro”.
Links para os conteúdos sugeridos neste plano estão disponíveis na aba Saiba Mais.
1ª Etapa: Ei! Tem alguém aí?
O objetivo deste plano é contextualizar, com base na etimologia das palavras ÍNDIO e INDÍGENA, a construção de determinadas representações sobre o “outro”, o indígena. Introduza-a com base na leitura deste fragmento de texto, extraído do livro “Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder, transcrito a seguir.
“Quem é você?”, perguntou ele.
Essa mesmíssima pergunta estava na ponta da língua, pois achei meio injusto que ele tivesse passado na minha frente. Afinal, não fui eu que caí de repente no jardim dele – ou no planeta dele!
“Meu nome é Joakim”, falei.
“E eu sou Mika. Por que você está de cabeça para baixo?” […]
“É você que está de cabeça para baixo!”, falei.
Mika tirou o polegar da boca e começou a esticar e abanar todos os dedos. Daí falou:
“Quando duas pessoas se encontram e uma delas está de cabeça para baixo, não é tão fácil dizer qual delas está na posição certa.”
Fiquei tão perplexo diante dessa resposta que não consegui pensar em nada para dizer.
Ele apontou para o chão.
“Mesmo assim, seria muito bom se você me ajudasse a subir até o chão deste planeta!”
“Descer!”, exclamei.
“Não, subir!”, disse Mika. […]
(GAARDER, Jostein. Ei! Tem alguém aí? São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997. p.22-23.)
Disponibilize cópias deste fragmento aos alunos, ou reproduza-o no quadro, e promova a leitura compartilhada e/ou dramática do texto. Ao final da leitura, lance a questão – O que Mika quis dizer com “Quando duas pessoas se encontram e uma delas está de cabeça para baixo, não é tão fácil dizer qual delas está na posição correta”? – e estimule-os a debater a respeito.
2ª Etapa: Índio ou Indígena? O jogo do dicionário (sem dicionário).
A seguir, convide os alunos a jogar O JOGO DO DICIONÁRIO (SEM DICIONÁRIO). Como?
Cada aluno deverá receber uma cópia da FICHA 1 (ÍNDIO), como a sugerida a seguir, preencher, com o significado da palavra indicada, o campo DEFINIÇÃO, e devolvê-la ao professor. Explique que cada aluno deverá escrever a definição que julgar ser a mais correta, ou próxima da correta, da palavra indicada. Eis o objetivo do jogo. Enfatize que a consulta ao dicionário nesta etapa do jogo acarretará a desclassificação do aluno.
Com todas as fichas em mão, leia em voz alta a definição de cada uma das fichas, repetindo-a, quando necessário, sem identificar o autor. Anote-as no quadro ou convide um aluno para anotá-las. Ao finalizar a leitura das fichas, solicite a cada um dos alunos que eleja a definição que julgar ser a mais correta. Anote a pontuação (votação) ao lado de cada definição no quadro.
A seguir, repita o procedimento, entregando a cada aluno uma cópia da FICHA 2 (INDÍGENA), como a sugerida a seguir. Ele deverá preencher, com o significado da palavra indicada, o campo DEFINIÇÃO, e devolvê-la ao professor, como na etapa anterior.
Com todas as fichas em mão, leia em voz alta a definição de cada uma das fichas, repetindo-a, quando necessário, sem identificar o autor. Anote-as no quadro ou convide um aluno para anotá-las. Ao finalizar a leitura das fichas, solicite a cada um dos alunos que eleja a definição que julgar ser a mais correta. Anote a pontuação (votação) ao lado de cada definição no quadro.
Finalizada esta etapa, consulte, com os alunos, um dicionário em busca da definição e etimologia de cada uma destas palavras. E com base nesta definição e etimologia das palavras ÍNDIO e INDÍGENA, compare-a com as anotadas no quadro. A seguir, converse com os alunos a respeito da construção de determinadas representações sobre o “outro”.
Ao encerrar esta etapa, retome a questão – O que Mika quis dizer com “Quando duas pessoas se encontram e uma delas está de cabeça para baixo, não é tão fácil dizer qual delas está na posição correta”? – e lance o desafio: É possível relacioná-la ao “equívoco” de Cristovão Colombo? Solicite aos alunos que elaborem um pequeno texto a respeito.
3ª Etapa: Preguiçoso quem, Cara Pálida?
Inicie esta etapa desafiando os alunos a enumerar outras representações construídas a respeito dos indígenas. E às representações enunciadas, acrescente o estereótipo referido no artigo “Preguiçoso quem, cara pálida?”, que trata destas representações construídas a respeito dos indígenas. Explique que estereótipos funcionam como decodificares capazes de traduzir realidades desconhecidas e compartilhe-o com os alunos.
“Os colonizadores tentavam compreender o indígena usando como parâmetros a cultura e a visão de mundo difundidas na Europa, como se estas fossem um padrão universal. Ao contrário do que pensavam os europeus, religião, direito, poder, propriedade, cultura e trabalho não são temas universais, encontrados aqui e em outras partes. A indolência dos indígenas se revelou um poderoso estereótipo – ainda hoje muito difundido – gerado por um absoluto desconhecimento da vida dos nativos. […] Este raciocínio persiste ainda hoje na sociedade brasileira […].” (“Preguiçoso quem, cara pálida?”, de Luís Fernando Pereira.)
Solicite aos alunos que se posicionem a respeito da afirmação de Luís Fernando Pereira: “A indolência dos indígenas se revelou um poderoso estereótipo da vida dos nativos. […] Este raciocínio persiste ainda hoje na sociedade brasileira”. A seguir, projete cenas do filme “Caramuru – A invenção do Brasil”, de modo a problematizar a questão “Preguiçoso quem cara pálida?”.
4ª Etapa: Mas esse homem tão rico de quem me falas não morre?
Nesta etapa, disponibilize cópias, ou transcreva no quadro, o fragmento de “Viagem à Terra do Brasil”, escrito por Jean de Léry, transcrito a seguir.
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs, buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? – Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. – Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? – Sim, disse eu, morre como os outros.” (LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. p.169.)
Explique que “arabutan” é pau-brasil, em tupi, “maírs”, o modo pelo qual os nativos chamavam os franceses, e “perôs”, a forma como os nativos chamavam os portugueses. A seguir, proponha aos alunos que, em grupos, identifiquem no texto as representações em construção. Explore a incompreensão em relação à acumulação de riquezas – “Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?”. E a incompreensão face à incompreensão – “No nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar”. Preguiçoso quem, cara pálida?
Encerre esta etapa, desafiando os alunos a resolver a Questão 31 do Caderno 1 Azul da Prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias do Exame Nacional do Ensino Médio 2011, transcrita a seguir. Espera-se que os alunos identifiquem que a alternativa correta é o item (a).
“Em geral, os nossos tupinambás ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e perôs (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?” (LERY, J. Viagem a Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.)
O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido
a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.
b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.
c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau- brasil.
d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.
Materiais Relacionados
O material a seguir auxiliará o professor na preparação e na realização deste plano de aula
• Ei! Tem alguém aí?, de Jostein Gaarder. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997.
• O Dicionário Aulete Digital encontra-se disponível para download em: http://www.auletedigital.com.br/, Acesso em: 14 fev. 2012.
• O artigo “Preguiçoso quem, cara pálida?”, de Luís Fernando Pereira, encontra-se disponível na íntegra em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/preguicoso-quem-cara-palida, Acesso em: 14 fev. 2012.
• Assista a “Caramuru – A invenção do Brasil” (Direção de Guel Arraes. Brasil, 2001.) em: http://www.youtube.com/watch?v=1d3EkT2Qw6Q Acesso em: 14 fev. 2012.
• Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry, encontra-se disponível em: http://www.rbma.org.br/rbma/pdf/Caderno_10.pdf Acesso em: 14 fev. 2012.
• A respeito das construções de determinadas representações sobre o “outro”, consulte Imagens da colonização: a representação do índio de Caminho a Vieira, de Ronald Raminelli. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
Profa. Me. Ana Pelegrini