Publicado em
5 de setembro de 2016
Se no passado a reunião de pais e mestres era um dos poucos momentos em que pais podiam se encontrar e conversar, hoje as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) chegaram para estreitar esses laços. É o caso do grupos de pais de alunos criados no aplicativo WhatsApp.
A novidade, contudo, têm se tornado um desafio para as escolas. Não raro, fatos do cotidiano escolar acabam sendo distorcidos pelo grupo, gerando estigmatizações de alunos e professores. Dessa forma, reclamações sobre estudantes, docentes ou criticas apenas chegam à instituição quando os ânimos já estão inflamados.
A nutricionista Patrícia Smith já assistiu situações assim no grupo em que faz parte. Ela é mãe de Adam, de cinco anos. “Existem queixas e dúvidas que devem ser dirigidas diretamente ao corpo docente ao invés de lançar o tópico no grupo do WhatsApp. Quando se joga algo extremamente pessoal no grupo, a confusão que se cria pode tomar proporções inimagináveis e gerar animosidades desnecessárias”, opina.
Para a pedagoga e doutora em Redes, Educação e Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg), Luciana Zenha, o ideal é procurar conversar no particular em situações como essas. "A regra é a do bom senso e da proteção às pessoas. O uso de dispositivos e aplicativos de comunicação online é um aprendizado comunitário e colaborativo, um ajuda o outro", pontua.
Outra situação comum nos grupos de WhatsApp são as de mães pedindo tarefas para os filhos copiarem. “Toda a criança pode estar mais desatenta em algum dia específico. Mas quando o ato é contínuo, é preciso entender porque esta criança não está dando conta da sua rotina escolar”, questiona a pedagoga.
Convivência entre pais
Além das questões escolares, os grupos de pais no WhatsApp podem estar atentos para que a convivência entre os pais ocorra de forma harmônica. “Penso que os assuntos devem estar relacionados sempre às crianças e à escola. Não gosto de piadinhas, reclamações sobre o governo ou assuntos sobre religião”, afirma a arquiteta e urbanista Vanessa Carlos Cunha Massucci, mãe de Lucas, de quatro anos.
“Meu grupo é bem comportado, mas não me agrada receber mensagens antes das 9h e nem excesso de fotos”, relata a hoteleira Carolina Castro Tuttoilmondo, mãe de Pietro, de três anos.
Para Luciana, as regras de conduta e os assuntos a serem discutidos em cada grupo devem ser combinados pelos seus participantes. “Isso depende do nível de maturidade do grupo e dos objetivos da criação daquela rede social. Além disso, cada pai e mãe tem o seu jeito de interagir e enfrentar as adversidades. Respeitar este jeito pode ser uma boa saída também”, orienta.
Os desafios provocados pelos grupos no WhatsApp já estimularam algumas escolas a orientarem os pais sobre o uso da tecnologia. É o caso da Escola da Vila, de São Paulo, que escreveu o texto Mães e pais: precisamos conversar sobre o WhatsApp.
A escola do filho de Patricia também se manifestou via um comunicado “falando sobre os assuntos que a escola gostaria que fossem levados ao seu conhecimento. Se o pai quer resolver um determinado problema, não é no grupo que isso irá acontecer”, revela.
Vantagens
Para os pais, os benefícios de estarem conectados via WhatsApp são grandes. “O grupo de pais acaba sendo inevitável. Ele pode ser uma ótima ferramenta para comunicar assuntos como doenças inesperadas, ausência e até mesmo questionamentos sobre a rotina escolar e possíveis melhorias”, lembra Patrícia.
“O grupo é uma lista de discussão temática. São ações colaborativas sobre segurança, rotina e amizades”, acrescenta a pedagoga Luciana. Segundo ela, os usos das TICs são “um caminho sem volta” e uma realidade no contexto escolar e familiar. “O segredo é utilizá-las visando uma convivência mais significativa”, pontua.
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