Conteúdos
Visão e deficiência visual
Objetivos
- Refletir sobre nosso conceito de visão e deficiência visual;
- Refletir sobre o excesso de informação audiovisual e sua seleção;
- Refletir sobre os vários sentidos que nos fazem interagir com o mundo;
- Discutir sobre a exclusão dos deficientes visuais;
- Conhecer o mito da caverna de Platão e suas relações com a cultura contemporânea.
1ª Etapa: Início de Conversa
O documentário Janela da Alma não é um documentário comum, pois tem como objeto de investigação um tema abstrato: “a visão”, “o olhar”. Os diretores entrevistam pessoas que têm diferentes relações com o sentido da visão: alguns são cegos, outros míopes, outros estrábicos; outros trabalham com o olhar (como alguns cineastas, artistas plásticos, fotógrafos, neurologista). O filme discute também a nossa cultura audiovisual e o excesso de informações audiovisuais que nos cercam, nos tornando um pouco “cegos”.
2ª Etapa: Exibição do filme
Não há necessidade de muita explicação antes da exibição do filme, a não ser apresentar os diretores e o tema do documentário.
3ª Etapa: Debate após o filme
Uma pergunta que pode desencadear o debate é sobre qual o depoimento que os alunos mais gostaram. Se não houver tempo para um debate longo em seguida à exibição do filme, os alunos podem apenas registrar o que mais os impressionou, sendo o debate retomado em outro encontro.
4ª Etapa: Temas que o filme aborda
O filme aborda um conjunto de temas que podem ser trabalhados por um ou mais professores. São eles:
Exclusão
• O vereador mineiro Arnaldo Godoy (aos 27’22’’) conta que foi criado em uma casa com muita gente e sua deficiência visual não o excluiu das tarefas e brincadeiras das outras crianças; ele acredita que foi poupado de uma superproteção por parte de sua família, que o manteve sempre incluído. Sua filha conta (aos 29’) que tinha orgulho de levar seu pai cego à escola.
• A cineasta finlandesa Marjut Rimminen (aos 34’30’’), que tinha um problema de estrabismo grave desde a infância, conta que sempre sentiu que sua mãe tinha pena dela, ela sentia a exclusão na escola e, quando pôde fazer uma cirurgia, as pessoas não perceberam a diferença. Ela se deu conta que a lesão era interna.
• O músico Hermeto Pascoal (aos 46’24’’)conta que, quando era criança, brincava com as garotas e achava que sua vista inquieta era uma vantagem, porque as garotas não sabiam pra quem ele estava olhando. Nos extras do DVD, há um outro depoimento de Hermeto que conta que ele foi desprezado por um maestro, com quem queria aprender teoria musical, por ele ter problemas de visão.
• Seria interessante conversar com os alunos sobre a deficiência visual. Há alunos na escola? Convivem com pessoas deficientes em sua família? Saber como eles se sentem ao conviver com pessoas deficientes na rua, ou no transporte público e se eles conseguem se colocar no lugar do outro. Os depoimentos citados acima auxiliam nessa discussão. Também seria interessante que eles pesquisassem quais as conquistas sociais que os deficientes conseguiram no Brasil, nos últimos anos.
O mundo audiovisual em que estamos inseridos
• O professor de literatura Paulo Cezar Lopes, em certo momento do filme diz: “A gente não conhece as coisas como elas são, a gente conhece mediado pela experiência do nosso olhar”. E, em outro momento: “O olhar é uma interpretação. Tudo o que a gente olha está mediado pelos nossos conceitos, nossos valores…” (aos 45’);
• José Saramago diz que nunca estivemos tão próximos da caverna de Platão como na atualidade (56’50’’). “(…) as imagens que nos mostram da realidade substituem a realidade. Estamos num mundo chamado audiovisual, estamos a repetir a situação das pessoas aprisionadas na caverna de Platão, olhando em frente, vendo sombras e acreditando que essas sombras são a realidade”.
• A grande maioria das pessoas dos centros urbanos está conectada à cultura audiovisual: televisão, cinema, internet, games. Seria interessante discutir com os alunos de que forma substituímos a realidade por aquilo que assistimos nessa cultura audiovisual. Será essa a situação da caverna de Platão e a cegueira anunciada por José Saramago?
• O fotógrafo esloveno e filósofo Eugen Bavcar, diz: “A televisão nos propõe imagens prontas e não sabemos mais vê-las, não vemos mais nada… Porque perdemos o olhar interior, perdemos o distanciamento. Em outras palavras, vivemos em uma espécie de cegueira generalizada. Eu também tenho uma pequena televisão e a assisto sem enxergar. Mas há tantos clichês que não é preciso que eu veja fisicamente para entender o que está sendo mostrado.”
Temos tudo em excesso, inclusive informações: o que fazer com elas?
• O cineasta alemão Wim Wenders diz que prefere usar óculos a lentes de contato, porque a armação os óculos o ajuda a enquadrar o que ele quer ver, a selecionar as informações: “sem os óculos tenho a impressão de ver demais”. Ele diz também que “a maioria de nós tem tudo em excesso, o que significa que nada temos” (aos 59’).
• O escritor José Saramago comenta que se ele recebesse 500 jornais por dia, isso não seria útil, o que ele faria com tanta informação? (aos 59’30’’)
• Essa discussão é bem interessante de ser feita com jovens que têm acesso à internet e a “todas as informações do mundo”, porém não sabem o que fazer com elas, nem sabem como transformá-las em conhecimento.
Materiais Relacionados
• O Mito da Caverna, contida no Livro VII de A República, de Platão, é uma das alegorias mais conhecidas dos estudos de Filosofia e se encontra resumida nos seguintes links:
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Um dos mais importantes entrevistados do filme é o escritor português José Saramago, prêmio nobel de Literatura. Entre sua extensa obra há pelo menos dois que se referem ao tema do filme: A Caverna (2000) e Ensaio sobre a Cegueira (1995), este romance adaptado como obra homônima para o cinema, dirigido por Fernando Meirelles, em 2008. A biografia de José Saramago está disponível no seguinte link:
http://josesaramago.blogs.sapo.pt/95699.html