Convencer estudantes a realizar atividades pedagógicas em ambientes virtuais não é o maior desafio para educadores que decidem investir nos projetos que contemplam as TICs, afinal novidades que enveredam pelo universo da tecnologia tendem a ser aceitas com entusiasmo pelos jovens.

O difícil mesmo é conseguir fazer com que eles considerem esses espaços, que possuem foco educacional, tão interessantes quanto os que oferecem principalmente entretenimento, como acontece nas redes sociais abertas.

Em espaços como Orkut e Facebook, ou em microblogs como o Twitter, as possibilidades são muitas. Conversar instantaneamente, indicar e assistir vídeos, compartilhar links etc. Em meio a tudo isso, os usuários podem se deparar com conteúdos que, eventualmente, serão úteis para uso nas salas de aula. Já nos ambientes virtuais criados nas escolas, a dinâmica costuma ser diferente. As possibilidades apresentadas aos estudantes são voltadas somente para o conteúdo didático que segue o currículo estabelecido para cada série.

Maíra Soares

YouTube, Twitter e aplicativos para celular hoje estão dentro do projeto Minha Terra, conta Sônia Bertochi

Mas, contrariando os educadores que mesmo utilizando as novas tecnologias mantêm uma postura um tanto conservadora de separar “o que serve para a sala de aula do que não serve”, a educadora Sônia Bertocchi afirmou, durante a palestra “Redes Sociais e Educação”, realizada na terceira edição da Campus Party, que essa segmentação não precisa ser feita.

Comunidades de aprendizagem e redes sociais podem coexistir num mesmo ambiente. Para quem não crê no formato, ela cita o projeto “Minha Terra”, no qual está envolvida há 8 anos como gestora. De acordo com Sônia, o projeto foi evoluindo à medida que ferramentas utilizadas para a produção de conteúdos pedagógicos foram sendo atreladas às redes sociais.

“Hoje temos, dentro da comunidade virtual Minha Terra, o YouTube, o Twitter e propostas para uso de celular. O aluno tem acesso, via escola e com o aval da escola, a tudo isso”, conta a educadora. Ela destaca que, mesmo sabendo do desafio de trabalhar com redes sociais abertas em ambiente de ensino devido ao possível comportamento de dispersão dos jovens e ao fato de eles poderem acessar conteúdos “impróprios”, a evolução da comunidade caminhou na direção certa. “Na Minha Terra, temos 8.500 jovens inscritos em 24 estados brasileiros”, afirma.

Ponto de convergência
O “segredo” para promover um ambiente de aprendizagem simples, que em 2004 possuía ferramentas como galerias virtuais, espaço para bate-papo e fórum, a uma comunidade com formato de rede social foi, segundo Sônia Bertocchi, o corpo de profissionais competentes do qual o projeto, desenvolvido pelo programa Educarede, se cercou. “A mediação pedagógica da ferramenta é o ponto principal”, afirma.

Os participantes da rede Minha Terra são envolvidos em desafios ao longo do ano, a exemplo do “Minuto de Intervenção”, que lhes permitem usar o YouTube para aprender e disseminar suas produções. Nesse desafio citado, os jovens têm de gravar com celular vídeos de um minuto no entorno das escolas em que estudam. Depois de editá-los, publicam no YouTube e disseminam o link no Twitter.

O professor até acompanha a produção do vídeo, mas como cada aluno tem a sua própria senha e login, qualquer um deles pode voltar à comunidade quando bem entender, o que pode ser feito da escola ou de qualquer lugar que tenha acesso à internet. Para facilitar e estimular esse acesso independente, a comunidade não é “fechada” no período de férias, como acontece com grande parte dos projetos de educação.

A importância de uma boa mediação foi o ponto de convergência entre especialistas convidados para a mesa sobre “Redes Sociais e Educação”, mediada na Campus Party pela professora e pesquisadora Lilian Starobinas.

O secretário municipal de educação de São Paulo, Alexandre Schneider, entusiasta das redes sociais nos processos educativos, disse considerar “um absurdo” a proibição de uso de celulares em escolas e o bloqueio de redes sociais. “Tudo é uma questão de mediação. O recado que sempre tento passar aos gestores e professores é: não tenham medo, mediem.”

Schneider defende as redes sociais como espaços onde os alunos podem desenvolver autonomia. “Antes, o computador com acesso à internet era uma grande biblioteca virtual, mas saímos do período em que somente ajudamos o aluno a pesquisar. Enxergamos experiências mais avançadas e hoje os estudantes podem produzir e publicar aquele material na web”, disse.

O secretário citou o projeto “Nas Ondas do Rádio”, iniciativa que já existia em gestões anteriores à de Schneider mas que foi desenvolvida nos últimos anos. Os integrantes produzem vídeos, documentários, postam no Twitter e alimentam blogs a partir de uma estrutura que se assemelha à de uma agência de notícias. “Com toda essa produção, os jovens aprendem muito”, frisou.

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