A Educomunicação tem grande potencial para se tornar um caminho para a efetiva aplicação nas salas de aula da Lei Federal nº 10.639, de 2003, que instituiu como obrigatório o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira nos currículos dos ensinos fundamental e médio das escolas brasileiras.

Essa foi a essência da apresentação da integrante da consultoria AfroeducAção, Paola Prandini, ocorrida no painel “Diversidade, etnia e educomunicação”, no IV Encontro Brasileiro de Educomunicação, que acontecu até sábado (27/10), em São Paulo (SP).

Para Paola, a escola não espelha a diversidade da identidade brasileira. "Vivemos num país majoritariamente de pessoas negras, e não vemos refletida dentro da escola essa identidade negra. Esse é um tema que é tratado nas nossas escolas, apenas na semana da consciência negra", disse.

Segundo ela, a grande dificuldade dos professores é ter confiança para trabalhar esta temática em sala de aula. Ela cita várias atividades pedagógicas que podem ser utilizadas para abordar esse assunto, em especial aquelas ligadas ao cinema ou à música, e para isso sugere o uso de discografias e filmografias específicas sobre a temática da afrobrasilidade.


Debate durante o painel “Diversidade, etnia e educomunicação”

Nesse sentido, a Educomunicação é um conceito que deve ser posto em prática nas escolas. "A Educomunicação é um convite à dialogicidade, ao protagonismo, à liberdade de expressão, e deve ser trabalhado com o objetivo de levar a temática da cultura africana às escolas e proporcionar a implementação da Lei.”

Após a palestra, Paola concedeu uma entrevista exclusiva ao NET Educação. Confira abaixo:

NET Educação – O que é preciso para que o professor aplique a Lei 10.639/03 em sala de aula?

Paola Prandini – É preciso que ele se destitua das crenças que traz, que se desprenda delas, para poder conhecer e se deixar levar pelo outro.

NET Educação – E como a educomunicação pode ajudá-lo?

Paola – A educomunicação permite que a gente pare e pise no chão do outro, possibilita a cultura do ouvir. A África é um berço de oralidade, a cultura africana é a do ouvir. Estar aberto para ouvir o outro é fundamental.

NET Educação – Que tipo de conteúdo o professor conta em sala de aula para ajudá-lo?

Paola – Há filmes que trabalham temáticas relacionadas a racismo, família, histórias de vida. Também é muito positivo incentivar as rodas de conversa – e eu digo ‘rodas’ mesmo, não aquele esquema militar de um ficar olhando para a nuca do outro, mas rodas mesmo. O jovem pode produzir sua própria história de vida, e o professor pode atuar como facilitador, como mediador de indivíduos.

NET Educação – E há espaço para isso em sala de aula?

Paola – Sim, se o professor for um ‘guerrilheiro’. Dá sim para estabelecer a troca, pelo respeito.


"Esse é um tema que é tratado nas nossas escolas,
apenas na semana da consciência negra."

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