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Diante da pandemia, o fechamento das escolas foi uma das medidas adotadas globalmente para reduzir a transmissão da Covid-19. A decisão no meio do ano letivo, no entanto, teve impacto direto na rede pública de educação, que precisou se adaptar ao ensino remoto. É esse impacto que o estudo “Uma avaliação dos programas de educação pública remota dos estados e capitais brasileiros durante a pandemia do covid-19”, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), busca avaliar.

“Os alunos que podem dispor da internet para estudar, para pesquisar em casa, vão ter uma vantagem muito grande em relação àqueles que não têm. Então, essa universalização ficaria como um legado, mesmo com a normalização da pandemia e as aulas presenciais como tínhamos antigamente”, analisa o mestrando do Departamento de Ciência Política da USP Luiz Guilherme Cantarelli, autor do estudo ao lado dos pesquisadores Lorena Barberia e Pedro Henrique Shmalz.

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“Nós desenvolvemos um indicador com o objetivo de compreender os esforços para aumentar o alcance do ensino remoto e a qualidade desse oferecimento em todos os Estados e em todas as capitais. O nosso objetivo era entender que populações acabariam ficando mais ou menos atendidas pelos programas oferecidos”, explica Cantarelli. Para ele, a ausência de um comando centralizado por parte do Ministério da Educação fez com que estados e municípios definissem suas estratégias de maneira bastante heterogênea.

Para realizar o levantamento dos dados, foram avaliadas quatro dimensões dos planos: o meio de transmissão das aulas, disponibilização de acesso, supervisão das atividades e a cobertura dos planos.“Apesar de as aulas terem sido oferecidas majoritariamente pela internet, a preocupação ou a capacidade que as secretarias tiveram de ampliar o acesso em 2020 foi muito reduzida”, observa.

Aprendizados para o ensino híbrido

Os dados continuam a ser acompanhados neste ano. Cantarelli antecipa, no áudio, alguns índices que ainda serão publicados. Face ao agravamento da evasão e à extensão da prevalência do vírus no Brasil, as secretarias de Educação têm procurado diminuir o impacto da falta de acesso às aulas.

“Agora nós já estamos atualizando as medidas para 2021. Com a capacidade de planejar de maneira antecipada o ano letivo, a preocupação das secretarias em distribuir dispositivos e aumentar o acesso à internet – sabendo que o plano vai ser um ano de ensino híbrido – tem sido muito maior”, pontua.

O pesquisador aponta, ainda, que o retorno ao ambiente escolar, mesmo que lento e levando em conta protocolos sanitários rígidos, deve beneficiar o acesso dos alunos mais vulneráveis. “Imagino que com os retornos híbridos este ano, esse problema vai se reduzir bastante, porque vai ser muito mais fácil fazer o acompanhamento do ano letivo dos alunos. E isso ainda somado às iniciativas de combate à evasão”, avalia.

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Rádio é alternativa como ferramenta de ensino remoto

Transcrição do Áudio

Música: “The Provisions” (Biblioteca de áudio do Anchor)

Luiz Guilherme Cantarelli:
O plano ideal seria garantia de internet para os alunos, a distribuição de dispositivos e buscar universalizar o acesso à internet para os alunos mais vulneráveis, principalmente, que nós vamos chegar, muito provavelmente – quase com certeza – a dois anos letivos completos em que o ensino remoto é determinante para a qualidade do ensino, né?
Luiz Guilherme Cantarelli, sou mestrando no departamento de Ciência Política da FFLCH-USP. Pesquisador, desde março do ano passado, da Rede de Pesquisa Solidária de análise das políticas de combate ao Covid no Brasil. Também tenho desenvolvido pesquisa em parceria com o Instituto Butantã.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
Com o início da pandemia, o fechamento das escolas foi uma das medidas adotadas para reduzir a transmissão do novo coronavírus. Diante desse fato, como as redes públicas se adaptaram ao ensino remoto? Nesta edição, o Instituto Claro repercute “Uma avaliação dos programas de educação pública remota dos Estados e capitais brasileiros durante a pandemia do covid-19”. O estudo é uma realização de pesquisadores de Ciência Política da FFLCH-USP, em parceria com a FGV.

Luiz Guilherme Cantarelli:
Nós desenvolvemos um indicador com o objetivo de compreender os esforços pra aumentar o alcance do ensino remoto e a qualidade desse oferecimento em todos os Estados e em todas as capitais estaduais. O nosso objetivo era entender: que populações acabariam ficando mais ou menos atendidas pelos programas oferecidos? Que problemas a gente poderia identificar, inclusive também porque já se vislumbrava um retorno híbrido em 2021, que exigiria a continuidade do ensino remoto. Então compreender de maneira mais detalhada os planos poderia servir de aprendizado pra o desenvolvimento de melhores planos nesse ano. A criação desse índice, ela servia tanto pra entender o que tinha sido proposto quanto pra informar a população da heterogeneidade que ocorreu pelo país, pra que a sociedade pudesse compreender o que havia sido feito, comparar o que os Estados fizeram.

Marcelo Abud:
O levantamento de dados avaliou quatro dimensões dos planos criados pelas secretarias de educação. Cantarelli comenta o que o estudo concluiu sobre o meio de transmissão das aulas e a disponibilização de acesso aos alunos.

Luiz Guilherme Cantarelli:
O primeiro achado principal é que as aulas foram majoritariamente oferecidas pela internet. Paralelamente, uma preocupação muito baixa com a distribuição de dispositivos e o aumento do acesso dos alunos à internet. Uma questão que é importante ressaltar é que a pandemia e o fechamento de escolas se deu em meio ao ano letivo. As secretarias tiveram que enfrentar de maneira emergencial a questão de oferecer o ensino remoto, e também – é importante ressaltar – sem uma coordenação ativa, sem um plano federal que unisse ou representasse de maneira clara e que estimulasse e distribuísse recursos, claramente, pra ampliar esse acesso e para estimular o ensino digital, que fez com que cada secretaria apresentasse um plano independente. O que fez com que os planos tivessem uma heterogeneidade muito grande em praticamente todas as categorias.

Música: “A Cara do Brasil” (Celso Viáfora), com Ney Matogrosso
O Brasil é uma foto do Betinho
ou um vídeo da Favela Naval?
São os Trens da Alegria de Brasília
ou os trens de subúrbio da Central?

Marcelo Abud:
O estudo continua. Dados que ainda serão publicados demonstram o que tem acontecido neste ano.

Luiz Guilherme Cantarelli:
Apesar de as aulas terem sido oferecidas majoritariamente pela internet, a preocupação ou a capacidade que as secretarias tiveram de ampliar o acesso em 2020 foi muito reduzida. Em compensação, agora nós já estamos atualizando as medidas pra 2021, com a capacidade de planejar de maneira antecipada o ano letivo, a preocupação das secretarias em distribuir dispositivos e aumentar o acesso à internet – sabendo que o plano vai ser um ano de ensino híbrido – tem sido muito maior.

Marcelo Abud:
Outro aspecto analisado pelo estudo foi como se deu a criação dos planos para as aulas remotas. Para isso, foram levados em conta os documentos oficiais divulgados pelos sites das secretarias.

Luiz Guilherme Cantarelli:
A mera apresentação de planos demorou em média cerca de 30 a 40 dias, a partir do fechamento das escolas em cada Estado. Nas capitais a média foi de quase 50 dias de demora para apresentação de um plano. Então você teve, a partir do fechamento das escolas, quase 2 meses em que a maioria dos alunos e da comunidade escolar não sabia o que iria acontecer, qual seria o plano de continuidade do ensino. Talvez porque se imaginou que a pandemia fosse melhorar e as aulas presenciais fossem voltar.

Marcelo Abud:
Juntamente com outros dois pesquisadores do Departamento de Ciência Política da USP, Cantarelli avaliou também as diferenças entre as propostas dentro da própria rede pública.

Luiz Guilherme Cantarelli:
O que a gente pode perceber é que os planos estaduais apresentaram uma média das notas razoavelmente maior do que a das capitais, apesar de ambas terem sido bastante baixas, enquanto os Estados ficaram com média um pouco acima de 2, as capitais ficaram com média um pouco abaixo de 2, de 10 possíveis, notas bem baixas perto do que seria um plano ideal que fosse bastante abrangente. Mas a gente tem feito, alguns estudos mais recentemente, que vão um pouco além do que foi publicado até o momento, praticamente todas as secretarias estaduais tiveram cortes, em 2020, em relação ao orçamento da educação, que foram, em média, maiores do que a perda da arrecadação correspondente. Então quanto maiores os cortes que foram feitos na educação, acabaram apresentando os piores planos. Essa negligência ou essa falta de prioridade, em que a educação acabou ficando em segundo plano em muitos Estados, coincide com cortes no orçamento da educação.

Música: “Retrato” (Fabio Brazza e RPK)
Brasil o país campeão;
Campeão da hipocrisia da demagogia e da corrupção
Campeão em imposto, desigualdade, discriminação,
O último país da américa a abolir a escravidão

Luiz Guilherme Cantarelli:
E a outra coisa que nós encontramos também, que era esperado, é que os Estados com PIB per capta maior tiveram planos melhores quando comparados com Estados com PIB per capta menor. O que mostra ainda mais a importância de uma coordenação federal pra conseguir dar suporte, principalmente, aos Estados que tinham menos recursos pra transformar o ensino em remoto.

Marcelo Abud:
A desigualdade no acesso à internet já era verificada antes da pandemia. No entanto, a urgência em se utilizar a rede para garantia do ensino demonstra outros aspectos importantes para que se dê prioridade a esse item, mesmo com o ensino híbrido ou quando as aulas voltarem a ser presenciais.

Luiz Guilherme Cantarelli:
Os alunos que podem dispor da internet pra estudar, pra pesquisar em casa, vão ter uma vantagem muito grande em relação àqueles que não têm. Então essa universalização ficaria como um legado, mesmo com a normalização da pandemia, e as aulas presenciais como nós tínhamos antigamente. .

Música: “Admirável Chip Novo” (Pitty)
Mas lá vem eles novamente
Eu sei o que vou fazer
Reinstalar o sistema

Luiz Guilherme Cantarelli:
O retorno híbrido, apesar de todas as questões epidemiológicas, dos protocolos e tudo o mais,… os alunos mais vulneráveis, muito provavelmente, vão acabar voltando para o presencial, e isso reduz um pouco esse problema da questão da supervisão, porque você já vai ter de maneira rotineira o contato do professor com o aluno, que permite que as atividades sejam acompanhadas da presença. O que, no ano de 2020, que foi um ano 100% remoto – muito aquém do ideal – eu imagino que com os retornos híbridos, esse problema vai se reduzir bastante porque vai ser muito mais fácil fazer esse acompanhamento do ano letivo, dos alunos e isso ainda somado às iniciativas de combate à evasão. Você tem muitos Estados aprendendo e desenvolvendo mais formas de supervisionar os alunos, o que é difícil, né, porque no ensino remoto você, muitas vezes, acaba perdendo o contato. Mas eu acho que é uma dimensão muito importante que se criem esses laços dentro da comunidade escolar entre professores, pais, alunos e as secretarias.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
No texto que acompanha este áudio, você encontra links para o relatório e para atualizações que são publicadas no site da Rede de Políticas Públicas & Sociedade.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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