O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como meta 15 garantir, até 2024, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. A etapa inicial, contudo, enfrenta desafios para preparar o jovem docente que atuará na rede pública.

“A conexão entre teoria e prática é deficiente. Os cursos de formação inicial se preocupam com um currículo mais voltado para fundamentos teóricos da educação e conteúdos que o professor ensinará no futuro e não com um foco pedagógico. Que o educador seja capaz não apenas de saber o conteúdo, mas como ensiná-lo, o que também passa pelo teórico”, analisa a gerente do Projeto Profissão Professor do Todos Pela Educação, Caroline Tavares. Ela foi uma das palestrantes do Webinário sobre as metas 15 a 18 do PNE, promovido pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), no dia 2 de outubro de 2018.

“O que falta na formação não é tirar teoria e colocar prática no lugar, que também não daria conta dos desafios da sala de aula, mas da conexão entre os dois”, aponta.

Para a educadora, outra deficiência é a falta de ligação das instituições formadoras com o chão da escola. “Nas universidades particulares, essa preocupação é deixada para o momento do estágio supervisionado, quando o aluno bate na porta de um colégio. Esse vínculo o ajudaria a entender o projeto político pedagógico daquele lugar, sua realidade, ser capaz de aprender com o docente mais antigo que lá está, assim como contribuir com uma parte teórica que estará mais fresca”, destaca.

Já o professor do Instituto Federal Goiano e um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2016, Greiton Toledo de Azevedo, lembrou a importância de entender a escola como formadora. “É preciso um diálogo maior entre o que a universidade produz com o que ela produz. Porque ela também é produtora de conhecimento, não recebe apenas algo pronto e reproduz”, afirma.

“Vemos um abismo entre o que a escola está fazendo e o que necessita para se colocar à altura de seu tempo com o que a universidade propõe para ela. Há profissionais da universidade que vão até os colégios desenvolver trabalhos ricos, mas esses espaços também podem ter projetos legais desenvolvidos ali para pensar a formação do professor. É uma troca”, sugere.

BNCC é oportunidade

Preparar o professor que já está na ativa para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi outra questão levantada no debate. Apesar das críticas, Azevedo acredita que o documento tem pontos relevantes sobre como pensar o material a ser ensinado e a formação do professor.

“A sala de aula não é lugar para treinar para provas, mas para formar pessoas, o que pressupõe conteúdo. Mas também desenvolvimento da criatividade, autonomia, entre outros. A BNCC traz elementos relevantes, como o pensamento computacional, que faz parte do processo formativo e pode ser articulado em disciplinas como inglês, português, matemática e ciências”, exemplifica.

“Criatividade, por exemplo, não se ensina: é estimulada. Por isso, precisamos pensar a base além do conteúdo ou para atender testes padronizados em larga escala”, complementa.

Ainda segundo o educador, o movimento em relação à BNCC não deve vir de forma verticalizada para o professor em formação continuada. “Tem que criar espaços de discussão, redes de aprendizagem entre os diferentes atores que atuam na educação básica”, complementa. “Ela ajuda a pensar propostas para atender diferentes realidades, sem tornar isso uma forma padronizada, que é perigosa. Mas de orientar para uma formação mais ampla”, finaliza.

Professor é protagonista

Para Tavares, preparar o professor que está na ativa envolve desenho de carreira. “É preciso que ele tenha garantido um terço da jornada para se desenvolver, inclusive dentro da escola, com seus pares, trabalhando com a realidade que vive”, explica. “Uma formação continuada precisa ser prolongada, não adianta acontecer em uma semana. O educador necessita de tempo para refletir sobre a própria prática”, ressalta.

O docente também precisa ser ativo em seu processo. “Não adianta tirá-lo da escola, dar uma palestra linda, e retorná-lo. Isso não é formação continuada e adultos não aprendem assim”, critica. “Para fazer a diferença na vida e na prática profissional, é necessário que o professor seja protagonista, da mesma forma que o aluno da escola deve ser do seu aprendizado. Ele precisa de metodologia ativa”, acrescenta.

Por último, a formação continuada necessita de coerência sistêmica. “Estar ligada ao currículo que usa, à avaliação aplicada na rede, à carreira, como se desenvolve profissionalmente e à remuneração “, recomenda.

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