Enquanto a média global de infecções pelo vírus HIV caiu 35% entre os anos de 2005 e 2013, os casos de contaminação aumentaram 11% no Brasil durante o período. Os dados são do último relatório da Unaids — o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids — e revelam um descontrole da epidemia no país. Um dos desafios das atuais campanhas de prevenção seria justamente atingir os jovens, que não viveram o auge da epidemia há 30 anos e estariam mais vulneráveis à doença. Dentro dessa perspectiva, qual seria o papel da escola para barrar o avanço da AIDS? 

“A escola uma parceira estratégica na prevenção do HIV e de outras DSTs, pois é um espaço onde as crianças e jovens se desenvolvem e onde há um grande fluxo de indagações”, opina Ieda Guedes, coordenadora do curso “Juventudes, Sexualidades e Prevenção das DST/Aids", voltado para professores da rede pública do Pará. A iniciativa é vinculada ao Programa Saúde na Escola, dos Ministérios da Saúde e da Educação, instituído em 2007. 
 
Abordagem transversal
Para os especialistas, a prevenção ao HIV deve ser abordada em sala de aula de forma transdisciplinar, não podendo ficar a cargo de um único educador ou ser tema específico de determinada disciplina. “O professor de Ciências pode discutir desde a fisiologia-morfologia do vírus até o conjunto de sintomas da infecção. O professor de Matemática pode abordar os dados estatísticos e o número crescente de casos. Em Geografia, pode-se discutir os aspectos demográficos da doença, enquanto o professor de língua portuguesa pode trabalhar o assunto como tema de redações”, sugere Rita de Cássia Ferreira Moraes, assistente social do curso de formação de professores.  
 
A opção por discutir o tema de forma transversal foi uma das iniciativas da Escola Estadual Escritor Paulo Cavalcanti, de Olinda (PE). As atividades com os alunos do Ensino Médio foram lideradas pelos professores de Biologia e Sociologia, resultando na peça teatral “Sem Preconceitos”. “As informações devem ser integradas entre as disciplinas. E como o tema é amplo, os alunos ficam bastante à vontade para discuti-lo”, garante Augusto César, professor de Biologia da escola. 
 
Resistência
O maior desafio de discutir o HIV em sala de aula ainda é a capacitação dos professores. “Não se pode fazer abordagens de senso comum, ter juízos de valores a respeito da infecção e das pessoas que convivem com o HIV”, opina Ieda.  Outros erros comuns são realizar palestras sobre o tema, desconsiderando outras formas de diálogo com os alunos, e renegar o protagonismo juvenil. “As atividades não podem ser pensadas para os jovens, mas com os jovens”, diferencia. 
 
A resistência dos pais e dos professores em discutir o assunto também deve ser superada. Segundo a professora, a religiosidade por vezes impede o diálogo. “É preciso vencer essa postura que falar de relação sexual na escola está induzindo ao sexo. A educação sexual para prevenção de AIDS é urgente”, decreta. 
 
A Unesco mantém no Brasil o Programa de Educação em Sexualidade. Confira as publicações aqui.
 
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