Durante quatro dias, aproximadamente mil alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas de todo o país se reúnem para vivenciar a rotina de diplomatas. Trata-se do Modelo Intercolegial das Nações Unidas (MiniOnu), um projeto pedagógico e cultural realizado há 19 anos pelo Departamento de Relações Internacionais (RI), da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Minas Gerais.

Os estudantes se preparam durante o ano para representar a opinião de um país em comitês que debatem temas diversificados e acontecem em dois encontros – Belo Horizonte e Poços de Caldas (MG). A dinâmica acontece de forma parecida com as reuniões da ONU.

“É um projeto pedagógico de resistência, pois possibilita a discussão de temas contemporâneos que não são comuns em sala de aula. Este ano, por exemplo, os grupos trarão assuntos como o terrorismo e o uso da mídia pelo estado islâmico, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, entre outros”, assinala a secretária-geral da edição 2018 e estudante de RI pela PUC-Minas, Marina Oliveira. “O modelo visa o protagonismo do jovem na construção do conhecimento. Nas reuniões dos comitês, não há professores”, complementa.

Segundo Oliveira, a iniciativa estimula o desenvolvimento de habilidades específicas dos estudantes, como oratória, argumentação, busca por diferentes fontes de informação, pensamento crítico e empatia. “É comum o aluno precisar defender a opinião de um país que ele, particularmente, discorda”, revela. “Além disso, há aspectos subjetivos, como, por exemplo, o convívio com culturas diferentes. Durantes esses quatro dias, ele estará ao lado de jovens de diferentes locais do país”, ressalta.

Blog de estudos

A organização da MiniOnu envolve 250 graduandos e docentes da PUC-Minas e inicia sempre um dia após a finalização da última edição. “Há uma votação para definir entre os formandos quem será o secretário-geral, além de diretores e integrantes dos comitês. Eles são responsáveis por sugerir temas para debate e desenvolver guias de estudos a serem enviados às escolas participantes. Esses materiais são revisados pelos professores do departamento de RI”, descreve.

Alunos se preparam durante o ano para representar a opinião de um país em comitês que debatem temas diversificados (crédito: Sônia Soares)

 

Em suas escolas, os estudantes que desejam participar devem indicar um educador e formar grupos. As inscrições acontecem em maio, mediante uma taxa e o evento em outubro. Após inscritos, os alunos são convidados a representar um país em um dos comitês.

“Cada um deles possui um blog próprio, onde, periodicamente, a organização posta materiais. Eles também recebem guias com as orientações sobre as regras do debate, que são similares as da ONU, e um dossiê sobre o posicionamento oficial do país que irão representar dentro de cada tema discutido”, acrescenta a secretária-geral.

Quando chegam ao evento, os estudantes são tratados como delegados de comitivas. “Já os professores possuem uma programação própria com palestras de temas do seu interesse. Há painéis sobre uso das redes sociais em aula, cultura africana em Minas, entre outros”, conta Oliveira.

Mudança inspiradora

Era 2004 quando a professora de geografia e história da Escola Estadual José Leme do Prado (Valinhos- SP), Sônia Soares, buscava um texto atual sobre a ONU para tratar com seus alunos do ensino médio. Na pesquisa online, descobriu a MiniOnu e resolveu participar. Quatorze anos depois, a instituição possui um grupo de estudos periódico que acontece duas vezes por semana, no contraturno das aulas, com 27 jovens.

“Iniciamos o ano letivo estudando sobre a ONU e, quando a organização do evento disponibiliza os temas dos comitês, passamos a pesquisá-los de acordo com o interesse dos estudantes. Este ano, o primeiro tema que eles quiseram discutir foi a mutilação genital feminina.”

Os custos para levar a turma a Belo Horizonte são pagos pelos adolescentes, com apoio do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), do Ministério da Educação (MEC). “Na escola, temos hoje uma sala ambientada, com algumas mídias digitais e cadeiras dispostas em formatos de ‘U’, como acontece nas reuniões da organização internacional”, revela.

De acordo com a educadora, os benefícios do projeto se estendem tanto para os professores quanto para os alunos. “É uma forma de me manter atualizada sobre temas contemporâneos e conseguir acompanhá-los, uma vez que a internet traz para eles um mundo de informação e o docente pode ficar para trás”, opina.

“Ver a mudança deles, principalmente em sala de aula, foi o que me motivou a continuar todos esses anos. Hoje, já tivemos ex-participantes que foram estudar RI, comércio exterior e uma ex-aluna que virou advogada especializada em direitos de pessoas refugiadas”, comemora.

Aluno do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual José Leme do Prado, Vinicius Sutero diz que a iniciativa proporciona “um senso crítico extremamente afiado”. “Nós adquirimos a habilidade de debater diversos temas, de argumentar, de entender o que se passa nesse mundo caótico. Ela ensina a pesquisar, a ir atrás de informação”, pontua.

“Uma das incríveis habilidades que desenvolvi com o projeto foi a de sempre buscar mais, estudar mais. Ele não só abre portas, mas também a mente e o coração”, acrescenta a estudante do 2º ano, Ingrid Veloso.

Crédito das imagens: Sônia Soares e divulgação

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Marcos Roberto Conceição
5 anos atrás

Perfeito, integrar o educando nas relação dos acontecimentos da sociedade e o mundo, o torna consciente e parte do problema afim de interagir e discutir assuntos e soluções.

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