Conteúdos
Este plano de aula propõe um estudo aprofundado do livro “O Cristo cigano”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, destacando sua relevância literária e simbólica. Por meio da apresentação da autora, da análise da obra e de reflexões sobre sua linguagem poética e temática, os alunos serão guiados à compreensão dos principais elementos formais e críticos presentes na coletânea. A proposta inclui uma atividade de fixação e a construção de um mapa mental ilustrado, como material de revisão.
Objetivos
- Conhecer a biografia e a trajetória literária de Sophia de Mello Breyner Andresen;
- Compreender o enredo e os temas centrais de “O Cristo cigano”;
- Analisar as principais características da obra; e
- Desenvolver pensamento crítico e reflexivo a partir das temáticas abordadas no livro.
Conteúdos/Objetos do conhecimento:
- A autora – Sophia de Mello Breyner Andresen;
- A obra – “O Cristo cigano”;
- Características da obra;
- Proposta de fixação; e
- Mapa mental – material para consulta e revisão.
Palavras-chave:
Sophia de Mello Breyner Andresen. Literatura portuguesa.
Previsão para aplicação:
3 aulas (50 min).
1ª Etapa: A autora - Sophia de Mello Breyner Andresen
Previamente à exposição dessas aulas, é essencial que os alunos façam a leitura do livro, de forma que acompanhem e compreendam as informações e análises que serão expostas por você, professor(a).
Inicie perguntando aos alunos se sabem algo sobre Sophia de Mello Breyner Andresen e sua obra. Deixe que compartilhem suas experiências e, em seguida, conte a eles que a aula será dedicada ao estudo de uma obra escrita por uma das vozes mais importantes da literatura portuguesa do século XX, cuja poesia é marcada por beleza formal, densidade ética e engajamento social.
Nesta etapa, não deixe de abordar os seguintes pontos:
- Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu em 1919, na cidade do Porto, em Portugal, e faleceu em 2004.
- Foi uma das mais relevantes escritoras da língua portuguesa, destacando-se como poetisa, contista e ensaísta.
- Sua obra combina lirismo, crítica social e defesa da dignidade humana, com forte presença de temas como justiça, liberdade, ética e beleza.
- Durante a ditadura salazarista, manifestou-se politicamente por meio da literatura e da militância, tendo sido eleita deputada após a Revolução dos Cravos.
- Foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, em 1999.
- Sua poesia é considerada atemporal e ainda hoje inspira reflexões profundas sobre o papel da arte na sociedade e o compromisso do artista com a verdade.
Materiais de apoio:
Documentário Sophia de Mello Breyner Andresen – O Nome das Coisas – Panavideo Produções
Acesso em: 24 de julho de 2025.
Sophia de Mello Breyner Andresen | Biografia – Zig Zag
Acesso em: 24 de julho de 2025.
Sophia de Mello Breyner Andresen em entrevista à Emissora Nacional em 1974 – Adagietto
Acesso em: 24 de julho de 2025.
Para finalizar esta etapa, construam em conjunto (pode ser a turma toda, com o seu suporte, ou os alunos divididos em grupos) uma linha do tempo com fotos e fatos marcantes da biografia da autora.
2ª Etapa: A obra - “O Cristo cigano”
Explique à turma que, dentre as obras de autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen, nos debruçaremos sobre aquela intitulada “O Cristo cigano”, publicada em 1961.
Conte a eles que “O Cristo cigano” é uma obra singular na trajetória da autora portuguesa, composta por uma sequência de poemas que, juntos, formam uma narrativa poética. Nessa obra, Sophia experimenta uma nova forma de contar histórias, aproximando a poesia da estrutura do romance, sem abrir mão da densidade lírica que marca toda a sua produção. Trata-se de uma criação profundamente simbólica e crítica, que parte de uma lenda popular espanhola para refletir sobre grandes questões humanas e sociais.
O livro narra, em versos, a história de um escultor que, para produzir uma imagem de Cristo, decide assassinar um cigano, acreditando que só a dor verdadeira pode gerar uma representação artística autêntica. Ele pretende utilizar a imagem do cigano agonizando como inspiração para a sua obra de arte. A partir desse gesto violento, a narrativa poética denuncia a apropriação estética da dor alheia e questiona as relações entre arte, fé e poder.
Ao longo dos poemas, o leitor acompanha a construção desse episódio trágico, em que arte, sacralidade e violência se entrelaçam. Por meio de versos curtos e ritmados, a autora conduz uma narrativa em que a beleza da linguagem contrasta com a crueldade do enredo, propondo uma reflexão profunda sobre os limites éticos da arte e sobre a invisibilização dos marginalizados.
Tendo como temas centrais a injustiça, a exclusão e a violência simbólica, a obra dialoga com outras tradições literárias, especialmente com a de João Cabral de Melo Neto, autor que inspirou diretamente a escrita de “O Cristo cigano”, tendo contado a Sophia a lenda que originou o livro, e que muito a impressionou. Além disso, evidencia a influência da literatura oral, do cancioneiro popular e das narrativas tradicionais da Península Ibérica, mostrando como a poesia pode recuperar e transformar mitos e memórias coletivas.
Acerca dos personagens da obra, temos o seguinte:
- Cigano – personagem simbólica que dá título à obra. Representa aquele que é duplamente sacrificado: como indivíduo e como símbolo. Sua origem marginalizada e sua morte brutal questionam os limites da fé institucional e da arte enquanto forma de poder, trazendo também uma importante discussão sobre o valor da vida humana e a variação desse valor de acordo com a origem, já que os ciganos são considerados pessoas que vivem à margem da sociedade.
- Escultor – figura central da narrativa poética. É o artista que, em nome da beleza e da representação do sagrado, comete um ato violento, sacrificando o outro para transformar sua dor em arte. Sua atitude representa uma crítica à instrumentalização da dor alheia.
Materiais de apoio:
O CRISTO CIGANO | FUVEST | Sophia de Mello Breyner Andresen | Resumo + Análise – Leio, Logo Escrevo
Acesso em: 24 de julho de 2025.
O CRISTO CIGANO Resumo e Análise por Profa. Dra. Miriam Bevilacqua – Biblion
Acesso em: 24 de julho de 2025.
3ª Etapa: Características da obra
Diga aos alunos que “O Cristo cigano” (1961), de Sophia de Mello Breyner Andresen, é uma obra poética que se destaca por seu caráter narrativo, simbólico e crítico. Publicada em plena maturidade literária da autora, a obra representa um ponto de inflexão em sua produção, ao incorporar uma estrutura sequencial inspirada na tradição oral e ao adotar uma linguagem mais direta e precisa, influenciada por João Cabral de Melo Neto. Os poemas que compõem a obra estão inseridos no contexto do século XX, porém, dialogam com algumas características do Barroco, uma estética que teve seu auge nos séculos XVI e XVII.
Em seguida, apresente as principais características da obra e relacione-as com sua proposta estética e temática:
- Poesia narrativa e sequencial: embora seja composta por poemas independentes, a obra apresenta uma unidade temática e cronológica, formando uma narrativa contínua que se aproxima da prosa. Essa estrutura favorece a construção de um enredo com começo, meio e fim, sem abandonar a intensidade lírica.
- Linguagem contida e precisa: em contraste com o lirismo exuberante de outros momentos da autora, “O Cristo cigano” apresenta uma poesia mais direta, com versos curtos, ritmo marcado e uso frequente da redondilha menor. Essa contenção formal remete ao estilo cabralino, marcado por um rigor quase arquitetônico.
- Caráter simbólico e crítico: a história central da obra — o assassinato de um cigano para servir de modelo a uma imagem de Cristo — é apresentada como uma metáfora poderosa sobre a apropriação da dor alheia, a marginalização dos corpos não normativos e a violência travestida de arte ou fé. A figura do cigano, duplamente silenciado (como personagem e como símbolo), é central para essa crítica.
- Influência da oralidade e das lendas populares: a narrativa baseia-se em uma lenda espanhola, contada a Sophia por João Cabral de Melo Neto. A obra incorpora recursos típicos da tradição oral ibérica, como a musicalidade dos versos, a repetição de estruturas e o uso de imagens populares e religiosas.
- Reflexão ética sobre arte e poder: ao problematizar o gesto do escultor que sacrifica o outro em nome da beleza, Andresen propõe uma crítica contundente à arte que se constrói à custa da violência. A estátua final, bela e admirada, carrega em si a marca da crueldade, revelando as tensões entre estética, ética e poder.
- Temas contemporâneos e universais: apesar de inspirada em uma história antiga, a obra aborda questões extremamente atuais, como o racismo, a intolerância, a exploração simbólica dos marginalizados e a distorção da fé como instrumento de exclusão.
Com base nesses pontos, destaque aos alunos como Sophia de Mello Breyner Andresen criou uma obra que articula poesia, narrativa e crítica social, provocando reflexões profundas sobre os usos da arte, os limites da representação e os mecanismos de invisibilização que atravessam a história da humanidade.
4ª Etapa: Proposta de fixação
Proponha que os alunos escrevam um pequeno poema-resposta, inspirado em “O Cristo cigano”. A intenção é que expressem, por meio da linguagem poética, um ponto de vista alternativo ou um comentário crítico sobre algum aspecto da obra.
Orientações:
- O poema deve ter entre quatro e oito versos, preferencialmente curtos, seguindo a proposta da redondilha menor (se possível);
- O tema pode ser: a voz do cigano silenciado, a consciência do escultor, a estátua que “fala”, o povo que assiste, ou uma crítica à apropriação da dor alheia;
- O tom pode ser reflexivo, crítico, irônico ou lírico — de acordo com a intenção do aluno;
- Ao final, cada aluno (ou grupo) deve escrever um breve parágrafo explicando sua criação poética.
Produto final: os poemas podem ser reunidos em um pequeno “livro-resposta da turma” ou lidos em roda, seguidos de debate.
5ª Etapa: Mapa mental
Utilizando todos os conteúdos tratados acerca da obra “O Cristo cigano”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, proponha aos alunos que construam, individualmente, um mapa mental, que servirá como material de consulta e revisão.
Segue abaixo um exemplo de mapa mental, construído com base neste plano de aula:
Bom trabalho!
Plano de aula elaborado pela Professora Daniela Leite Nunes.
Coordenação Pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Bitencourt Monge.
Crédito da imagem: arquivo pessoal