Para Fernando Dolabela, todos os seres humanos possuem potencial empreendedor, mas a maioria não o desenvolve por falta de incentivo e por estar ligada a uma cultura de dependência e de ausência de protagonismo, normalmente perseguidora do graal do emprego fixo.

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Autor do livro recém lançado “Sonhos e riscos bem calculados: o que é e o que faz o empreendedor” (Saraiva), Dolabela foi o primeiro entrevistado do Formspring do Instituto Claro – lançado em setembro – e respondeu sobre a relação entre empreendorismo e universidades no Brasil. Confira abaixo a íntegra das perguntas mandadas pelos internautas e suas respostas.

Internauta: Olá Fernando Dolabela. Sou estudante de Artes Visuais em São José dos Campos e não sei o que é empreendedorismo universitário. Por favor, me explique?

Fernando Dolabela: Empreendedorismo universitário pode ser entendido como o estímulo e o apoio ao desenvolvimento da capacidade empreendedora dos estudantes e professores universitários. Algumas universidades têm avançados programas na área de empreendedorismo, como cursos, incubadoras, centros de empreendedorismo, parques tecnológicos. A tarefa central da educação empreendedora no Brasil, em qualquer nível é, em primeiro lugar, dizer ao estudante que o empreendedorismo é o único caminho para se promover o crescimento do PIB e o desenvolvimento social. Os jovens que quiserem ser protagonistas do seu tempo devem ser empreendedores. Em segundo lugar, as universidades e escolas de todos os níveis devem concentrar-se no desenvolvimento do potencial empreendedor presente em todos os seres humanos. Claro que a cultura voltada para o emprego deve ser analisada com profundidade e despida dos mitos que fazem com que ela seja percebida de forma desfocada.

Internauta: Por que não há uma cultura de empreendedorismo nas universidades públicas brasileiras?

Fernando Dolabela: A universidade é um espelho da sociedade. O brasileiro que tem acesso à educação de alto nível persegue há décadas o mesmo objetivo: o emprego estável. De preferência o emprego público, que é transformado pela maioria dos jovens que o procuram em uma “aposentadoria” precoce. Para muitos, infelizmente, o emprego é o oxigênio, cuja falta provocaria a morte. Essa é a visão propagada pelo modelo industrialista, não empreendedora, irreal. Mesmo sendo possuidor de elevada capacidade empreendedora, o brasileiro não é estimulado a utilizá-la. Pelo contrário, tem baixíssima aversão à incerteza, foge de riscos, adapta-se com surpreendente facilidade a uma relação de dependência (o emprego) e desassocia emoção do trabalho. Não se interessa em ser autor de si mesmo. Adia sempre o seu sonho para depois da aposentadoria. O brasileiro trabalha para viver. As pessoas felizes vivem para trabalhar porque entendem que o trabalho é a mais importante manifestação de afeto à coletividade, através do qual oferecem aos outros o que de melhor sabem fazer.

Internauta: Sr. Fernando, qual a posição da economia com relação ao empreendedorismo, atualmente no mercado de trabalho?

Fernando Dolabela: Pesquisas mundiais revelam que o Brasil alimenta um dos piores ambientes do mundo para se empreender. Tanto o empreendedorismo de alto impacto, que utiliza e produz alta tecnologia, como o empreendedorismo na base da população são de baixíssima intensidade no Brasil. Nas classes menos favorecidadas, o assistencialismo deve urgentemente ser substituído por políticas de estimulo à atividade empreendedora. O empreendedorismo high tech, altamente inovador, é uma condição sine qua non para o Brasil ocupar o lugar que merece na elite das nações.

Internauta: Participo do projeto Iniciativa Jovem da Shell voltado para o empreendedorismo, sou morador do RJ e gostaria de saber quais as universidades que apoiam incubadoras de projetos de novos negocios? Onde posso buscar parcerias e mais informaçoes?

Fernando Dolabela: O Rio de Janeiro tem excelentes programas universitários de empreendedorismo. Na PUC e na UFRJ, entre outras, você encontrará o que procura.

Internauta: Qual a probabilidade de uma pessoa com pouca experiencia profissional, mas um diferencial elevado, se dar bem em uma sociedade?

Fernando Dolabela: A professora Tina Seelig, de Stanford, conta uma história. Uma jovem de 22 anos recém graduada mostrou ao pai, um gerente de uma grande empresa, o seu cartão de visitas. O pai lhe disse; “Minha filha, aqui diz que você é presidente, mas é o seu primeiro trabalho. Eu estou na empresa há 25 anos, comecei como estagiário e ainda nem diretor sou…”. A filha respondeu-lhe: “Olha pai, eu não preciso que coloquem uma escada para que eu suba degrau a degrau. Eu começo do topo.” Qual o passado, a experiência profissional que tinham os criadores de empresas como Microsoft, Apple, Google, Yahoo, e tantas outras à época de sua fundação? Estamos na era da inovação. O curriculum vitae, que se refere ao passado, perdeu lugar para o que eu chamo de “curriculum posteri”, o currículo do futuro. A pergunta do modelo industrialista, “o que você sabe” está sendo substituída pela perguntas “quem você é?” e “qual é o seu sonho”, da era da inovação.

Internauta: Como incentivar e colocar em prática o empreendedorismo social nas universidades?

Fernando Dolabela: O empreendedorismo social é conseqüência da percepção que um indivíduo tem da sociedade e dos compromissos que com ela deve assumir. Infelizmente não estimulamos nos nossos jovens a formação de comunidades. Na verdade, na nossa sociedade voltada para o indivíduo, uma abstração do iluminismo, nem mesmo divulgamos o conceito de comunidade. Pessoas passam uma vida sem saber o seu significado. Comunidade não é um agrupamento de pessoas. Comunidade é um conjunto de pessoas unidas por um sonho comum, uma concepção de futuro comum, capazes de conceber um projeto e cooperar para a sua realização. 500 anos de autocracia amorteceram a nossa capacidade de produzir comunidades. Temos que recuperá-la. Na minha metodologia de educação empreendedora para crianças e adolescentes, a Pedagogia Empreendedora, um dos conceitos básicos é o de comunidade.

Você também pode conferir as respostas acessando o Formspring do Instituto Claro.

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