Conteúdos

O governo João Goulart e o golpe de 1964:
– a batalha pela posse de Jango;
– as reformas de base;
– o avanço da mobilização social
– o golpe

Objetivos

Contextualizar histórica e criticamente as circunstâncias político-sócio-econômicas que antecederam o golpe que instaurou o regime militar no Brasil.

1ª Etapa: Os antecedentes do Golpe

Prepare uma aula expositiva para apresentar as circunstâncias político-sócio-econômicas que antecederam o golpe que instaurou o regime militar no Brasil, O que deverá ser destacado:

 

– a renúncia de Jânio Quadros e a batalha pela posse de Jango

– as reformas de base

– o avanço da mobilização social (passeata dos 100 mil, marcha da família com Deus)

Para isso utilize os textos indicados nos links 1, 2, 3, 4, 5

Ao término da exposição, solicite aos alunos que se reagrupem (Grupos A, B, C, D, E e F da 1ª etapa) e, com base no excerto do texto de Heloísa Buarque de Hollanda e Marcos Gonçalves transcrito a seguir, redijam uma texto argumentativo que explique a reviravolta enunciada no texto. Outra opção é solicitar aos grupos que elejam um dos itens relacionados por Roberto Schwarz (“política externa independente”, “reformas estruturais”, “libertação nacional”, “combate ao imperialismo e ao latifúndio”) para pesquisa e aprofundamento.

 

 




“…Houve um tempo, diz-nos Roberto Schwarz, em que o país estava irreconhecivelmente inteligente. “Política externa independente”, “reformas estruturais”, “libertação nacional”, “combate ao imperialismo e ao latifúndio”: um novo vocabulário – inegavelmente avançado para uma sociedade marcada pelo autoritarismo e pelo fantasma da imaturidade de seu povo – ganhava cena, expressando um momento de intensa movimentação na vida brasileira. […]


Brasil, primeiros anos da década de 1960: talvez em poucos momentos da nossa história o que poderíamos chamar de “forças progressistas” tivessem se visto tão próximas do poder político. […]

Início de março de 1964: Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do PCB, declara numa estação de TV Paulista que “não estamos no governo mas estamos no poder”. Um mês depois, em Brasília, à revelia de qualquer otimismo, o General Humberto de

Alencar Castelo Branco assume a Presidência da República, declarando-se “síndico de uma massa falida”.

(HOLLANDA, Heloísa B. de; GONÇALVES, Marcos A. Cultura e participação nos anos 60. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.8-12.)


 

2ª Etapa: O Golpe ou Revolução?

Para fechar este plano, convide os alunos a retomar dois trechos dos relatos trabalhados na primeira etapa:

 

“Eu tinha claro que aquilo era um golpe da direita” Fernando Gabeira

 

“Foi chamado de revolução, pelos jornais” Roberto Civita



 

E escrever um texto com o título 1964: golpe ou Revolução?

 

Você pode sugerir a leitura prévia dos textos sugeridos nos links 11 e 12 do Para Saber Mais “O que os militares fizeram foi uma contrarrevolução para frear uma revolução socialista”, de Claudio de Cicco, e “Os Atos Institucionais foram a mera legalização de um golpe de estado, usurpação do governo”, de Paulo Sérgio Pinheiro

 

3ª Etapa: Onde você estava no dia do Golpe de 1964?

O golpe que instaurou o regime militar no Brasil não está vivo, é certo, na memória dos alunos do Ensino Médio e, possivelmente, tampouco na de seus pais. Mas na memória daqueles que viveram esta experiência. Para sensibilizar os alunos a respeito do golpe de 64 podemos trabalharemos a partir do depoimento destes sujeitos históricos. Vamos explorar com os alunos as respostas oferecidas à pergunta “Onde você estava no dia do golpe?”

 

Organize a sala em 6 grupos e ofereça a cada um os textos do link nº 10 (também disponíveis ao final deste plano, no MATERIAL DE APOIO. (se preferir, é possível fazer esta atividade a partir de relatos de familiares, veja a orientação no Plano de aula de aula Comissão da Verdade (dar o link).

 

Distribua as respostas entre os grupos, solicite aos alunos que identifiquem, caso seja possível a posição do sujeito histórico em relação ao golpe, quando do evento, e as justificativas por ele conferidas para tal posição, o grupo social a que ele então pertencia e onde ele estava no dia golpe. 20 minutos de discussão são suficientes para esta atividade. Na sequência, solicite a cada grupo que apresente o que conseguiu depreender do texto lido. Você poderá intervir, trazendo informações sobre a biografia de cada um e completando com informações que os ajudem a perceber posições de cada um.

 

Lembre-se de evidenciar o quão particular é a memória que cada indivíduo (ou grupo social) fazendo com que preservem memórias dissonantes do golpe que instaurou o regime militar do Brasil. Alguns pontos são fundamentais em cada relato podem ser completados por você no momento da socialização:

 

A) a posição reativa de Fernando Gabeira em relação ao golpe (“A minha primeira reação foi de resistência.”). E a justificativa por ele conferida: “Eu tinha claro que aquilo era um golpe da direita e que a ditadura duraria anos […].” Quanto ao grupo social que ele então pertencia, é possível identifica-la quando ele diz: “Saí imediatamente do Jornal do Brasil, onde trabalhava […]”. O que significa que Fernando Gabeira estava no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, onde ele trabalhava, e era, portanto, então, jornalista. Ao término da apresentação do Grupo A, lance outras questões aos alunos, como: Vocês notaram que ele afirma haver saído imediatamente do Jornal do Brasil, onde trabalhava, e ido para a Cinelândia, no Rio de Janeiro, onde se organizava um protesto contra o golpe? E que ele se recorda de haver se deparado com a Marcha da Vitória no dia do golpe, vocês notaram? “Uma passeata das pessoas que defendiam a ditadura”, segundo suas próprias palavras? O que isso significa, na opinião de vocês?

 

B) a posição favorável de Dom Paulo Evaristo Arns e a justificativa por ele conferida: “Na época, eu e todos da Igreja pensávamos que Jango trazia a desordem ao país e não queríamos isso. Por isso ficamos ao lado da nova ordem que se instaurava no país. Não que quiséssemos uma ditadura, mas também não queríamos que a desordem continuasse.” Ao término da leitura da resposta de Dom Paulo Evaristo Arns à pergunta “Onde você estava no dia do golpe?”, lance questões, como: Vocês notaram que Dom Paulo Evaristo Arns afirma que a sua posição era também a de todos da Igreja? Dom Paulo Evaristo Arns afirma que eles então pensavam que Jango trazia a desordem ao país, vocês já ouviram falar de Jango? O que vocês sabem sobre ele? Vocês notaram que ele se recorda de estar em Petrópolis, no Rio de Janeiro, mas de haver pegado um jipe, então, e partido para ao encontro das tropas de Mina? Vocês sabiam que a rebelião das Forças Armadas começou em Minas Gerais, na madrugada de 31 de março para 1º de abril? E que de lá as tropas partiram em direção ao Rio de Janeiro, onde Jango se encontrava?

 

C) a posição de resistência em relação ao golpe de José Dirceu, então estudante secundarista “a ponto de ser eleito presidente da UNE, que se tornou rapidamente o maior símbolo de resistência à ditadura”, como ele próprio afirma, e a justificativa por ele conferida: “Vi de cima do edifício onde trabalhava aqueles representantes da classe alta paulista, filhos de ricos, comemorando a derrubada de um regime constitucional”. Neste momento, não deixe de questionar os alunos: Vocês sabem o que um regime constitucional? E a respeito da UNE, o que vocês sabem sobre ela? Vocês sabiam que um dia após o golpe, o prédio da UNE foi invadido e incendiado? Ou de lançar a questão: Considerando que, naquele dia, o que mais chamou a atenção de José Dirceu “foi ver os estudantes do Mackenzie, em São Paulo, em passeata pelo centro da cidade”, é possível identificar a posição dos estudantes do Mackenzie em relação ao golpe?

 

D) que não é possível identificar a posição de Zuenir Ventura em relação ao golpe, apenas com base na leitura de sua resposta à pergunta: “Onde você estava no dia do golpe?”. Ainda que seja possível identificar que Zuenir Ventura, assim como Fernando Gabeira, era então jornalista (“Eu acabei me afastando do jornalismo por dois anos e abri uma escola.”) e que, conforme relato: “No começo, quase todos os jornais apoiaram o golpe, porque imaginavam que os militares colocariam ordem na casa.”. Aproveite este depoimento, portanto, para explorar com os alunos a posição da imprensa, segundo Zuenir Ventura. E que é possível identificar que ele estava em Brasília, no dia 31 de março, e que, conforme relato, a comunicação com o Rio de Janeiro ou São Paulo era impossível neste dia: “A cidade estava isolada e a quantidade de boatos era assombrosa. Cada rádio dava uma notícia diferente e não sabíamos o que estava ocorrendo.”. E que ao deixar Brasília e ir para o Rio de Janeiro, encontrou a cidade “em pé de guerra”.

 

E) a posição favorável de Roberto Civita em relação ao golpe e a justificativa por ele conferida: “Fiquei sabendo do golpe, que na época foi chamado de revolução, pelos jornais. Estava em casa. Achei ótimo. Naquele momento, acreditamos que se tratava de uma tentativa de evitar que o Brasil fosse tomado pelos comunistas. O governo Goulart estimulava a fuga de capitais, a desordem e a insubordinação das Forças Armadas.”. Ao término da leitura da resposta de Roberto Civita, à pergunta “Onde você estava no dia do golpe?”, lance questões, como: Vocês notaram que o empresário relembra que “as mudanças estruturais dos primeiros anos abriram um caminho de crescimento para a Editora Abril”? E que ele menciona que “naquele momento, acreditamos que se tratava de uma tentativa de evitar que o Brasil fosse tomado pelos comunistas”, vocês notaram? Na opinião de vocês, quem seria o sujeito desta oração: “naquele momento acreditamos que se tratava de uma tentativa de evitar que o Brasil fosse tomado pelos comunistas”? Todos os grupos da sociedade brasileira ou apenas o grupo dos empresários, a que Roberto Civita então pertencia?

 

F) que não é possível identificar a posição em relação ao golpe de Christiane Torloni, que, então, era apenas uma criança, conforme relato: “Eu tinha só 7 anos, mas me lembro de tudo que ocorreu no 1º de abril daquele ano”. Ainda que seja possível identificar o grupo social a que seus pais então pertenciam: “Meus pais eram artistas, gente politizada, interessada nos rumos do país, então, política era um tema que se ouvia na minha casa.”

 

A atividade inicial pode terminar aqui ou ser ampliada com a seguinte proposta:

 

Você poderá propor uma discussão sobre “Qual a relação entre história, história oral e memória? O texto História Oral e Memória, disponível no Material de Apoio pode ajuda-lo nesta atividade. Você pode trazer elementos do texto ou propor a leitura e discussão

 

Materiais Relacionados

Consulte os textos
1. “O governo João Goulart”, que integra o livro FAUSTO, Bóris História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Edusp, 2004.


2. “Colapso democrático (1964)” que integra o livro SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio Vargas e Castelo Branco (1930-1964). 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
O tema também é tratado nos links


3. “Brasil 1954-1964”. Revista Brasileira de História, v. 14, n. 27. Disponível em: http://www.anpuh.org/revistabrasileira/view?ID_REVISTA_BRASILEIRA=16. Acesso em: 15 mar. 2014.


4. “O golpe: militares e civis na trama de 1964”. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 83, ago. 2012. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicoes-anteriores. Acesso em: 15 mar. 2014.
Sugira aos alunos as leituras


5. “O que foi a Revolução de 1964?”, disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-a-revolucao-de-64.

 

6. “50 anos do golpe de 1964”, para conhecer os momentos e as circunstâncias que levaram à deposição de Jango disponível em: http://arte.folha.uol.com.br/treinamento/2014/01/05/50-anos-golpe-64/.

 

7. “Golpe militar: 1º de abril?”, de Sérgio Gwercman. Revista Aventuras na História, abr. 2004. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/golpe-militar-primeiro-abril-433594.shtml.

 

8. O que os militares fizeram foi uma contrarrevolução para frear uma revolução socialista”, de Claudio de Cicco. Jornal do Campus (USP), out. 2011. Disponível em: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2011/10/1964-um-golpe-ou-uma-revolucao/#2.

 

9. “Os Atos Institucionais foram a mera legalização de um golpe de estado, usurpação do governo”, de Paulo Sérgio Pinheiro. Jornal do Campus (USP), out. 2011. Está no link anterior
 

Arquivos anexados

  1. 1964 – Relembrar para não esquecer
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