Conteúdos

Este roteiro de estudos traz a análise detalhada de uma redação que obteve a nota máxima no Enem de 2022 para te ajudar a construir o seu texto de acordo com o que os examinadores consideram uma excelente redação.

Objetivos

  • Compreender os aspectos que contribuem para que uma redação do Enem seja bem avaliada; e
  • Desenvolver uma metodologia para verificar a adequação da sua redação às competências avaliadas pelo Enem.

Conteúdos/Objetos do conhecimento:

  • A proposta de redação do Enem 2022;
  • Redação nota mil;
  • Analisando a estrutura da redação: introdução, desenvolvimento e conclusão; e
  • Competências avaliadas – análise detalhada.

Palavras-chave:

Língua portuguesa. Redação. Enem 2022. Redação nota mil. Competências.

Proposta de trabalho:

Este roteiro traz uma das redações que receberam nota máxima no Enem 2022, acompanhada de uma análise detalhada, que te ajudará a avaliar suas próprias construções textuais e aprimorá-las.

Bons estudos!

1ª Etapa: A proposta de redação do Enem 2022

Para que possamos analisar uma produção textual, é necessário que, antes de mais nada, tenhamos conhecimento do que foi solicitado.

Vejamos, portanto, a proposta da redação do Enem 2022:

enem-redação-nota-mil
Crédito: Inep – Enem

Acesso em: 25 de outubro de 2023.

2ª Etapa: Redação nota mil

Considerando os textos motivadores e a proposta de redação acima, que traz o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, vamos agora ler uma das redações que receberam nota máxima no Enem 2022, de autoria de Ana Alice Teixeira Freire.

redação-nota-mil
Crédito: Guia do Estudante – Abril

Acesso em: 25 de outubro de 2023.

Transcrição:

“Na minissérie documental ‘Guerras do Brasil.doc’, presente na plataforma Netflix, o professor indígena Ailton Krenak propõe a reflexão acerca da dizimação dos povos originários a partir de perspectivas atuais, em que é retratada a história sob o olhar do esquecimento e da violência contra esses povos, a despeito da sua riqueza cultural e produtiva. Essas formas de desvalorização das comunidades tradicionais do Brasil são respaldadas, dentre outros fatores, pela invisibilização histórica desses atores sociais no ensino básico e pelo preconceito que rege o senso comum. Dessa forma, é imprescindível a intervenção sociogovernamental, a fim de superar os desafios mencionados.

Com efeito, cabe destacar a exclusão generalizada dos aspectos históricos e culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema educacional como fator proeminente à perpetuação da desvalorização do grupo em questão, uma vez que, sendo a escola um dos núcleos de integração social e informacional, a carência de estímulos ao conhecimento dos povos nativos provoca desconhecimento, e consequentemente, o cidadão comum não tem base da informação acerca da indispensabilidade das comunidades originárias à formação do corpo social brasileiro. Nesse sentido, os versos “Nossos índios em algumas poucas memórias/Os de fora nos livros das nossas escolas”, da banda cearense Selvagens à Procura da Lei, ilustram uma construção do ensino escolar pautada no esquecimento dessa minoria, de maneira a ampliar sua desvalorização. Assim, é constatável a estreita relação entre as lacunas na educação e o fraco reconhecimento dos povos e das comunidades tradicionais.

Ademais, vale ressaltar o preconceito cultivado no ideário popular como empecilho à importância atribuída aos povos nativos, posto que, em decorrência da baixa representatividade em ambientes escolares, como mencionado anteriormente, e do baixo respaldo cultural, marcado por estereótipos limitantes e etnocentristas, isto é, que supõem superioridade de uma etnia em relação à outra, há formação de estigmas sobre pessoas dessas minorias e, por conseguinte, não há o reconhecimento de suas ricas peculiaridades. Seguindo essa linha de raciocínio, é possível estabelecer conexões entre a atualidade e a carta ao rei de Portugal escrita por Pero Vaz de Caminha, no momento da chegada dos portugueses ao Brasil, de forma que a perspectiva do navegador em relação ao indígena, permeada de suposta inocência, maleabilidade e passividade, pouco alterou-se na concepção atual, evidenciando a prepotência e a altivez que são implicações da ignorância e do silenciamento das fontes tradicionais. Então, são necessárias medidas de mitigação dessa problemática para o alcance do bem estar da sociedade.

Em suma, entende-se o paralelo entre a desvalorização dos povos nativos e o apagamento histórico destes, além do preconceito sobre este grupo, de modo a urgir atenuação do cenário exposto. Para isso, cabe ao Ministério da Educação a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo tradicional, por meio da reformulação das bases de assuntos abordados em sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias, com o objetivo de pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história, em consonância com o livro da escritora angolana Chimamanda Ngozie Adichie “O perigo da história única”. Também, é papel dos veículos culturais, como a mídia, a representação ampla e fidedigna desses grupos, com o fito de minorar a visão estigmatizada que foi construída. Com isso, o extermínio simbólico denunciado por Krenak será minguado.”

3ª Etapa: Analisando a estrutura da redação: introdução, desenvolvimento e conclusão

Depois de ler a redação acima, a qual foi atribuída nota mil no Enem 2022, vamos olhar juntos para as questões estruturais do texto:

a) Introdução

No primeiro parágrafo, a autora do texto cumpriu as duas funções essenciais da introdução da redação do ENEM: em primeiro lugar, foi feita uma contextualização do tema, não deixando dúvidas de que o assunto abordado ao longo do texto será “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. Além disso, foi feita uma breve indicação do ponto de vista da aluna sobre o tema, com uma pista sobre a tese que será apresentada (o uso da expressão “dizimação dos povos originários”, bem como o trecho “o olhar do esquecimento e da violência contra esses povos, a despeito da sua riqueza cultural e produtiva”, cumprem esse papel).

b) Desenvolvimento

Formado pelos segundo e terceiro parágrafos da redação, o desenvolvimento atendeu o objetivo central, que é apresentar as ideias, acompanhadas de seus fundamentos, de forma a demonstrar a relevância da tese apresentada. Para isso, a aluna trouxe sua opinião sobre a maneira como o tema é tratado pelo sistema educacional brasileiro e apresentou ainda, como parte central do problema, “o preconceito cultivado no ideário popular”, trazendo um trecho de uma música da banda cearense Selvagens à Procura da Lei para reforçar o seu ponto de vista. Além disso, traz elementos históricos, mencionando “a carta ao rei de Portugal escrita por Pero Vaz de Caminha”, que situam e fortalecem a sua argumentação. Por meio dessa construção, a autora do texto reforça e estrutura a ideia de que há um problema estrutural, fundado em questões históricas e culturais, e que precisa de uma intervenção para ser solucionado, de acordo com a sua tese.

c) Conclusão

Na conclusão, a aluna tomou o cuidado de retomar rapidamente a sua tese, direcionando-a à solução proposta: “a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo tradicional”. Por fim, a autora do texto apresentou propostas viáveis e completas, tomando o cuidado de trazer todas as questões centrais:

  • Quem atuará para a resolução – Ministério da Educação e veículos culturais;
  • Como atuará – 1) Ministério da Educação: “reformulação das bases de assuntos abordados em sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias”; 2) veículos culturais: “representação ampla e fidedigna desses grupos”.
  • Com quais propósitos – 1) “pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história”; 2) “minorar a visão estigmatizada que foi construída”; 3) minguar o extermínio simbólico denunciado por Ailton Krenak.

4ª Etapa: Competências avaliadas: análise detalhada

Para garantir uma análise completa da redação, vamos agora verificar o texto pensando em cada uma das competências avaliadas na redação do Enem:

  • Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

Ao longo da redação, foi demonstrado o domínio da norma culta escrita. Cabe aqui, no entanto, uma observação: pequenos erros ou problemas, desde que não se repitam e não afetem a compreensão do texto, costumam ser relevados, não sendo levados em consideração para a correção.

  • Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

O texto abordou muito bem o tema, mobilizando as áreas do conhecimento e articulando-as à discussão proposta, respeitando a estrutura do texto dissertativo-argumentativo.

Ao longo dos parágrafos, a autora trouxe diversas referências, tanto históricas quanto literárias e musicais, para auxiliar na construção e estruturação de sua tese, demonstrando tratar-se de visão compartilhada com importantes pensadores da atualidade, ao mesmo tempo em que demonstra de forma clara a sua hipótese acerca do desenvolvimento do problema ao longo do tempo, partindo da época de Pero Vaz de Caminha.

Sobre a tese do texto, ela deixa claro que tratará da “exclusão generalizada dos aspectos históricos e culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema educacional como fator proeminente à perpetuação da desvalorização do grupo em questão”, passando pela relevância do preconceito gerado por essa perspectiva, como importantes ingredientes da formação do cenário problemático de que trata o texto.

  • Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Por meio da amarração de conceitos e informações, bem como da construção de relações de causa e consequência, a aluna traz uma boa seleção de argumentos, relacionando-os entre si.

Também se faz perceptível o uso dos textos motivadores de maneira correta, na medida em que, sem transcrevê-los, a aluna soube extrair deles as informações relevantes para a construção do seu raciocínio.

  • Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Ao longo do texto, a aluna faz um excelente uso dos recursos coesivos, o que garante uma boa fluidez. O uso de recursos como: “com efeito”, “ademais” e “em suma” faz com que a redação fique muito bem articulada, conectando suas ideias e parágrafos.

  • Competência 5: elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

A proposta de intervenção foi apresentada de forma bem detalhada, trazendo os agentes responsáveis, o que precisa ser feito, como fazer e a finalidade.

Além disso, a aluna tomou o cuidado de propor uma solução possível e respeitou integralmente os preceitos dos direitos humanos, cumprindo todos os requisitos avaliados pela banca.

Materiais Relacionados

Cartilha do participante – Enem 2022

Acesso em: 25 de outubro de 2023.

Especialistas analisam sete redações nota mil do Enem – Portal MEC

Acesso em: 25 de outubro de 2023.

Roteiro de estudos elaborado pela professora Daniela Leite Nunes.

Coordenação pedagógica: prof.ª dr.ª Aline Bitencourt Monge.

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