Conteúdos

A Esporotricose é uma micose subcutânea causada por espécies patogênicas e dimórficas do gênero Sporothrix, sendo Sporothrix brasiliensis a principal espécie responsável por surtos epidêmicos no Brasil devido à sua maior virulência e capacidade de evasão imunológica. Este fungo patogênico pode infectar humanos e outros animais, sendo os gatos os principais transmissores. Além disso, tem causado surtos em vários locais, levando a preocupações de saúde pública devido à sua transmissão zoonótica.

Objetivos

  • Compreender o que é a esporotricose e o agente causador.
  • Entender como a esporotricose é transmitida para humanos e animais.
  • Apresentar o que são micoses subcutâneas.
  • Identificar os sinais da esporotricose.
  • Conhecer as formas de diagnóstico e as opções de tratamento da esporotricose.
  • Discutir medidas preventivas e de controle da esporotricose.

Conteúdos/Objetos do conhecimento:

  • O que é esporotricose;
  • Como a esporotricose é transmitida;
  • Diagnóstico e as opções de tratamento da esporotricose;
  • Medidas preventivas e de controle da esporotricose.

Palavras-chave:

Esporotricose, micose subcutânea, Sporothrix spp.

Previsão para aplicação:

4 aulas (50 min/aula).

Proposta de trabalho:

Professor(a) para a implementação deste plano, sugiro a seguinte distribuição dos conteúdos:

Inicie a primeira aula, dando uma introdução à esporotricose. Explique o que é a esporotricose, abordando a sua importância epidemiológica, e destacando o papel do fungo Sporothrix spp. como agente causador da doença. Também sugiro abordar os mecanismos de transmissão zoonótica, com ênfase nos gatos como principais transmissores.

Na segunda aula, explore os sinais clínicos, diagnóstico e tratamento da esporotricose, começando com uma explicação breve dos tipos de micose (superficiais, cutâneas, subcutâneas, sistêmicas e oportunistas), dando maior ênfase às micoses subcutâneas, que atingem tecidos profundos após traumas. Detalhe os sintomas típicos da esporotricose, como lesões em nódulos ou úlceras que podem se espalhar, além de manifestações graves em casos de imunossupressão. Explique o diagnóstico por exames laboratoriais e destaque o uso de antifúngicos como o itraconazol, reforçando a importância de aderir corretamente ao tratamento para evitar recaídas. Conclua promovendo uma discussão sobre os desafios do manejo e a relevância do uso adequado da medicação.

Para encerrar o tema, na terceira etapa, o foco será nas medidas preventivas e de controle da esporotricose. Serão discutidas estratégias de prevenção, tanto individuais quanto coletivas, com destaque para a identificação precoce da doença em humanos e animais, a importância do tratamento adequado dos casos diagnosticados e o controle de animais domésticos, especialmente gatos, que são os principais transmissores.

E, por fim, na quarta etapa, sugiro a aplicação de uma atividade com questões sobre as aulas.

1ª Etapa: O que é a esporotricose? Como ocorre a transmissão?

Figura 1. Gato com esporotricose causada por Sporothrix brasiliensis (Gremião et al., 2021)

Figura 2. Imagem autoral, disponibilizada por Leonardo Brogliato de Moraes, mestrando do Laboratório de Imunologia Celular e Bioquímica de Fungos e Protozoários (LICBfp) da Universidade Federal de São Paulo.

A esporotricose se trata de uma micose que geralmente acomete a pele nos níveis cutâneo e subcutâneo, podendo ocorrer tanto na forma subaguda quanto na forma crônica. Essa doença é causada pelo gênero fúngico Sporothrix, sendo a principal espécie Sporothrix sckenckii, que foi descrita por Benjamin Schenck nos Estados Unidos em 1898. Já no Brasil, Lutz e Splendore descreveram em 1907 os primeiros casos de esporotricose em humanos. Esses fungos têm distribuição universal, sendo mais frequentes em áreas tropicais e subtropicais.

Atualmente, no Brasil, a espécie mais frequente da esporotricose humana e felina é Sporothrix brasiliensis (> 90% dos casos), um patógeno fúngico emergente que tem levantado preocupações de saúde pública devido à transmissão zoonótica, sendo uma espécie altamente virulenta. A doença esporotricose é de grande importância epidemiológica devido à sua capacidade de causar surtos em áreas urbanas e rurais.

Os fungos do gênero Sporothrix são caracterizados por serem termodimórficos, ou seja, no meio ambiente a 25-26°C eles se apresentam na forma micelial, que é a forma infectante presente no solo, matéria orgânica vegetal e matéria orgânica em decomposição na natureza. No hospedeiro a 37°C esse fungo é encontrado como leveduras, também conhecida como fase patogênica.

A transmissão se dá por inoculação traumática do fungo devido à perfuração por espinhos ou lascas de madeira na pele com material contaminado ou por zoonose, através de arranhões ou mordidas, tendo o gato como principal vetor. Pelo fato de o fungo ser comumente encontrado na natureza, especialmente associado a vegetação, plantas ou restos vegetais no solo, ele afeta muitos trabalhadores agrícolas, guardas florestais, jardineiros ou pessoas que têm contato com plantas e solo de ambientes naturais. E, portanto, é considerada uma doença ocupacional. A transmissão por mordidas ou arranhões, principalmente de gatos, que podem carregar grande quantidade de levedura entre as garras, além do contato próximo com humanos, permitiu caracterizar a esporotricose como uma zoonose, afetando principalmente famílias (com infraestrutura desfavorável e condições socioeconômicas com gatos doentes em casa) e profissionais e auxiliares veterinários.

2ª Etapa: Sinais clínicos, diagnóstico e tratamento da esporotricose

Para compreender melhor a complexidade da doença é importante explicar a diferença entre as micoses, que podem ser classificadas de acordo com a profundidade e localização da infecção no corpo humano:

  • As micoses superficiais: afetam as camadas mais externas da pele e do cabelo.
  • As micoses cutâneas: atingem as camadas mais profundas da epiderme, cabelos e unhas, geralmente causadas por fungos dermatófitos que utilizam queratina como substrato.
  • Micoses subcutâneas: atinge tecidos mais profundos, como derme, tecido subcutâneo e músculos. Geralmente ocorrem após traumas que introduzem fungos no local. Essas micoses tendem a ser crônicas.
  • Micoses sistêmicas: Afetam órgãos internos e, em alguns casos, podem se espalhar pelo corpo. A infecção geralmente ocorre por inalação de esporos, com início nos pulmões, podendo se disseminar para outros órgãos.
  • Micoses oportunistas: Afetam principalmente indivíduos imunossuprimidos (ex.: portadores de HIV, transplantados ou pessoas em quimioterapia). Podem acometer diversos tecidos do corpo.

 Sinais clínicos

Os sintomas típicos da esporotricose em humanos incluem lesões cutâneas e subcutâneas, inicialmente semelhantes a nódulos ou pápulas, que podem evoluir para úlceras com bordas elevadas. Em casos de imunossupressão, como em pacientes com HIV/AIDS, a infecção pode progredir para uma forma disseminada, envolvendo pulmões, articulações ou outros órgãos.

O tempo entre a infecção por Sporothrix spp. e o aparecimento dos primeiros sintomas pode variar. Embora o período médio de incubação seja de cerca de 14 dias, e em alguns casos, esse intervalo pode se prolongar por meses, de maneira semelhante ao que ocorre em humanos, assim todo o processo gera uma infecção crônica caracterizada por lesões nodulares.

Nos felinos geralmente estão localizados em locais de maior contato, como, cabeça, focinho e patas e as lesões podem ser acompanhadas de edema e secreção purulenta, tornando-se altamente contagiosas devido à carga fúngica presente. Além disso, mucosas como a nasal ou oral, podem causar dificuldade para comer ou respirar. Apesar das lesões extensas, os gatos frequentemente mantêm uma boa condição geral de saúde, o que pode atrasar a identificação da doença. Nos casos mais graves, especialmente se não tratados, a infecção pode se disseminar, atingindo linfonodos, órgãos internos e sistemas vitais, levando a um quadro de esporotricose sistêmica.

Diagnóstico

O diagnóstico definitivo da esporotricose tanto em humanos quanto em felinos ocorre por meio da correlação de dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, as principais técnicas são:

  • Cultura Fúngica: Utilizando Pus, fluido sinovial, escarro, sangue ou fragmento de tecido para cultura e isolamento de Sporothrix spp.
  • Exame Microscópico: A observação direta de leveduras características do fungo nas amostras através da microscopia.
  • Exames Histopatológicos: Amostras de biópsia podem ser analisadas para detectar a presença de granulomas e leveduras.
  • Sorologia: Que vai identificar anticorpos ou antígenos do Sporothrix spp. no sangue do paciente.
  • Testes Moleculares: Métodos como PCR (reação em cadeia da polimerase), podem ser usados para identificar Sporothrix spp. com alta precisão, sendo especialmente úteis em casos de difícil diagnóstico.

Tratamento

A escolha do tratamento para a esporotricose varia de acordo com a forma clínica da doença, o estado imunológico do paciente e a espécie de Sporothrix envolvida. A princípio o medicamento antifúngico itraconazol é a principal opção terapêutica devido à sua eficácia, segurança e posologia conveniente, sendo amplamente utilizado no tratamento tanto em humanos quanto em animais no Brasil. Em casos graves e potencialmente fatais, recomenda-se o uso da anfotericina B, até uma eventual melhora do quadro de saúde do indivíduo. Após a melhora clínica, a terapia deve ser continuada com itraconazol.

Um dos principais desafios futuros é o surgimento de isolados resistentes ao itraconazol, comprometendo a eficácia do tratamento. Diante desse cenário, é essencial conscientizar sobre o uso adequado dos antifúngicos, enfatizando a importância de seguir corretamente a prescrição médica, não interromper o tratamento precocemente e evitar a automedicação.

3ª Etapa: Medidas preventivas e de controle da esporotricose

A prevenção passa pela identificação precoce dos casos, permitindo um tratamento rápido e eficaz para reduzir a disseminação do fungo. Em humanos, é essencial o uso de equipamentos de proteção ao realizar atividades de risco, como jardinagem e manuseio de plantas, além da higienização imediata de ferimentos para minimizar as chances de infecção. Como os gatos são os principais transmissores da forma zoonótica da esporotricose, é importante evitar contato direto com gatos desconhecidos, especialmente aqueles com feridas ou sinais de infecção, além de ter cautela com arranhões e mordidas, buscando atendimento médico ao surgirem lesões suspeitas.

Nos animais, a identificação e o tratamento imediato de gatos infectados são fundamentais para evitar a propagação da doença. Além disso, é necessário conscientizar a população sobre a posse responsável, destacando a importância de não abandonar gatos doentes e garantir seu tratamento adequado, e em casos de vulnerabilidade financeira procurar ongs e hospitais públicos, que podem oferecer assistência veterinária gratuita ou mais acessível e orientações sobre o manejo adequado da doença. Outra medida fundamental é evitar que os animais domésticos circulem livremente pelas ruas para prevenir a esporotricose e outras doenças. O contato direto com secreções de animais infectados deve ser evitado, adotando o uso de luvas e medidas de biossegurança.

Por fim, destacamos que os gatos não são vilões da esporotricose, mas sim vítimas da doença. Maltratá-los ou abandoná-los não resolve o problema e apenas contribui para a disseminação do fungo. O caminho correto é a posse responsável, garantindo o tratamento adequado dos animais doentes e adotando medidas preventivas para proteger a saúde de todos. Com conscientização, empatia e acesso a tratamento, é possível controlar a esporotricose sem recorrer a maus-tratos.

4ª Etapa: Atividade em sala de aula

Para finalizar sugiro uma atividade com questões sobre a esporotricose.

1 – O que é a esporotricose e como ela é causada?

a) Uma infecção viral causada por Sporothrix spp.
b) Uma micose cutânea e subcutânea causada por fungos do gênero Sporothrix.
c) Uma infecção bacteriana causada por Sporothrix spp.
d) Uma doença causada por um protozoário encontrado em gatos.

2 – Qual é a principal espécie do fungo Sporothrix responsável pela maioria dos casos de esporotricose no Brasil?

a) Sporothrix schenckii
b) Sporothrix brasiliensis
c) Sporothrix albicans
d) Sporothrix floresii

3 – Quais são as principais formas de transmissão da esporotricose para os seres humanos?

a) Contato com alimentos contaminados.
b) Mordidas ou arranhões de gatos infectados.
c) Inalação de esporos do fungo presentes no ar.
d) Picadas de insetos infectados.

4 – O que são as micoses sistêmicas e como a infecção por Sporothrix spp. pode evoluir para esse quadro?

a) As micoses sistêmicas afetam as camadas mais profundas da epiderme, cabelos e unhas. A infecção por Sporothrix spp. se torna sistêmica imediatamente após a lesão da pele.
b) As micoses sistêmicas são infecções virais que comprometem o sistema imunológico. A esporotricose pode se tornar sistêmica se não for tratada com antibióticos adequados.
c) As micoses sistêmicas são infecções raras que só ocorrem em animais. A infecção por Sporothrix spp. nunca evolui para um quadro sistêmico em humanos.
d) As micoses sistêmicas afetam órgãos internos e podem ocorrer em indivíduos imunocomprometidos. A esporotricose pode evoluir para a forma disseminada quando o fungo se espalha pela corrente sanguínea.

5 – Do seu ponto de vista qual a importância do tratamento adequado para essa doença?

6 – Você já conhecia a esporotricose, já viu algum caso?

Gabarito:

1 – b

2 – b

3 – b

4 – d

5 – ⁠ Espera-se que os alunos reflitam sobre os impactos do tratamento correto na saúde dos indivíduos. Eles podem abordar a importância de prevenir complicações mais graves, como infecções mais profundas, ou de reduzir o risco de transmissão da doença.

6 – ⁠O objetivo da questão é entender o nível de familiaridade dos alunos com a doença. Eles podem falar sobre suas experiências pessoais, se já ouviram falar sobre a esporotricose ou se já presenciaram casos em pessoas ou em animais, como cães e gatos, como uma forma de levantar o conhecimento prévio e possibilitar uma discussão mais aprofundada sobre a doença.

Materiais Relacionados

  • Gremião IDF, Martins da Silva da Rocha E, Montenegro H, Carneiro AJB, Xavier MO, de Farias MR, Monti F, Mansho W, de Macedo Assunção Pereira RH, Pereira SA, Lopes-Bezerra LM. Diretriz para o manejo da esporotricose felina causada por Sporothrix brasiliensis e revisão da literatura. Braz J Microbiol. Março de 2021; 52(1):107-124. DOI: 10.1007/s42770-020-00365-3. Epub 2020 29 de setembro. PMID: 32990922; PMCID: PMC7966609.
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Plano de aula elaborado pela Professora Sarah Fernandes Lima.

Coordenação Pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Bitencourt Monge.

Revisão textual: Professora Daniela Leite Nunes.

Crédito da imagem: Luis D. Barrera Gamboa – Getty Images

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