Conteúdos

– Panorama geral da mitologia Grega
– Aspectos éticos e metafísicos entremeados às narrativas míticas
– Interpretações possíveis da mitologia grega e da filosofia

Objetivos

– Compreender o significado da mitologia para a humanidade
– Apresentar alguns aspectos do questionamento filosófico presentes nas narrativas mitológicas
– Pensar a mitologia por meio de uma abordagem contemporânea

1ª Etapa: Início de conversa - Apresentação geral da mitologia grega

Como sondagem inicial, o(a) professor(a) poderá criar a seguinte imagem: suponha que você está se preparando para dormir, mas começa a ouvir um ruído que não sabe de onde vem e não faz ideia da causa. O que você faz? Ignora o barulho e dorme? Faz questão de descobrir a causa, ou simplesmente cria uma explicação do tipo “deve ser o vento” e volta a dormir?

Essa ideia gerará uma grande inquietação, o(a) docente poderá se aproveitar do exemplo e expor que a mitologia funciona como meio de atribuir causas aos eventos misteriosos, trata-se da primeira forma organizada de explicar o mundo, tal como uma criança que crê em diversas fantasias para justificar a incompreensão diante do desconhecido. As explicações mitológicas compreendem tanto questões de ordem universal ou cosmológicas – como no caso de Hesíodo –, como aspectos mais pessoais, subjetivos ou éticos – como vemos em Homero.

O(A) professor(a) poderá fazer essa separação, afinal, o ser humano deseja conhecer tanto o universo como a si mesmo. Esses anseios, que futuramente serão a base da filosofia em seus primeiros movimentos, já constam na mitologia grega na forma de metáfora, de símbolo e de narrativa épica.

2ª Etapa: Exposição e discussão sobre o conteúdo do poema épico Ilíada

Antes de iniciar a exposição e discussão acerca da Guerra de Troia, o(a) docente poderá pedir aos alunos para que falem, como atividade introdutória, sentimentos abstratos que fazem parte da vida humana, em apenas uma palavra, coisas como: amor, ódio, ciúme, vaidade, inveja, paixão, vingança, etc. Conforme os alunos forem falando, o(a) professor(a) irá anotando no quadro.

Após essa etapa, o(a) professor(a) poderá abordar o casamento entre Tétis e Peleu, onde apenas a deusa da discórdia, Éris, não teria sido convidada por Zeus para a festa no Olimpo. Éris, magoada com sua exclusão, provoca um conflito ao enviar uma maçã destinada a deusa mais bela para o lugar onde estavam reunidas Hera, Atena e Afrodite, que passam a disputar para descobrir quem entre elas é a verdadeira dona da maçã, portanto, a mais formosa. A competição entre as deusas pelo título é uma boa oportunidade para expor sentimentos como a vaidade, a cobiça, a vingança e a luxúria, que aparecem como mediadores da relação entre deuses e deusas no decorrer do poema Ilíada.

Elementos próprios da ética já estão contidos nesta narrativa sob a forma de metáforas, assim, o(a) docente poderá ir ligando os trechos da história com os sentimentos elencados pelos(as) alunos(as) no início da aula, conforme aponta quais os elementos do questionamento ético e moral já estariam em evidência.

Na exposição do episódio do rapto de Helena, será possível provocar as salas com a indagação “Helena fez certo em ir com Páris? Ao seguir o coração? Ou mesmo apaixonada ela deveria ter permanecido com seu marido? Afinal, devemos agir sob o domínio da paixão ou escutar a razão?” Caberá ao docente conduzir a discussão.

3ª Etapa: Atividade de interpretação e criação acerca da mitologia

A atividade de criação terá que ser explicada previamente, sugere-se que o(a) professor(a) apresente na primeira aula os termos para a realização. O trabalho consistirá na elaboração de um pequeno sistema mitológico, de forma que cada grupo crie um conjunto de divindades e destaque as características de cada uma delas. Cada grupo deverá expor brevemente a resposta para questões fundamentais, como: De acordo com a mitologia elaborada, como o mundo foi criado? Como o ser humano foi criado? O que acontece com as pessoas depois que morrem? Qual a maneira correta de viver e agir diante das situações cotidianas? O que é o bem e o que é o mal de acordo com a proposta? Sugere-se uma apresentação de até dez minutos para cada grupo. O meio de expressão poderá ser alinhavado pelo(a) docente de acordo com o tempo e as especificidades de cada turma. Entretanto, recomenda-se que sejam utilizadas amplas formas de expressão, tais como apresentação oral clássica, teatro, diálogo, ilustração ou qualquer meio que apresente o sistema mitológico desenvolvido pelos grupos. Será tarefa do(a) professor(a) ir comparando as criações dos grupos com a mitologia grega e com as demandas filosóficas adjacentes.

4ª Etapa: Análise e resolução de questões de vestibular

Uma vez executada a atividade de criação, o(a) professor(a) poderá analisar com os alunos a questão de vestibular apresentada abaixo, que trafega por esse tema:

(UEL – 2007)

“Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER, W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar:

a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia.

b) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica.

c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual.

d)  Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar.

e) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde suas origens.

Análise das alternativas:

– Na primeira alternativa, lemos a afirmação de que a filosofia teria se originado no Oriente, embora haja intensa discussão sobre o assunto, a tradição trabalha com a ideia de que a filosofia é grega, portanto, ocidental. Assim, a primeira afirmação está incorreta;

– Na segunda alternativa, afirma-se que o mito já é filosofia por abordar questões correlatas ao pensamento filosófico. Como foi visto nas aulas anteriores, por mais que os assuntos sejam os mesmos, a forma como são tratados difere, portanto, filosofia e mitologia não são a mesma coisa, assim, a segunda afirmação está incorreta;

– Na terceira alternativa, lemos uma afirmação muito simples, a filosofia é racional, mas só aos poucos se desprende da mitologia e, de fato, isso ocorre, pois num primeiro momento há uma ligação íntima entre filosofia e mito, só muito gradualmente o pensamento filosófico vai criando estatutos próprios e independentes. Portanto a alternativa C está correta;

– A quarta alternativa afirma que há uma dependência do discurso filosófico em relação às narrativas míticas, embora haja uma aproximação evidente da filosofia com o mito – sobretudo em seus desenvolvimentos iniciais – não se pode afirmar que há dependência de um em relação ao outro, a alternativa, portanto, está incorreta;

– A quinta alternativa aponta uma ruptura radical da filosofia em relação à mitologia, como foi trabalhado nas aulas anteriores, o projeto da filosofia não buscava romper totalmente com a mitologia, ao contrário, diversas questões trabalhadas pela filosofia já constavam em meio às narrativas da mitologia, portanto a quinta alternativa está incorreta.

5ª Etapa: Análise dos resultados e conclusão conceitual do tema

Nessa última fase, o(a) professor(a) poderá ampliar a análise e trazer a discussão para o âmbito da mitologia comparada, aludindo a outros sistemas que adotam o politeísmo e que ainda hoje são praticados no mundo, neste quesito, as mitologias indígenas e hindú podem ser suscitadas, mas de forma mais enfática as religiões de matriz afro-americana, os(as) alunos(as) poderão pensar nas relações, aproximações e distanciamentos em relação a estas expressões.

O diálogo com as turmas será fundamental para avaliar as atividades realizadas e pensar como a mitologia grega poderia ser usada para ler as relações entre as pessoas no mundo de hoje. O que significaria, por exemplo, Zeus travando uma batalha contra seu pai? Ulisses tentando voltar para Penélope ao longo de dez anos? Como essas metáforas poderiam ser utilizadas em fatos contemporâneos e em relação às interações humanas?

Materiais Relacionados

1- Recomenda-se que o(a) professor(a) trabalhe com as narrativas clássicas extraídas diretamente dos livros Theogonia e Os Trabalhos e os Dias, do poeta Hesíodo, e Ilíada e Odisseia, do poeta Homero.

2 – Sugerimos a célebre entrevista em vídeo com o pesquisador Joseph Campbell acerca de diversos tipos de interpretação dos símbolos mitológicos. Acesso em 11 de out. de 2018.

3 – Há dois vídeos, muito didáticos, voltados especificamente para a realização do Enem.  A Mitologia Grega – parte 1 – Mito e A Mitologia Grega – parte 2 – Do Mito ao Logos. Acesso em 11 de out. de 2018.

4 – A questão de vestibular trabalhada foi extraída do Blog do Enem. Acesso em 11 de out. de 2018.

Arquivos anexados

  1. Plano de aula – Mitologia grega e filosofia

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