Ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo. Esta era a constante busca de Paulo Freire. Educadores e educandos aprendendo mutuamente em um processo com diálogo e trocas. O objetivo? O desenvolvimento da consciência crítica. Em 2021, a visão do educador está presente tanto no legado de suas obras como na atualidade de seu pensamento.

Considerado o patrono da educação brasileira por meio da Lei nº 12.612, Paulo Freire é também uma referência internacional no campo das humanidades, com pelo menos 41 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por universidades.

Freire nasceu em Recife (PE), em 19 de setembro de 1921. Valorizando a grandiosidade de seu pensamento, no ano de seu centenário, o Instituto Claro lança este espaço especial multimídia cheio de conteúdos e novidades. Os formatos são os mais variados, comportando podcasts, planos de aula, reportagem, vídeo e linha do tempo. Sobra admiração com tanta inspiração proporcionada pelo educador!

"O livro ‘Pedagogia da Esperança’ é uma profunda crítica a toda tese, toda prática, que imobiliza os seres humanos, que diz que não dá para fazer nada [...] Podemos criar possibilidades de libertação. A questão [de achar a] saída é uma questão, então, de criação."
Jason Mafra


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Reportagem

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"A vida é a nossa primeira e grande escola permanente, mas é preciso saber aprender o que ela tem a ensinar."
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Vida e obra: linha do tempo interativa explora trajetória de Paulo Freire

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Paulo Freire não seria Paulo Freire se não tivesse nascido no Brasil. A trajetória do educador e sua pedagogia estão intimamente conectadas à história do país. O pensador se opôs à chamada educação bancária e contextualizou a aprendizagem dentro da realidade dos alunos. Alfabetizou 300 adultos em apenas 45 dias e cravou seu nome na história mundial com ideias para a democratização da educação. Das agruras da ditadura, que resultaram em sua prisão e exílio, até a volta ao Brasil e o traçado de um caminho de esperança, a linha do tempo interativa desenvolvida para este especial contextualiza as obras do autor em relação as principais mudanças em sua vida e na sociedade brasileira.

Confira a linha do tempo

Com música original, audiodrama explora prisão e exílio de Paulo Freire durante a ditadura

“Os Sabores do Saber” é uma peça teatral escrita pelo ator e dramaturgo Fernando Silveira, da Cia. Literarte, e com trilha original de Reynaldo Bessa. Na adaptação para o formato de audiodrama (radioteatro), criada especialmente para este especial multimídia, o texto destaca a pedagogia de Paulo Freire, que traz o contexto dos alunos para a aprendizagem, e seu método de alfabetização de adultos. Também é abordada a perseguição que Freire sofreu durante a ditadura, que resultou em sua prisão e exílio.

Transcrição:

(Som ambiente de delegacia)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

O que vocês querem de mim? Por que estou sendo preso? Meu nome é Paulo Reglus Neves Freire, nasci no dia 19 de setembro de 1921, na cidade de Recife, Pernambuco. Minha família é de classe média, mas todos vivemos na pobreza durante os amargos tempos da crise de 1929.

 

(Som de papel sendo manipulado em meio a vozes do ambiente de delegacia)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

Posso saber de que estou sendo acusado? Atividades consideradas subversivas?

 

André Minassian (Policial):

Tem algo a declarar em sua defesa?

 

(Sons de máquina de escrever em meio a vozerio da delegacia)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

Só porque eu acredito na educação popular como forma de despertar o senso crítico, fazendo com que a pessoa busque a ampliação de sua consciência social e atinja a sua autonomia?

(Sons de chave e de porta de ferro sendo trancada) Por isso que estão me prendendo aqui?

 

Entra trilha composta por Reynaldo Bessa

 

Walkíria Brit:

Instituto Claro apresenta: Os Sabores do Saber

 

 

(Vozerio ao fundo)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

(Começa a gargalhar em meio ao sofrimento) Desculpem... desculpem, diante de todo esse sofrimento, mas eu não posso deixar de rir quando me acusam de “lavador de cérebros”, pois a essência da minha teoria pedagógica é alérgica a regime totalitário. Na educação, assim como na vida, não existe defeito, existe efeito. E se soubermos a causa, é preciso agir.

 

Música: “Ensinar por Ensinar” (Reynaldo Bessa)

Ensinar por ensinar

É saco sem fundo

É preciso vivenciar

Ter leituras do mundo

Para não se deixar oprimir

É preciso ver, pensar e agir

 

(Sons de pássaros e ambiente rural)

Fernando Silveira (Georgina):

 Meu nome é Georgina Aparecida de Jesus. Nasci, me criei na cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, trabalhando na roça por muitos anos.  Tenho orgulho disso. Aprendi a ler e escrever... a primeira que escrevi foi enxada. Depois, martelo, serrote, marreta e essas coisas do dia a dia do meu marido. Lembro-me como se fosse hoje... 1963, Paulo Freire, ele prometeu sim e cumpriu alfabetizar adultos em 40 horas de aula, sem cartilha. E tivemos a oportunidade de participar. Mas não era só isso. Já naquela época Paulo Freire defendia um conceito de alfabetização onde não bastava apenas saber ler e escrever, mas fazer uso social e político desse conhecimento na vida cotidiana, e foi o que fiz.

 

 

Música: “Ensinar por Ensinar” (Reynaldo Bessa)

Paulo Freire é saber e lida

É a educação pela vida

 

(Sons de vozerio)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

Vocês não sabem o que aconteceu ontem: um jovem tenente se aproximou aqui da minha cela e disse: Professor, vim conversar com o senhor porque agora vamos receber um grupo de recrutas e, entre eles, professor, há uma quantidade enorme de analfabetos. Por que o senhor não aproveita sua passagem por aqui e ajuda a gente a alfabetizar esses rapazes? Fiquei surpreso com a ingenuidade do rapaz: Aí disse a ele: “Meu querido tenente, estou preso exatamente por causa disso! Está havendo uma irracionalidade enorme no país hoje, e se o senhor falar essa história de que vai convidar  Paulo Freire para alfabetizar os recrutas, meu caro tenente, se o senhor fizer isso, o senhor vai para a cadeia também.”

 

PASSAGEM / MÚSICA INSTRUMENTAL AO VIOLÃO (Reynaldo Bessa)

(Sai a música e entra som de máquina de escrever e de vozerio na delegacia)

Fernando Silveira (Paulo Freire):

Mas vocês gostam de perguntar, hein?! Mas eu gosto de responder, mas de repente a gente nem se vê mais, pois eu não sei pra onde vão me mandar, mas fiz um acordo com minha mulher para que meus filhos mais novos não venham me visitar na prisão. Para eles o pai está viajando. Que venha o exílio. Seja onde eu estiver, eu trabalharei em prol dos menos favorecidos.

 

Walkíria Brit:

Outono de 1967. Paulo Freire está exilado com sua família no Chile. Durante dois anos, entre afazeres intelectuais, troca cartas com sua prima de segundo grau, Nathercinha, que não tinha mais do que 9 anos.

 

Fernando Silveira (Paulo Freire)

(Sons de caneta ao escrever em papel)

 

(Buscando palavras, como se estivesse escrevendo a carta) “Santiago está uma beleza nesta época, somente que muito quente. A cidade está ficando cheia de flores, de todas as cores. O jardim de nossa casa azul está com a grama toda verdinha. As roseiras começam a abrir suas rosas. A gente olha pras roseiras e parecem gente rindo. Se os homens grandes, as pessoas grandes pudessem ou quisessem rir como as roseiras, como as crianças, o mundo seria uma coisa linda, Nathercinha, não seria?

Mas eu acredito que um dia, com o esforço do próprio homem, o mundo, a vida vão deixar que as pessoas grandes possam rir como crianças. Mais ainda – e isto é muito importante – vão deixar que todas as crianças possam rir. Porque hoje não são todas as crianças que podem rir, Nathercinha. Rir não é só abrir ou entreabrir os lábios e mostrar os dentes. É expressar uma alegria de viver, uma vontade de fazer coisas, de transformar o mundo, a humanidade, somente como se pode amar a Deus.

Hoje é sábado, uma beleza de dia. Deixei por um momento o estudo de um livro novo que estou escrevendo, “Pedagogia do Oprimido”. Parei por um momento para conversar um pouquinho com você, minha amiga mais moça.

Santiago do Chile, outubro de 1967.

 

Música “Ensinar por Ensinar” (Reynaldo Bessa)

Explicar por explicar

É só lero-lero

É preciso ser e estar

Ir além do dez e do zero

 

PASSAGEM DE TEMPO REMETE A UMA VOLTA AO PASSADO

 

Lucas Teodoro Abud (Paulinho)

Venha ver mãe, desenhei nossa casa, olha, se pudesse colorir a areia ia ficar mais bonito! Ontem a senhora me ensinou alguns nomes diferentes; o meu eu já sei, o da senhora vai demorar um pouco, Edeltrudes Neves Freire, muito difícil e só vou mostrar quando eu tiver certeza que tá bom.  Já estou com dez anos e ainda não sei escrever tudo que quero. Mãe o que é democracia? Está bom, amanhã eu aprendo, a senhora não vai esquecer? Está bom, mãe, já vou almoçar e a noite quero que o pai toque violão até eu dormir, mãe se eu continuar aprendendo tudo que a senhora me ensina desse jeito, serei um grande homem e não apenas um homem grande.  

 

(Sobe som da versão instrumental de “Ensinar por Ensinar”. Em seguida, a música fica de fundo)

 

Walkíria Brit:

Os Sabores do Saber

 

Texto e interpretação: Paulo Freire

Voz de Paulo Freire, quando criança: Lucas Teodoro Abud

Locução: Walkíria Brit

Trilha Sonora: Reynaldo Bessa

Músicos: Reynaldo Bessa, Caio Zan e Beatriz Kovacsik

Gravação: Caio Zan

Diretor de estúdio: André Minassian

Apoio de produção: Daniel Grecco

Edição e finalização: Marcelo Abud

Gravado na Play it Again Som e Imagem

Agosto de 2021

 

Música: “Ensinar por Ensinar” (Reynaldo Bessa)

Ensinar por ensinar

É saco sem fundo

É preciso vivenciar

Ter leituras do mundo

Para não se deixar oprimir

É preciso ver, pensar e agir

 

Explicar por explicar

É só lero-lero

É preciso ser e estar

Ir além do dez e do zero

Paulo Freire é saber e lida

É a educação pela vida

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