No dia 20 de novembro o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra. O objetivo é refletir sobre a inclusão dos negros na sociedade brasileira, tanto na perspectiva histórica quanto com relação à sua inserção atual. A data marca o dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
Comemorado por coletivos e movimentos negros há mais de 30 anos, desde que a data precisa do assassinato de Zumbi foi descoberta, em 1971, o Dia da Consciência Negra só foi oficializado em 2003, quando foi incluído no calendário escolar por meio de uma lei federal. E não é só no Brasil que a história e a luta dos povos negros é objeto de leis federais: nos Estados Unidos, no Canadá e no Reino Unido também é celebrado o Black History Month (Mês da História dos Negros).
Confira, a seguir, sete dicas de passeios, recursos digitais e abordagens para honrar a data nas salas de aula:
Dedique uma aula de história ao tema
Autores consagrados como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda ressaltam o papel central que a escravidão teve para a formação do Brasil atual. Assim, nunca é demais discutir o assunto nas aulas de história – ainda mais perto do dia 20 de novembro. É possível abordar o tema de diversas formas, mas é interessante ter sempre o foco sobre como os efeitos dela são sentidos ainda hoje. A própria história de Zumbi, que nasceu em Palmares, foi aprisionado ainda criança e depois voltou ao quilombo, é um gancho interessante para falar sobre a data. Outra ideia é pedir para os alunos produzirem narrações que contem como era um dia em uma fazenda de cana da perspectiva do senhor de engenho e dos escravos, para que eles possam perceber os diferentes pontos de vista que coexistiam naquela época
Use a literatura para falar sobre o período da escravidão
Para aprofundar o tema além da aula de história, é possível estudar, junto aos alunos, autores consagrados da literatura. Machado de Assis e Lima Barreto são dois bons pontos de partida, já que ambos eram mestiços. Também é possível discutir a questão a partir das obras de José de Alencar, que era a favor da escravidão. Em todos os casos, vale a pena incentivar os alunos a pensar de que forma a questão da escravidão aparece na obra desses escritores e como suas histórias se inserem no cenário intelectual do tempo em que eles viveram
Explore arte africana nas aulas de artes
Muitos cursos de História da Arte restringem-se apenas à história da arte ocidental e europeia. No entanto, há inúmeras vertentes de artes originárias do continente africano que raramente são exploradas. As máscaras africanas, por exemplo, com suas formas simples e abstratas, foram uma grande influência para o pintor Pablo Picasso, que por sua vez influenciou inúmeras gerações a seguir.
Discuta cartografia a partir do mapa da África
Os mapas-mundi mais comuns utilizam todos a projeção de Mercator, que prioriza os contornos das massas de terra em detrimento da proporção das suas áreas. Por conta disso, o continente africano, cuja superfície territorial é maior que a dos Estados Unidos, China, Índia, México e Peru somadas, acaba parecendo menor do que ele realmente é. É interessante trazer para a aula um mapa elaborado com a projeção de Peters, que dá preferência à proporção entre as áreas dos países, para compará-lo com o de Mercator e discutir por que um deles é mais comum que o outro. Isso pode levar a uma discussão interessante sobre como os mapas aos quais já estamos acostumados trazem uma carga geopolítica importante, que nós nem sempre percebemos.
Visite o Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera
Inaugurado em 2004, o Museu Afro Brasil tem como objetivo divulgar a contribuição dos povos africanos para a formação da identidade e da cultura brasileiras. Por conta da posição secundária à qual eram relegados os negros na época da escravidão, a participação deles na formação da nossa cultura muitas vezes é subestimada e deixada de lado. Felizmente, o Museu Afro possui um acervo com mais de 6 mil obras que busca resgatar a importância dos povos africanos na nossa religião, arte e vida cotidiana.
Explore a música
Não importa qual seja o estilo de música favorito dos seus alunos, é muito provável que ele tenha se originado de populações negras e marginalizadas. O rap, o hip-hop, o soul e o R’n’B são os exemplos mais claros disso, mas não são os únicos: o rock, o jazz e o blues têm sua origem nas populações negras dos Estados Unidos do começo do século XX, e o funk carioca também é um desenvolvimento do funk norteamericano de James Brown. O fato de que todos esses estilos de música foram, em algum momento, considerados “inferiores” ou “degenerados” pode gerar uma discussão interessante sobre como o valor que atribuímos à música e às artes de forma geral está associado à posição social ocupada por aqueles que as produzem.
Utilize jogos digitais
Embora a escravidão no Brasil tenha sido abolida oficialmente há 126 anos, o trabalho em condições análogas às de escravidão ainda é um problema no país. Pensando nisso, a ONG Repórter Brasil lançou, neste ano, o jogo “Escravo, Nem Pensar!”. O game coloca os jogadores na situação de um trabalhador que deixa sua cidade natal em busca de melhores condições de vida e acaba sendo explorado, e permite que ele faça escolhas para tentar escapar dessa situação. Mesmo que seja em um jogo, a vivência dessa situação deve fornecer uma boa base para reflexões sobre exploração do trabalho e a perda de dignidade e auto-estima associadas a ela.