Educador, escritor, filósofo, teólogo, psicanalista. Rubem Alves foi um dos intelectuais mais respeitados do Brasil e deixa heranças valiosas para diversas áreas. No último sábado, dia 19 de julho, a educação brasileira perdeu um de seus principais pensadores. Rubem produziu um acervo de mais de 160 publicações – mais de 10 dedicadas às discussões sobre a educação e a aprendizagem.
Nascido em 1933 em uma cidadezinha de Minas Gerais, Rubem Alves começou a estudar teologia logo depois de terminar os estudos escolares e tornou-se pastor. Mas seu pensamento subversivo e transgressor o levava a questionar o papel da religião. Com a Ditadura Militar, Alves entrou na lista dos pastores procurados, justamente por seus questionamentos à política e à sociedade. Por isso, até 1968, ficou em exílio nos Estados Unidos cursando pós-graduação e doutorado.
Foi em 1969, quando já estava de volta ao Brasil, que Rubem entrou no universo educacional. Começou a lecionar na Faculdade de Filosofia de Rio Claro, depois passou para o Instituto de Filosofia da Unicamp, onde permaneceu até o início da década de 90. Foi neste período que começou a educar e também começou a fazer “música com palavras”, como dizia. “Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma”, afirmou.
Como acadêmico, Rubem fez grandes críticas à educação. Seus livros sobre o assunto, como “O Desejo de Ensinar e Aprender”, “Conversas com Quem Gosta de Ensinar” e “A Alegria de Ensinar”, trazem a simplicidade do autor como educador e a ideia de que o professor deve saber envolver seus alunos e abrir seus olhares para o mundo.
“Minha estrela é a educação. Educar não é ensinar Matemática, Física, Química, Geografia, Português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa.”, escreveu o autor.
Sua paixão pela educação também resultou na criação do Instituto Rubem Alves, que tem como objetivo, entre outros, desenvolver programas de apoio e assistência a educadores, promover cursos e oficinas de cultura e literatura e produzir materiais de apoio didático. E para disseminar o patrimônio cultural de Rubem Alves, o Instituto também criou o Clube do Saber, um acervo digital com suas obras que também conta com programas de capacitação através de concursos e seminários.
Até o final de sua vida, Rubem defendeu que a educação brasileira deveria passar por mudanças severas. Os vestibulares, por exemplo, eram um dos alvos do educador, que não acreditava em respostas prontas, mas no incentivo à pesquisa e à curiosidade.
Mas além de tudo, Rubem Alves era um pensador da vida. Defendia a simplicidade e a apreciação das coisas pequenas. Esta maneira de enxergar a vida refletia em todas as suas obras e pensamentos. O Brasil perdeu um grande intelectual, mas seu legado ainda tem muito poder de transformação.
“Eu não tenho medo de morrer… Só tenho pena. A vida é tão boa…”