Conteúdos
Este plano de aula interdisciplinar aborda o que é o colonialismo, apresentando o conceito de colonização e colonialismo na modernidade, com exemplos de colonização das Américas, África e Ásia, e algumas formas de resistência.
Objetivos
- Debater o conceito de colonização e colonialismo na modernidade;
- Aprender sobre a colonização das Américas;
- Conhecer a colonização da África e da Ásia;
- Identificar outras formas de colonização; e
- Contextualizar algumas formas de resistência.
Conteúdos / Objetos do conhecimento:
- Conceitos de colonização na modernidade;
- Colonização das Américas e expansão marítima;
- Fases do capitalismo;
- Neocolonização de África e Ásia;
- Colonização cultural, política e digital; e
- Decolonialidade e resistência.
Palavras-chave:
Colonização. Colonialismo. Neocolonização. Expansão Marítima. Decolonialidade.
Previsão para aplicação:
4 a 6 aulas (50 min/aula).
1ª Etapa: Alguns conceitos sobre colonização
A palavra “colônia” tem origem no latim, e há registros bastante conhecidos de expansão territorial realizada em diversas épocas da humanidade, como, por exemplo, o crescimento e a consolidação do Império Romano na Antiguidade e o Império Mongol durante a Idade Média. Apesar disso, neste plano abordaremos o processo histórico iniciado durante a Idade Moderna, conhecido como colonialismo, que adquire características mundiais a partir do advento do capitalismo em suas diversas fases e que está intimamente ligado à ideia de imperialismo, fenômeno específico, novamente, do capitalismo.
Como definir modernidade?
Convencionou-se a chamar de Idade Moderna aquela compreendida entre os anos de 1453, com a Conquista de Constantinopla pelo Império Otomano, e 1789, com a tomada da Bastilha, marco da Revolução Francesa.
O período está entre a Idade Média e a Idade Contemporânea atual. Essa definição foi dada pelos iluministas, durante o século XVIII, momento no qual a história e outras ciências passaram a ter metodologia e prática independentes da filosofia.
A periodização tal como está estabelecida parte de uma visão eurocêntrica, já que os principais eventos e demarcadores de transição estão localizados no continente europeu ou dizem respeito à cultura dessa região.
A divisão em épocas e períodos também foi fortemente influenciada pela visão evolucionista em voga naquele momento, o que também foi um fator essencial que justificou para os europeus o colonialismo. Veremos adiante.
Nesse sentido, é importante saber que estamos nos referindo aos europeus a partir dessa concepção, ou seja, as mudanças que ocorreram na Europa tiveram grande influência de povos africanos e asiáticos, graças aos avanços sobre esses continentes e ao domínio da história e da narrativa pelos próprios europeus.
Além disso, foi a partir desse período que se iniciou a expansão marítima e a colonização das Américas, atingindo de forma agressiva e violenta também os povos que já habitavam essa região.
Do ponto de vista filosófico e científico, o que está imediatamente precedente à Idade Moderna é o Renascimento Europeu. Esse fenômeno surgiu principalmente na Itália, entre os séculos XIV e XVII e teve reflexos na política, ciência, economia e cultura.
O nome foi dado pelos filósofos modernos, que consideram que o período da Idade Média foi uma época perdida, na qual a Europa habitou em sombras, chamada também de Idade das Trevas. Para esses filósofos, portanto, durante o feudalismo, houve a interiorização da população e a agrarização da economia, além do domínio da Igreja Católica e o analfabetismo generalizado da população.
O Renascimento se inspirou, de um ponto de vista artístico e filosófico, na Antiguidade Clássica, sobretudo em valores gregos e romanos, retomando a arquitetura, a filosofia e as artes clássicas. Pelo lado econômico, houve um retorno das cidades e do comércio. As cidades também favoreceram trocas de ideias por conta da proximidade entre as pessoas.
Toda essa renovação europeia também foi possível graças ao contato com os povos árabes e asiáticos. É preciso compreender que a Europa não estava isolada no mundo e, sim, em amplo contato com as culturas conhecidas até então.
As regiões em questão mantinham amplas relações com o Norte da África, China e Índia graças ao comércio comandado, sobretudo, pelos genoveses e venezianos, usando o mar Mediterrâneo como passagem.
O comércio com a Ásia e África favoreceu o crescimento de grupos mercantilistas e de uma burguesia comercial que depois formou a Companhia das Índias Orientais, que será de extrema importância para o processo de colonização que trataremos a seguir.
Além do contato comercial com a Ásia, as Cruzadas resultaram em trocas culturais com os povos turcos e árabes no Oriente Médio.
O Império Turco Otomano criou universidades e manteve grande parte dos escritos gregos e romanos traduzidos para o árabe, o que fez com que o material com o qual a Europa perdeu contato ao longo da Idade Média pudesse ser resgatado também por essa via.
Além disso, também veio dessa região diversos instrumentos de navegação que permitiriam a navegação marítima transoceânica.
O período do Renascimento ficou conhecido pelos valores antropocentristas e individualistas, o qual pregava que o homem era o centro do universo e a perfeita criação de Deus, e que precisava e podia expressar sua personalidade, talento e valores.
Também o racionalismo e o cientificismo são características desse período. De acordo com esses princípios, a razão estaria em oposição à mitologia e ao misticismo, e a ciência poderia explicar, por meio da experiência, os fenômenos da natureza e as grandes hipóteses.
A Conquista de Constantinopla, em 1453, foi o marco inicial da Idade Moderna. Não significou de forma alguma que toda a Europa tenha acompanhado as mudanças expressadas nesse período, mas esse se tornou um demarcador importante, visto que significou a tomada da capital do Império Bizantino e o predomínio islâmico sobre essa região.
Uma das principais características da Idade Moderna é que esse é o momento de transição do feudalismo para o capitalismo – em primeiro lugar capitalismo mercantilista e depois, metalista.
A expansão marítima e a colonização das Américas são a grande marca do período e, com isso, a mundialização do comércio europeu, do sistema colonial e metropolitano e a escravidão africana e transatlântica.
Em conjunto com o fim do feudalismo, inicia-se um processo de unificação de alguns países, como Portugal, por exemplo, e a centralização do regime por meio do absolutismo.
Ao mesmo tempo, também ocorreu a Reforma Protestante, que retirou a exclusividade da Igreja Católica sobre a fé e a propriedade de terra na Europa e que também gerou um profundo rompimento de pensamento com aquilo que estava até então consolidado como certo.
O protestantismo, em suas diversas vertentes, trouxe para o centro da fé o homem e sua capacidade de interpretação da Bíblia e das escrituras independentemente de um clero especializado para tanto, o que gerou profunda revolta de camponeses contra os cercamentos e a expulsão de trabalhadores rurais para as cidades recém-crescidas.
É importante lembrar também que é a partir do século XVI que a imprensa é inventada e, portanto, passa a ser possível ter acesso não só à Bíblia, mas também a outros livros e panfletos.
O crescimento das cidades e os cercamentos das terras trouxeram até então uma lógica que não estava presente: a da propriedade privada dos meios de produção.
No feudalismo, as terras pertenciam ao rei ou à Igreja Católica, mas o senhor feudal, um nobre, mantinha o direito do usufruto enquanto vassalo deste.
Os servos eram livres, mas presos à terra, já que as casas que viviam não lhes pertenciam verdadeiramente e somente enquanto havia alguém ali para manter a propriedade da pequena gleba.
Com o crescimento do comércio e o início da Revolução Industrial, a propriedade passa a ser de mercadores e de novos industriais, por meio do acúmulo de capital e da posse privada de ferramentas, terras e instrumentos.
Os novos trabalhadores, antigos camponeses, passam a ter somente sua força de trabalho para vender, sendo livres, por um lado, e presos ao trabalho, por outro.
Todas essas mudanças na Europa durante esse período é o que convencionou-se chamar de Modernidade. Novamente, essa denominação está bastante demarcada na Europa, sobretudo a Europa Ocidental, em países como França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Holanda e entre outros.
Os filósofos iluministas, na maioria franceses, atribuíram determinadas características em oposição aos séculos anteriores, sobretudo a partir da ideia de República desenvolvida em contraposição ao regime Absolutista, muitas vezes denominado Antigo Regime, derrubado na Revolução Francesa.
Os Iluministas estavam, por sua vez, no momento final da Idade Moderna e no subsequente, no período que chamamos de Idade Contemporânea. É importante deixar claro que a palavra contemporâneo é aquele que está no mesmo tempo, ao mesmo tempo que o outro, logo “Idade Contemporânea” não é exatamente uma definição como é a da Antiguidade, Idade Média e Moderna, mas sim, aquele tempo no qual vivemos hoje.
Nesse sentido, é possível que essa data mude de nome em um futuro e muitos historiadores ainda debatem se de fato houve uma mudança que justificasse a mudança de nome ou ainda se esse período poderá ser classificado como pós-moderno e etc.
No século XVIII, no início da Idade Contemporânea, portanto, também chamado pelos próprios iluministas de “Século das Luzes”, teve algumas características para a política, religião, cultura e economia de modo geral.
Para os filósofos desse período, a Europa estava saindo da escuridão e entrando em período de vigorosa expansão, a começar pela Revolução Francesa que iniciou a ideia de República, em oposição ao absolutismo.
Para os europeus, imbuídos da ideia evolucionista, isso significava que estavam à frente das outras nações em relação ao modo de governo, já que agora eram capazes de escolher seus representantes e não somente acatar aqueles que tinham seu posto por hereditariedade.
Nesse sentido, alguns elementos são importantes de apontar aqui: em primeiro lugar, o racionalismo em oposição ao teocentrismo; em segundo lugar, a meritocracia e em terceiro lugar, o liberalismo econômico.
Para os filósofos franceses do iluminismo, todas essas características tornavam impossível a existência da monarquia e, sobretudo, da monarquia absolutista. Se Deus não era mais o centro do universo, não era ele quem determinava o líder político, mas o mérito desse de disputar entre seus pares esse posto e se provar o mais capaz de estar ali.
A intervenção estatal na economia por meio do mercantilismo também não era mais bem vista, já que favorecia um pequeno grupo – os nobres e a Igreja – que, como já dito, não tinham o mérito para ocupar o lugar que estavam além de sua herança genética.
Os iluministas eram também liberais e pregavam um livre mercado, fundamentado na competitividade e na meritocracia, partindo da ideia de que os preços se autorregulariam a partir da concorrência e a riqueza de cada um seria justificada pela capacidade de enriquecimento.
O absolutismo também impedia a liberdade individual e a liberdade de expressão e de imprensa, porque tendo o rei como único legislador, o regime se constituiria em uma tirania, não tendo espaço para críticas a ele e à própria nobreza.
Os iluministas defendiam, portanto, que todos eram iguais perante a lei e que deveria haver legislações e constituições que não dependiam apenas de um único a decidir, mas a diversos grupos como o parlamento, o judiciário e entre outras possibilidades.
O fim da modernidade é também o período de consolidação do capitalismo e de sua forma expansionista, o imperialismo. São essas características desse período histórico específico que fundamentam o que se chama de colonialismo em suas diversas fases.
O que é afinal, colonialismo?
Colonialismo é uma dominação territorial, política, econômica, cultural, linguística, religiosa e administrativa de determinado povo, nação, país ou região.
Ela sempre é violenta, mesmo quando essa violência não se expressa por meio de guerras ou dominação armada, porque a dissolução de modos de vida tradicionais em prol de uma nova forma de vida imposta de forma externa é sempre uma violação de identidades e de particularidades culturais de determinado povo.
O nascimento e consolidação do capitalismo impôs algumas necessidades econômicas aos europeus. São exemplos disso, a exploração de mão-de-obra, a exploração de matérias-primas e recursos naturais e a expansão de mercados.
O capitalismo é um modo de produção baseado no expansionismo e no acúmulo de capital e, nesse sentido, busca expandir sua influência por todas as formas de vida do planeta.
Em conjunto com o colonialismo, o imperialismo também atua sobre os dominados. Isso porque, as colônias anexadas à metrópole fazem parte de um grande império que em conjunto tenta apresentar de forma uníssona a mesma cultura, língua e religião.
O imperialismo também serve para fomentar e facilitar a competição entre as diferentes potências capitalistas e permitir com que, por meio da exploração dos recursos naturais e humanos dos locais em questão, possam estar em pé de igualdade uns com os outros, já que podem produzir sem pagar ou pagando pouco para os povos e territórios dominados.
Economicamente, a exploração colonial é uma das grandes responsáveis pelo exaurimento de recursos naturais em muitos locais e pela pobreza estrutural a que foram deixados alguns países e territórios. É também um dos responsáveis por guerras em países que tiveram suas fronteiras originais alteradas de forma significativa e permanente.
De um ponto de vista cultural, o colonialismo se justifica para o colonizador a partir de algumas ideologias. Para os conquistadores, estão fazendo um bem para o povo colonizado, seja “salvando sua alma” a partir da religião, como houve nas Américas e veremos abaixo, ou como houve na África e na Ásia, levando o progresso e o futuro para regiões vistas como atrasadas pelos europeus, por não partilharem da mesma forma econômica e política dos dominadores.
A consolidação do capitalismo na Europa veio acompanhada de alguns elementos centrais tais como o cristianismo, seja em sua forma católica ou protestante; a família patriarcal e mononuclear; o liberalismo econômico e a república ou a monarquia parlamentarista.
Essas características foram impostas aos povos dominados a transformaram seus modos de vida, ou seja, sociedades matriarcais se transformaram em patriarcais, locais nos quais as crianças eram criadas de forma coletiva, passaram a ter a família como central.
Religiões locais foram exterminadas e até extintas em prol do cristianismo e do ponto de vista linguístico, a partir do comércio, administração e da escola, também as línguas locais foram se perdendo e tendo a língua do colonizador em seu lugar.
Durante muito tempo convencionou-se diferenciar as colônias entre “povoamento” e “exploração”, no qual o primeiro tipo teria como exemplo principal, os Estados Unidos e, em teoria, seria um local no qual a metrópole, ou seja, o país dominador, exploraria menos e teria como foco principal a moradia.
O segundo tipo, tendo como exemplo, o Brasil, seriam as colônias de exploração, nas quais todo o território e os recursos naturais seriam utilizados pela metrópole apenas sem a intenção de, de fato, ter esse território anexado ao vasto império.
Essas definições, no entanto, não se sustentam. Em primeiro lugar, todas as colônias precisam de povoamento realizado pela metrópole para existirem porque as áreas administrativas e econômicas são dominadas pelos países colonizadores. Em segundo lugar, e mais importante, todas as colônias são de exploração.
Os Estados Unidos foram usados pela Inglaterra ao longo de 300 anos para a exploração de mão-de-obra, de produção de produtos como chá e algodão que, durante a Revolução Industrial, foram essenciais para transformar a metrópole na potência têxtil que foi.
O que diferenciou os EUA dos países da América do Sul não foi a sua forma de colonização, mas o seu processo de independência.
O colonialismo se apoia em questões de supremacia cultural, racial, linguística, religiosa e econômica para se justificar e por isso é tão violento.
Não é um processo findo, ao contrário, seguem diversos exemplos ocorrendo até hoje, por meio de dominação direta com guerras ou de dominação indireta, por conta de acordos comerciais desfavoráveis com países menos desenvolvidos ou culturais pelo domínio do mercado fonográfico, audiovisual, de controle de dados e segurança pública.
Veremos abaixo os principais momentos de colonialismo da história a partir da Modernidade.
2ª Etapa: Colonização das Américas – Expansão marítima
Inspirados pelo Renascimento, pelas novas ciências e pelos novos instrumentos de navegação, os europeus iniciam um processo denominado Expansão Marítima e se lançam ao mar em busca de novos territórios. Não foi um processo isolado e nem tampouco totalmente inocente.
Os europeus não sabiam muito bem o que encontrar, porém imaginavam o que poderia ocorrer. Em 1492, patrocinado pela Corte Espanhola e por mercadores, Cristóvão Colombo, chegou às Américas.
Ele não foi sequer o primeiro europeu a realizar esse processo, mas foi a partir de sua chegada, nesse momento específico da história, que se iniciou o processo de colonização americana.
Durou, em média, 300 anos, teve Espanha, Portugal, Inglaterra, Holanda e França como principais países colonizadores e resultou em intensa exploração de recursos naturais, escravidão e extermínio de povos originários, sua cultura, língua e religião.
Razões da Colonização – Mercantilismo e catequização da população
A Europa durante o período do Renascimento e início da Idade Moderna passou por uma crise com o sistema Feudal e pelo crescimento dos comerciantes que passaram a acumular capital e a gerir suas próprias empresas de exploração comercial.
Em um primeiro momento, essas empresas se concentravam na Ásia, na chamada “Rota da Seda” e no Norte da África, usando sobretudo o Mar Mediterrâneo e seus portos como entrepostos comerciais.
Com a tomada de Constantinopla e a dificuldade para manter essas rotas, surgiu a necessidade de encontrar novos caminhos e locais para chegar na parte mais ao Leste do continente asiático. Além disso, já havia desconfianças sobre a existência de outras terras.
Portugal e Espanha foram os pioneiros da colonização americana, porque já haviam feito sua unificação e se tornado Estados independentes e centralizados, além de absolutistas. Além disso, eram também Estados cristãos o que fazia com que tivessem apoio material, político e financeiro por parte da Igreja Católica.
Tanto o absolutismo, quanto o mercantilismo – por meio da formação da Cia das Índias Ocidentais, que nada mais era que uma unidade entre mercadores, uma empresa privada – quanto também a igreja formaram uma aliança essencial em ambos os países para manter a força da colonização em seus aspectos político, cultural, religioso e econômico dentro dos novos territórios.
Além disso, Portugal também desenvolveu a Nau, um navio que conseguia adentrar o Oceano e navegar por meses sem sofrer grandes avarias graças às suas três velas no lugar de apenas duas.
A colonização feita pela Inglaterra, por sua vez, já ocorreu de forma um pouco diferente, visto que já se conhecia o território americano. Ela iniciou após a Reforma Protestante e a conversão do país para o Anglicanismo e a perseguição de ingleses pelos puritanos.
A França, por sua vez, iniciou esse processo quase concomitante à Inglaterra e dominou os territórios do Caribe e parte da América do Norte. Holanda e outros países tiveram menos êxito, apesar de relevantes no cenário da colonização.
A colonização das Américas, em linhas gerais, se apoiou em três eixos: mercantilismo, escravidão e catequização dos povos originários.
O mercantilismo era baseado em três eixos: o metalismo, a intervenção do Estado na economia e a balança comercial favorável, feita por meio do pacto colonial. O metalismo consistia em explorar os recursos naturais e, sobretudo, minerais para que as monarquias pudessem acumular ouro e metais preciosos, já que era dessa forma que se media a riqueza de um país.
A balança comercial favorável era o equilíbrio entre o preço de compra, que deveria ser sempre menor, e o preço de venda, que deveria ser sempre maior.
Nesse sentido, o Estado intervinha de duas maneiras na economia: controlando os preços de venda de produtos americanos por meio do poder sobre as colônias – Pacto Colonial – e controlando o preço de venda desses produtos dos comerciantes de determinada metrópole para os comerciantes de outra metrópole.
Ou seja, apesar de as companhias de mercadores serem privadas e serem elas que realizavam as vendas e as compras entre si, os reis absolutistas controlavam esse preço na tentativa de manter a balança equilibrada.
O Pacto Colonial, ou Exclusivo Metropolitano, não tinha nada de pacto, ou acordo. Era uma imposição da metrópole sobre a colônia.
De acordo com ele, as colônias não tinham autonomia para realizar comércio sem a mediação da metrópole, ou seja, era necessário primeiro vender para a metrópole, para que essa revendesse ou realizasse outros comércios. Sabemos hoje que havia sim comércio local.
Nos Estados Unidos, o famoso comércio triangular possibilitou também a formação de uma burguesia local, formada por americanos e descendentes de ingleses que já viviam há tempos nas 13 colônias.
Na América do Sul, há fontes que indicam a mesma forma de comércio entre países fora da metrópole. De qualquer maneira, independentemente dessas ocorrências, a maior parte do comércio era realizada por meio do exclusivo metropolitano.
Essa fase também ficou marcada pela ideia de mundialização do comércio para além dos três continentes já estabelecidos e citados anteriormente.
Toda produção realizada nas colônias era feita a partir de mão-de-obra escravizada. Foi usada largamente a exploração de povos africanos em todo continente, mas também a escravização dos povos originários foi relevante.
A escravidão transatlântica é extremamente diferente das outras formas já realizadas até então pelos europeus dentro de seu território. Até aquele momento, não havia precedente na história da retirada forçada de pessoas de seus países, em quantidades absurdas e para levar para outro local, sem que houvesse uma guerra de dominação.
Além disso, pela primeira vez, os seres humanos eram tratados como propriedade e como ativo e não somente como mão de obra. Sendo propriedade, não poderiam obter a liberdade, senão por meio de indenização.
Tal como maquinários em fábricas que começavam a existir nas Américas, os escravizados africanos eram de propriedade de senhores de engenho e fazendas em toda a América.
A escravização dos povos africanos não só deslocou milhares de pessoas de um continente para outro, desorganizando as estruturas familiares e organizativas de África e gerando guerras internas no continente, como inseriu outros grupos de variadas culturas em um território totalmente novo.
O escravidão nas Américas possibilitou que em um momento no qual a população europeia estava passando a receber soldos pelo seu trabalho e a Revolução Industrial estivesse se consolidando, uma enorme parte da produção mundial era feita sem que houvesse a necessidade de pagamento pela sua exploração.
A catequização dos povos indígenas e originários, por sua vez, ajudou na dominação europeia sobre o continente. Realizada sobretudo pelos jesuítas na América do Sul e Caribe e por diversas vertentes do protestantismo na América do Norte, tinha uma forma de agir parecida.
É preciso lembrar que a chegada dos europeus nas Américas em si mesma foi responsável pela morte de milhares de indígenas já que consigo vinham vírus que os povos do continente não estavam preparados para receber e rapidamente tornaram-se epidêmicos.
Os católicos agiam reorganizando os grupamentos indígenas em aldeias e decidindo a partir daí suas lideranças. Faziam também grandes batizados coletivos e mudavam os nomes de batismo dos indígenas para nomes cristãos, normalmente associados à Bíblia.
Esse desmantelamento da cultura, inclusive em nível individual, prejudicou muito a organização dos indígenas em sua resistência e facilitou o domínio dos europeus sobre seus corpos, já que, além de grande mortalidade, ainda havia a violência física e cultural envolvida.
A colonização americana pelos povos europeus foi, portanto, essencial para a prosperidade do continente durante o período da Idade Moderna, como citamos acima.
A possibilidade de se formar uma burguesia que pudesse fazer frente ao regime absolutista, se deu graças ao acúmulo de capital que esse setor pode ter durante o período em que podiam explorar as reservas minerais e naturais de suas colônias, sem que isso fosse um problema.
Ao mesmo tempo, a exploração de uma mão de obra não remunerada permitiu que houvesse toda a possibilidade de organização do trabalho na própria Europa e a consolidação da Revolução Industrial.
A colonização americana acaba na maioria dos países em conjunto com o tráfico internacional de africanos. Ao mesmo tempo, nesses lugares, pode-se falar da formação de outras culturas, culturas próprias de povos dominados e miscigenados em base a violência.
São estados onde convivem diferentes nações e povos e que são marcados pela desigualdade, racismo e violência estrutural. Em países como o Brasil, por exemplo, indígenas ainda lutam pelo direito ao reconhecimento de sua cidadania e direito à própria terra.
A partir desse momento também, inicia-se a formação de grandes impérios de dominação mundial, que passam a dominar de outras formas países sobretudo da África e da Ásia.
3ª Etapa: Colonização africana e asiática – neocolonialismo
No final do século XIX, em 1885, Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Rússia, Suécia, Estados Unidos e Império Turco Otomano, se reuniram em Berlim, Alemanha, para firmar o que ficou conhecido como Conferência de Berlim, que foi a partilha do continente africano entre as potências europeias com o acordo de EUA e dos Otomanos. Iniciava-se oficialmente, sob a desculpa da missão civilizatória, o período conhecido como Neocolonialismo, muito embora ele já estivesse em curso há pelo menos um século.
Razões da Colonização – Revolução Industrial e o fardo do homem branco
O fardo do Homem Branco
Tomai o fardo do Homem Branco
Enviai vossos melhores filhos
Ide, condenai seus filhos ao exílio
Para servirem aos vossos cativos;
Para esperar, com chicotes pesados
O povo agitado e selvagem
Vossos cativos, tristes povos,
Metade demônio, metade criança.
Tomai o fardo do Homem Branco
Continuai pacientemente
Ocultai a ameaça de terror
E vede o espetáculo de orgulho;
Ao discurso direto e simples,
Uma centena de vezes explicado,
Para buscar o lucro de outrem
E obter o ganho de outrem.
Tomai o fardo do Homem Branco
As guerras selvagens pela paz
Enchei a boca dos famintos,
E proclamai o cessar das doenças
E quando o vosso objetivo estiver próximo
(O fim que todos procuram)
Assisti a indolência e loucura pagã
Levai toda sua esperança ao nada.
Tomai o fardo do Homem Branco
Sem a mão de ferro dos reis,
Mas o trabalho penoso de servos
A história das coisas comuns
As portas que não deveis entrar,
As estradas que não deveis passar,
Ide, construí com as suas vidas
E marcai com seus mortos.
Tomai o fardo do Homem Branco
E colhei vossa recompensa de sempre
A censura daqueles que tornai melhor
O ódio daqueles que guardai
O grito dos reféns que vós ouvi
(Ah, devagar!) em direção à luz:
“Por que nos trouxeste da servidão,
Nossa amada noite no Egito?”
Tomai o fardo do Homem Branco
Não tentai impedir
Não clamai alto pela Liberdade
Para ocultar vossa fadiga
Por tudo que desejai ou confidenciai
Por tudo que permiti ou fazei
Os povos soturnos e calados
Medirão vosso Deus e vós.
Tomai o fardo do Homem Branco!
Acabaram-se vossos dias de criança
O prêmio leve ofertado
O louvor fácil e glorioso:
Vinde agora, procurai vossa virilidade
Através de todos os anos difíceis,
Frios, afiados com a sabedoria adquirida,
O reconhecimento de vossos pares.
(Rudyard Kipling)
O poema acima foi escrito pelo indiano filhos de aristocratas Rudyard Kipling, em 1894 e expressa o sentimento e a justificativa europeia para a colonização de África e Ásia durante parte dos séculos XIX e XX: levar o progresso e a evolução para países e povos atrasados que ainda não haviam passado pela etapa da República e da democracia que os países europeus haviam passado. Mas suas razões eram mais econômicas e políticas que culturais propriamente ditas.
Após a Revolução Industrial e os processos de independências dos países americanos, os estados europeus, sobretudo a Inglaterra, precisavam de outros locais para explorar a matéria-prima e os recursos minerais, bem como mão-de-obra barata ou gratuita e mercado de escoamento de produtos e mercadorias.
Era uma necessidade expansão do sistema capitalista para a manutenção da produção. Enquanto na Europa os trabalhadores já estavam se organizando para exigir melhores condições de trabalho, nas Américas a extração de matéria-prima e produtos primários não era mais realizada por escravizados.
Os países europeus, portanto, voltaram suas forças para a exploração da população desses países. Não foi uma tarefa fácil e houve muita resistência das populações locais, em alguns casos resultando em guerras de dominação. Alguns países se tornaram impérios, sendo o maior deles o Império Britânico.
Diferentemente do que houve durante o período da colonização americana, não havia somente uma forma de organização colonial, mas diversas maneiras de organizar essa dominação.
Em alguns casos a colonização foi direta, como o caso do Congo, dominado pela Bélgica por meio do Rei Leopoldo II. Ou ainda os países dominados por Portugal, como Angola e Moçambique.
Outros países como a França, por exemplo, e a Inglaterra, utilizavam formas mistas de administração, na Argélia, no caso da França e da Índia, no caso da Inglaterra, tendo parte da população local assimilado aos valores do colonizador e trabalhando como parte administrativa e organizativa local.
Já em alguns casos a dominação era de protetorado, ou seja, não havia nenhuma forma de administração colonial direta, mas acordos de exclusividade comercial e ingerência sobre a política local.
Apesar dessas diferenças, algumas coisas se repetiam em todos os casos. O tratamento subalterno dado aos nativos de cada região que se mantinham sem direitos políticos, administrativos ou até direitos humanos como acesso à moradia, comida, educação, água e etc.
Em todos os locais de domínio colonial desse período vigorava regimes de apartheid ou estatutos diferenciados para cada um dos grupos sociais. Em muitos locais o trabalho era forçado e não remunerado.
Em outros, as potências europeias aproveitaram ou criaram rixas locais, que se tornaram guerras longas. Em todos os casos, aproveitou-se de uma divisão, causada ou já existente, para dominar as populações a partir do afastamento de sua cultura, valores e modos de vida tradicionais.
Ao longo do século XIX, a Europa já havia passado por algumas mudanças muito significativas para aquele momento.
A maior parte dos países já havia chegado a forma mais próxima da atual, passando por unificações e formação de estados-nação, em sua maioria parlamentaristas ou republicanos.
Além disso, as ciências atingiram outro patamar, porque além de se tornarem independentes da filosofia, passaram a contar com o método científico, o que a afastava da teologia e fazia com que tivesse, mais próxima da objetividade, já que as experiências e comprovação dos pares, seria capaz de validar as hipóteses e os problemas levantados pelos cientistas.
Isso também levou a um profundo racionalismo no qual acreditava-se ser possível medir, determinar, prever e cientifizar qualquer coisa.
A teoria evolucionista de Charles Darwin, havia se tornado popular e tornou-se uma forma de enxergar não só a adaptação das espécies ao meio, mas também do ser humano, como se, do ponto de vista social, também houvesse etapas que precisavam ser necessariamente passadas por todas as sociedades.
A história da humanidade passou a ser vista por meio dessa lente também, sendo as sociedades sem escrita menos evoluídas e as sociedades europeias, que haviam passado e consolidado o capitalismo e a se tornado repúblicas ou monarquias parlamentaristas, o fim da linha de chegada. A parte mais evoluída e bem acabada da sociedade humana.
A etnografia é uma ciência que utiliza esses critérios para avaliar as sociedades humanas. A partir dela, chegou-se a conclusão que os povos africanos e asiáticos precisavam atingir essa evolução e que essa seria uma tarefa, um “fardo”, para o homem branco e europeu, civilizado.
De acordo com etnografia, as sociedades sem escrita – ágrafas – ainda estariam na pré-história e seriam, portanto, selvagens. As sociedades absolutistas ou déspotas ainda não haviam atingido também o grau de evolução das sociedades europeias e seriam, nesse sentido, bárbaras.
Essas três palavras – civilização, barbarismo e selvageria – devem ser usadas com cautela, porque trazem esses conceitos e história consigo.
Esse argumento justificou um processo violento de dominação colonial de países africanos e asiáticos e a exploração de seus recursos naturais e minerais, mão-de-obra, muitas vezes não remunerada, e a reorganização estrutural e territorial de diversas sociedades.
Novamente a principal técnica foi o desmantelamento da organização local, tanto do ponto de vista administrativo, social, cultural quanto religiosos e linguístico.
E com isso inúmeras formas de desorganização das sociedades locais, resultando em guerras e embates que não existiam antes do colonizador.
4ª Etapa: As resistências
Sabemos, portanto, que a colonização foi o estabelecimento violento e dominador dos povos metropolitanos sobre os povos originários e colonizados, que alterou as culturas locais, língua e religião e formou novas culturas híbridas em todos os locais que ocorreu.
Nesse sentido, muitas formas de resistência se estabeleceram. O movimento decolonial busca estabelecer e separar as culturas dos países colonizados das culturas e apagamentos impostas pelos colonizadores. É um movimento de resgate e resistência.
Decolonialidade
Vimos acima como o colonialismo e suas formas são processos históricos típicos da Modernidade. Apesar do ápice ter ocorrido durante esse período, esse é um fenômeno que perdura tanto em suas manifestações práticas quanto nas heranças e aspectos culturais, além dos discursos e de outros elementos como opressão racial, de gênero e de classe.
Um dos elementos principais da continuidade dessa expressão, dentro de um ponto de vista da globalização, é a divisão entre as pessoas em diferentes níveis ou raças, o que auxilia na dominação e é uma das principais heranças da colonização.
Dentro do fenômeno do colonialismo, um dos mais relevantes é o da colonialidade do pensamento e do saber. Partindo do pressuposto de que para os modernos existia a ideia de cultura civilizada, bárbara e selvagem, isso também se refletiu na maneira de contar a história de cada um dos povos dominados e na forma de ensinar.
Nesse sentido, o currículo escolar, por exemplo, as datas comemorativas de calendário e outros eventos são pautados não pela cultura local ou pelas culturas subalternas, mas pela cultura do colonizador e pela história de dominação como vitória.
Um exemplo desse fenômeno de pensamento está em ignorar conhecimentos que são muito mais práticos do que teóricos no campo da história.
De acordo com os modernos, na linha do tempo da história, tudo aquilo que está antes da invenção da escrita pelos povos sumérios em 3500 antes de Cristo, é chamado de “pré-história”, nesse sentido, todos os povos que ainda no século XVIII ou XIX não escreviam eram vistos por esses teóricos como povos que não tinham entrado no período histórico, ou seja, ainda estavam na pré-história.
Muitos povos do continente africano, asiático e também povos originários da América não tinham escrita, mas nem por isso deixavam de ter história e de ter história registrada por meio da cultura oral. Para alguns grupos étnicos africanos, por exemplo, a figura do griot, contava e preservava a história de determinado povo.
Além da colonização do saber, a colonização do ser também é relevante para opressão e apagamento de diversas formas de viver e de amar. Um exemplo disso é a imposição até mesmo jurídica da forma de vida familiar.
Após a Revolução Francesa, a família composta por pai, como provedor da família – patriarca – e a mãe e filhos enquanto propriedade deste passou a ser o núcleo central da sociedade, sendo responsável exclusiva pela manutenção, educação, alimentação e etc dos seus membros mais novos.
Antes da expansão colonizadora e capitalista, não é possível falar de um único modo de vida. A diversidade de formas de viver é a realidade da maioria dos povos.
Podemos falar de grupos que viviam de forma coletiva e criavam as crianças por todos, podemos falar de sociedade matriarcais, podemos falar de sociedades nas quais homens e mulheres tinham vários companheiros e companheiras, podemos falar de sociedades nas quais era naturalizada a escolha de gênero. Podemos falar também de sociedades violentas até.
A questão importante nesse caso, é saber que a imposição por uma única forma de viver em todo o mundo vem com o processo de colonização e imperialismo e está estritamente ligada à forma cristã de enxergar o mundo, já que essa configuração familiar, por exemplo, é a mesma da Bíblia.
Nesse sentido, se há uma forma “certa” de ser e essa forma está ligada a religião cristã, aos europeus e à família mononuclear, todos aqueles que estão fora dessa norma são vistos como inferiores ou atrasados, por exemplo, a população LGBTQIAP+, negros, indígenas e membros de outras religiões, como islâmicos ou candomblecistas, por exemplo.
Essa suposta inferioridade é a que justifica agressões e guerras de dominação e extermínio, desumanizando grupos populacionais inteiros.
A decolonialidade é um processo e um movimento de resgate das culturas tradicionais, por um lado, e de resistência às manifestações contemporâneas da cultura subalterna, por outro.
São expressos no dia-a-dia pelos movimentos sociais, tais como movimento negro, feminista, LGBTQIAP+, movimento pelos direitos indígenas, movimentos contra construções de barragens e etc.
É importante pensar também nos movimentos de valorização das periferias e da cultura periférica das grandes cidades brasileiras com o resgate e valorização do funk, do RAP e do samba, por exemplo.
No Brasil, a Lei 11645/2008, de obrigatoriedade de história e cultura indígena e afro-brasileira nas instituições de ensino básico de todo país foi fruto de intensa luta dos movimentos negro e indígena ao longo de décadas e busca contar a história de parte dos povos que compõe a nação para além somente da história contada pelo colonizador por meio de um currículo europeu que mistura a história da Portugal e a do Brasil como se fossem continuidade uma da outra.
Da mesma maneira, a lei de cotas 12.711/2012, visa diminuir a diferença de ingresso entre pretos, pardos e indígenas e brancos na universidade, reconhecendo um passado escravagista e uma atualidade racista do país que se impõe desde o ensino superior e suas escolhas de pesquisa, até o ensino básico e o ensino nacional.
5ª Etapa: Pesquisa
Nesta etapa, os alunos podem fazer uma atividade de pesquisa, que pode ser um trabalho escrito ou uma apresentação. Ou, ainda, um debate em sala de aula com temas de colonialismo na modernidade e em temas menos abstratos e mais próximos aos estudantes.
Algumas ideias de temas que podem ser debatidos:
- Cinema: domínio de Hollywood, Oscar, cinema de ação e superproduções;
- Música: predomínio de valorizadas pela indústria fonográfica em prol das músicas populares produzidas nas periferias;
- Padrão de beleza: branco, magro, contra corpos dissidentes e fora da estrutura europeia e americana;
- Esportes: supervalorização do futebol masculino, sobretudo da Europa, em oposição a outros esportes ou até do futebol feminino;
- Punitivismo: analisar as razões de mais pessoas encarceradas serem pretas em países como Brasil e Estados Unidos.
Esses debates podem ser ampliados para outros temas, caso o/a professor/a e os/as estudantes achem relevante.
6ª Etapa: Filme – Ex-pajé
Nesta etapa, é possível exibir o filme “Ex-pajé”, para os estudantes assistirem, disponível no Netflix. Abaixo, a ficha técnica e a sinopse:
Ficha Técnica
Título: “Ex-Pajé”
Nacionalidade: Brasileira
Direção: Luiz Bolognesi
Duração: 80 minutos
Classificação: Livre
Sinopse
Perpera viveu na floresta sem contato com os brancos até os 20 anos de idade. Era um homem poderoso, do povo Paiter Suruí, até o contato com o homem branco, em 1969.
Após ser acusado por um pastor evangélico de ter parte com o Diabo, é constrangido a se tornar um porteiro da igreja evangélica, renunciando aos seus poderes de pajé.
No entanto, essa missão comandada pelo pastor intolerante é posta em xeque quando alguém da aldeia vê a morte de perto e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta mostra-se indispensável.
Crédito: É tudo verdade
Ao passar um filme em sala de aula, algumas coisas são importantes, no que diz respeito ao papel do professor enquanto mediador:
1) Sempre assistir o filme em casa, fazendo anotações sobre as partes mais relevantes para aquilo que gostaria que a sala refletisse;
2) Realizar com a turma uma discussão sobre as diferenças entre as fontes ficcionais – como filmes, por exemplo –, demonstrando que os diferentes autores e diretores fazem seleções e recortes do que acreditam ser o mais relevante;
3) Discutir sobre a indústria do cinema, televisão e streaming; e
4) Apresentar o diretor, mostrando outras obras e vieses que ele pode ter.
Após a exibição do filme, pode ser feito um debate sobre o que os estudantes acharam. Uma ou mais pessoas podem anotar as principais conclusões para fazer um resumo coletivo do filme, a ser compartilhado com as demais turmas da escola.
7ª Etapa: Exercícios de vestibular
1) (UNICAMP) Os estudos históricos por muito tempo explicaram as relações entre Portugal e Brasil por meio da noção de pacto colonial ou exclusivo comercial. Sobre esse conceito, é correto afirmar que:
A) Trata-se de uma característica central do sistema colonial moderno e um elemento constitutivo das práticas mercantilistas do Antigo Regime, que considera fundamental a dinâmica interna da economia colonial.
B) Definia-se por um sistema baseado em dois polos: um centro de decisão, a metrópole, e outro subordinado, a colônia. Esta submetia-se à primeira através de uma série de mecanismos político-institucionais.
C) Em mais de uma ocasião, os colonos reclamaram e foram insubordinados diante do pacto colonial, ao exigirem sua presença e atuação nas Cortes dos reis ou ao pedirem a presença do Marquês de Pombal na colônia.
D) A noção de pacto colonial é um projeto embrionário de Estado que acomodava as tensões surgidas entre os interesses metropolitanos e coloniais, ao privilegiar as experiências do “viver em colônia”.
Gabarito: B.
Crédito: Projeto Agatha
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
2) (Fepese) Foram elementos impulsionadores da colonização da América, no século XVI:
1) Conversão dos povos gentios ao Catolicismo.
2) Possibilidade de localizar metais preciosos.
3) Excedentes populacionais na península Ibérica.
4) O fim da União das Coroas Ibéricas.
5) Garantir a posse dos territórios da América.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
a) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 5.
b) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
c) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 5.
d) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
e) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5.
Gabarito: A.
Crédito: Mundo Educação
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
3) (FGV-RJ) Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, representantes de países europeus, dos Estados Unidos e do Império Otomano participaram de negociações sobre o continente africano. O conjunto de reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de Berlim, tratou da:
a) incorporação da Libéria aos domínios norte-americanos, em troca do controle da África do Sul pela Inglaterra e Holanda.
b) independência de Angola e Moçambique e da incorporação do Congo ao império ultramarino português.
c) ocupação e do controle do território africano de acordo com os interesses das diversas potências representadas.
d) condenação do regime do Apartheid estabelecido na África do Sul e denunciado pelo governo britânico.
e) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à transformação do Egito em protetorado da Alemanha.
Gabarito: C.
Crédito: Brasil Escola
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
4) A política imperialista consistia na busca, principalmente, de novos mercados consumidores para os países industrializados e foi assim que vários países da África e da Ásia sofreram com a prática da neocolonização nos séculos XIX e XX. Portanto, sobre a justificativa construída pelas potências europeias para invadir as nações do continente africano e asiático é correto dizer que:
A) As potências europeias justificavam a invasão nos países periféricos afirmando que essa ação contribuiria para o desenvolvimento industrial e que incentivaria a adoção de um regime socialista nos países asiáticos.
B) As principais alegações utilizadas na prática do Imperialismo foram as teorias darwinistas que defendiam a superioridade cultural dos países europeus, sendo eles os países que levariam o progresso e o desenvolvimento social para os países da África e da Ásia através da missão civilizadora.
C) Uma das justificativas era que os europeus aprenderiam técnicas industriais com os africanos e asiáticos, o que acarretaria no desenvolvimento econômico e científico dos países desenvolvidos.
D) O fardo do homem branco era uma das legitimações europeias durante a política imperialista. Esse fardo consistia numa missão que contribuiria para o desenvolvimento industrial dos países africanos e asiáticos, gerando assim o crescimento da burguesia local, fazendo com que os países não desenvolvidos tivessem suas próprias indústrias.
Gabarito: D.
Crédito: Brasil Escola
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
5) (UFPE – 2002) A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o domínio dos países europeus sobre a África e a Ásia foi denominado neocolonialismo. Sobre o resultado da junção desses dois fenômenos – o imperialismo e o colonialismo – na África e na Ásia, é correto afirmar que:
A) O imperialismo e o neocolonialismo ajudaram os povos africanos e asiáticos a saírem de seu atraso secular, possibilitando-lhes o acesso ao progresso.
B) A segunda Revolução Industrial, o capitalismo monopolista e os ideais de progresso estão associados ao imperialismo, ao neocolonialismo e ao completo domínio dos Estados Unidos, no final do século XIX.
C) A maior beneficiária de todo o domínio imperialista e do neocolonialismo na Ásia e África foi a classe operária, em face do pleno emprego da indústria.
D) Através do imperialismo e do neocolonialismo, as elites econômicas e políticas inglesas construíram a imagem de que eram o modelo de cultura e civilização a ser imitado em todo o mundo.
Gabarito: D.
Crédito: Brasil Escola
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
6) (UNICAMP) No Brasil, um exemplo de história que precisa ser narrada é a dos movimentos em defesa dos direitos que hoje reconhecemos como movimentos LGBTQIA+. Tais movimentos eclodiram como um ato de resistência em plena ditadura civil-militar, marcada pela repressão e por ideais conservadores. Naquele contexto, a busca por visibilidade passou a ser compreendida como um dos elementos fundamentais para a conquista da cidadania. Entre outras coisas, os ativistas defendiam que os direitos políticos, sociais e civis se tornam socialmente legítimos para os cidadãos quando envolvem o direito aos meios de comunicação e à livre expressão.
(Baseado em Vinicius Ferreira e Igor Sacramento, Editorial: Movimento LGBT no Brasil: violências, memórias e lutas. Reciis – Rev Eletron Comun Inf Inov Saúde. 2019 abr.-jun.13(2): p. 234-239.)
A partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta acerca da historicidade dos movimentos políticos identitários e suas estratégias políticas de ação.
A) Esses movimentos eclodiram na segunda metade do século XX, foram perseguidos e silenciados pela ditadura militar e retornaram à cena pública após a instauração de um regime democrático.
B) Por sua capacidade de obter alcance social, desde a década de 1970, as mídias são ferramentas para a construção de uma cidadania plena, sendo a busca por visibilidade, portanto, uma das estratégias de ação do movimento LGBTQIA+.
C) O Brasil do século XX construiu-se como uma democracia racial, o que garantiu aos movimentos políticos e identitários nacionais o acesso aos direitos civis, políticos e sociais, esvaziando as agendas dos militantes LGBTQIA+.
D) Na atualidade, a onda de crimes de homofobia e transfobia estimulam o movimento LGBTQIA+ a rever a pauta da visibilidade dos sujeitos, tornando a militância mais discreta e voltada para o espaço privado da ação dos indivíduos.
Gabarito: B.
Crédito: Vestibulares Estratégias.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
7) (Unioeste) O neologismo empoderamento vem sendo empregado por alguns movimentos reivindicatórios para indicar a necessidade de fortalecimento da identidade de grupos sociais historicamente oprimidos e subalternizados. Apesar da polissemia do termo empoderamento, marcado pela disputa acirrada na determinação de seu conteúdo conceitual, pode-se chegar a uma definição instrumental do conceito. Neste sentido, empoderamento designa uma série de ações internas e externas, efetuadas no sentido de favorecer a emancipação política e social de indivíduos e grupos sociais há muito tempo oprimidos. (BERTH, Joice. O que é empoderamento? Belo Horizonte: Letramento, 2018.)
Considerando o enunciado exposto, assinale a alternativa CORRETA.
A) O empoderamento significa retirar poder dos pobres para dar ao Estado.
B) O empoderamento significa a imposição estatal de normas de conduta.
C) O empoderamento significa o fortalecimento do poder eclesiástico.
D) O empoderamento se refere ao processo de autoafirmação, autovalorização e de reconhecimento social de indivíduos/coletividades subalternizados em processo de emancipação.
E) O empoderamento se refere ao estabelecimento da tutela estatal sobre os grupos sociais subalternizados que dependem de assistencialismo.
Gabarito: D.
Crédito: Vestibulares Estratégia
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
8) (UFU) As desigualdades sociais, étnicas e culturais existentes no Brasil fazem com que exista uma mobilização de grupos, exigindo atendimento às necessidades humanas básicas, garantia de direitos e de deveres iguais. O movimento negro, após anos de debate e de luta por seu reconhecimento e por sua história, passou a ter uma data, 20 de novembro, para que esse debate fosse realizado e para mostrar a importância de refletir sobre a posição dos negros na sociedade.
Contudo, o movimento negro ainda possui algumas bandeiras e pautas para realizar.
Assinale a alternativa que contém somente reivindicações e pautas desse movimento.
A) Cotas em universidades públicas, igualdade salarial entre gêneros e acesso igualitário à previdência social.
B) Redistribuição de terras aos sem-terra, acesso igualitário às escolas e à educação superior e reconhecimento do casamento civil entre homossexuais.
C) Fim da diferença salarial entre negros e brancos, acesso igualitário às escolas e à educação superior, preservação e reconhecimento da herança cultural afro-brasileira.
D) Reforma agrária, combate às discriminações de gênero e à exploração do trabalhador urbano.
Gabarito: A.
Crédito: Vestibulares Estratégia
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
Materiais Relacionados
- Para ler mais sobre a Idade moderna:
“O que é Modernidade” – site Brasil Escola – RODRIGUES, Lucas de Oliveira.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Idade Moderna” – site Brasil Escola – SILVA, Daniel Neves.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
- Para ler mais sobre Colonialismo:
“Colonialismo” – site Toda Matéria.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Colonialismo” – site InfoEscola – ARAÚJO, Felipe.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Colonialidade e Decolonialidade: você conhece esses conceitos?” – Site Politize! – AVILA, Milena Abreu.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
- Para ler mais sobre a colonização das Américas:
“Descobrimento da América” – Site Mundo Educação – SILVA, Daniel Neves.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Expansão Marítima Europeia” – Site Brasil Escola – CARVALHO, Leandro.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
- Para ler mais sobre a colonização de África e Ásia:
“’O fardo do Homem Branco’”: exaltação do imperialismo” – Site Ensinar História – DOMINGUES, Joelza Ester.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Neocolonialismo” – Site Brasil Escola – SILVA, Daniel Neves.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
- Para ler mais sobre formas contemporâneas de colonialismo:
“Colonialismo digital, racismo e acumulação primitiva de dados”. – FAUSTINO, Deivison. LIPPOLD, Walter.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
- Para ler mais sobre decolonialidade e resistência:
“Colonialidade e Decolonialidade: você conhece esses conceitos?” – Site Politize! – AVILA, Milena Abreu.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Colonialismo, capitalismo e segmentaridade: nacionalismo e internacionalismo na teoria e política anticolonial e pós-colonial”. – FERREIRA, Andrey Cordeiro.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
“Colonização e descolonização: fundamentos da dominação Ocidental e perspectivas de transformação”. – GODOY, Guilherme Lassabia.
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
Documentário “Guerras do Brasil” – Ep. 1 – “As Guerras da Conquista”
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
Congo e o Rei Leopoldo II da Bélgica – Nerdologia
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
A Era dos Impérios
HOBSBAWN, Eric J. “A Era dos Impérios: 1875-1914”. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2005. 551 pp.
O Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva
FREDERICI, Silvia. “O Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Rio de Janeiro: Editora Elefante, 2017, 464 pp.
Plano de aula elaborado pela professora Mayra Mattar Moraes.
Coordenação Pedagógica: prof.ª dr.ª Aline Bitencourt Monge.
Revisão textual: professora Daniela Leite Nunes.