A mediação do educador é um elemento importante para que o jogo assuma um papel preponderante em uma atividade de ensino. Essa é a opinião da doutoranda em matemática e educação, Patrícia Pereira, e do professor da Universidade Federal de São Carlos (UfSCar), Paulo Cézar de Faria. Eles realizaram uma experiência com alunos do 2º ano do ensino fundamental a partir de dois games educativos: “Cubra a soma”, que traz conceitos de adição, e “Feche a caixa”, que apresenta a subtração. A iniciativa originou o livro “Jogos e Mediação Docente: contribuições para o ensino da matemática”.
“Cubra a Soma” é constituído por dois conjuntos de 11 fichas de cores diferentes, dois dados e um tabuleiro contendo duas sequências numéricas (de dois a 12) escritas na frente de cada jogador. “Organizamos as crianças em duplas, observamos as estratégias utilizadas e realizamos as mediações necessárias por meio de questões reflexivas, a partir das situações vivenciadas no decorrer da partida. Por exemplo, é difícil obter a soma 12? Por que a soma 7 foi obtida várias vezes? Por que o maior número do tabuleiro é 12? 6+1 e 1+6 correspondem ao mesmo resultado?”, descreve Pereira.
Em outra atividade com o mesmo jogo, cada dupla deveria registrar numa folha a representação das somas de dois a 12, considerando os pontos obtidos nas jogadas com os dados e, posteriormente, compartilhar as respostas. “Sem a mediação entre as crianças e a professora, entre elas e os games e o conhecimento matemático, muitas reflexões provavelmente não teriam surgido, tampouco o compartilhamento de raciocínios e discussões envolvendo situações-problemas”, declara.
Intencionalidade
Já o “Feche a caixa” foi jogado via internet e em duplas. Nele, cada participante inicia com 45 pontos, quantidade que diminui a cada rodada. Dois dados são lançados virtualmente, e o jogador adiciona a quantidade indicada na face superior dos objetos. Em seguida fecha uma das casas do tabuleiro virtual, de forma que a quantidade representada seja a soma obtida por meio dos dados.
“Essa mediação acontece por meio de questões reflexivas. Por exemplo, se obtiver soma 9 ao jogar e essa casa estiver fechada, quais são as outras possíveis casas que podem ser fechadas?”, conta Faria.
A dupla de profissionais lembra que o jogo é um elemento motivador e pode ser um importante aliado no ensino, desde que haja um planejamento e intencionalidade por parte do educador. “O papel mediador do professor é complexo, pois lhe cabe criar condições de aprendizagem, por meio de práticas pedagógicas intencionalmente e previamente elaboradas por ele.”
Jogos são bem-vindos
De acordo com a dupla, os games são um importante recurso pedagógico, tanto por representar prazer e descontração quanto por possibilitar a apropriação de conhecimentos. “A atividade principal da criança, até aproximadamente 8 anos de idade, é o brincar”, lembra Pereira. “Recursos assim são bem-vindos para o ensino da matemática pois, ao jogar, o estudante vivencia situações que necessitam de soluções, que podem ser obtidas a partir da observação, associada ao raciocínio lógico-dedutivo”, acrescenta.
Para professores que desejam usar jogos matemáticos nos primeiros anos do fundamental, os pesquisadores dão algumas orientações. “É necessário conhecer o nível de desenvolvimento atual dos seus alunos, ou seja, aquilo que conseguem realizar sozinhos, sem o intermédio docente. Bem como a zona de desenvolvimento iminente, que se relaciona àquilo que eles podem realizar com a ajuda de outras pessoas, por meio da mediação”, explica Faria.
“A partir disso, o educador pode elaborar exercícios adequados e lançar desafios possíveis de serem resolvidos. Atividades muito ‘fáceis’ ou ‘impossíveis de serem resolvidas’ acabam desmotivando a turma”, finaliza ele.
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