Conteúdos

Este roteiro de estudos propõe uma análise da obra Nove noites, de Bernardo Carvalho. Aborda o gênero romance e suas características, assim como as particularidades do autor, seu contexto histórico e literário, encerrando com exercícios de fixação, para auxiliar na aprendizagem.

● Apresentação do autor;
● Contexto histórico e literário;
● Apresentação do livro; e
● Análise da obra.

Objetivos

● Conhecer o autor Bernardo Carvalho;
● Compreender a obra Nove noites;
● Entender as características do gênero romance; e
● Observar a narrativa e seus componentes constitutivos.

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Palavras-chave:

Literatura brasileira. Bernardo Carvalho. Nove noites.

Proposta de trabalho:

Neste roteiro de estudos, você aprenderá sobre a obra Nove noites, de Bernardo Carvalho. Em seguida, você encontrará a apresentação do contexto histórico no qual o autor se inspirou para o desenvolvimento da obra. Além disso, você verá a apresentação do livro e a análise de alguns trechos escolhidos. Ao final, sugerimos que realize os exercícios de fixação, para compreender melhor a linguagem temática do autor. Para melhor aproveitamento e para fixar as ideias principais, realize um diário de leitura durante a leitura da obra. Assista aos vídeos e ao podcast, e acesse os links sugeridos. Bons estudos!

1ª Etapa: Apresentação do autor

Bernardo Carvalho é escritor, jornalista e tradutor. Nascido em 1960, no Rio de Janeiro, suas obras fazem parte da literatura contemporânea. Ganhador três vezes do Prêmio Jabuti, foi correspondente do jornal Folha de São Paulo, em Nova York, Paris e Londres. Atualmente, trabalha como colunista do mesmo veículo de comunicação.

Publicou sua primeira obra em 1993, o livro de contos Aberração, trazendo seu estilo labiríntico, que questiona os limites entre a loucura e a razão. Bernardo Carvalho publicou, majoritariamente, romances, como: Onze (1995); Os bêbados e os sonâmbulos (1996); Teatro (1998); As iniciais (1999); Medo de Sade (2000); Nove noites (2002); Mongólia (2003); O sol se põe em São Paulo (2007); O filho da mãe (2009); Reprodução (2013); e Simpatia pelo demônio (2016).

Podemos observar, em suas características estilísticas, a preferência por narrativas fragmentadas de mistério e policiais, trazendo uma linguagem mais objetiva e jornalística, com personagens em busca de autoconhecimento. Para conhecer melhor o escritor, acesse os links indicados.

Um Escritor na Biblioteca – Bernardo Carvalho
Acesso em: 17 de março de 2022.

Bernardo Carvalho
Acesso em: 17 de março de 2022.

2ª Etapa: Contexto histórico e literário

No período histórico em que o autor escreveu o livro “Nove noites”, o Brasil vivia um processo de transição política, com o fim da ditadura militar, em 1985, a eleição e o posterior impeachment de Fernando Collor de Mello (1989-1991), e o período de estabilização do Plano Real. Bernardo Carvalho publicou o romance em 2002, com características de literatura contemporânea, pois reuniu tendências de narrativas históricas ou, ainda, jornalísticas.

“Nove noites”, segundo o próprio autor, são os nove encontros que um dos narradores teve com o antropólogo americano Buell Quain antes de seu suicídio, aos 27 anos. A narrativa de Bernardo Carvalho baseia-se na história real da misteriosa morte do antropólogo na frente de dois índios Krahô, em 1939, que, com o tempo, foi esquecida pela mídia, mas foi descoberta anos mais tarde por Bernardo Carvalho, que criou uma narrativa intrigante para o acontecimento.

O livro é composto por 19 capítulos, reunindo documentos, entrevistas, cartas e fotos. Com uma narrativa composta por flashbacks do protagonista Buell Quain, pela voz de Manoel Perna e do narrador principal, a narrativa segue fragmentada e enigmática aos leitores.
Ao misturar os gêneros romance e jornalístico, Bernardo Carvalho utiliza a história para defender diferentes perspectivas sobre a intertextualidade de gêneros, dando importância às narrativas de ficção em colaboração com histórias reais.

Gênero Romance
Acesso em: 27 de março de 2022.

Artigo – Jornalismo literário
Acesso em 21 de março de 2022.

Literatura brasileira contemporânea
Acesso em: 17 de março de 2022.

3ª Etapa: Apresentação da narrativa

Na narrativa, um grupo de antropólogos (incluindo Buell Quain) vem ao Brasil para estudar algumas etnias indígenas brasileiras da década de 30. O etnólogo segue para a região em que os índios Krahô se localizam, no interior do Tocantins, mais especificamente na cidade de Carolina. Na cidade, o etnólogo faz amizade com o engenheiro Manoel Perna que, ao todo, esteve com Buell Quain por nove encontros. E é a partir de lembranças do narrador e das cartas que o etnólogo deixou para alguns conhecidos, como sua orientadora, o delegado de polícia e o amigo Manoel Perna, entre outros, que a narrativa se desenvolve.
A história de “Nove noites” é desenvolvida por meio de dois narradores: Manuel Perna e outro narrador, cujo nome não sabemos, mas sugere-se que seja algum jornalista ou o próprio autor. A busca por desvendar a morte do etnólogo leva o autor a criar algumas hipóteses sobre o mistério dos motivos que levaram o pesquisador a se suicidar na frente de dois índios. O livro apresenta questionamentos e suposições, mas traz poucas respostas. A narrativa possui uma linguagem direta, porém com flashbacks de memórias do narrador-jornalista e do narrador amigo de Buell Quain, Manoel Perna, o que deixa a história um pouco fragmentada, característica da literatura contemporânea.
Para entender melhor a obra, leia o livro, ouça o podcast e assista ao vídeo. Durante a leitura, procure fazer um diário de leitura, colocando suas impressões sobre a narrativa e sobre o autor, bem como as demais curiosidades que julgar pertinentes.

Podcast – Nove Noites
Acesso em: 16 de março de 2022.

Apresentação da obra
Acesso em: 21 de março de 2022.

4ª Etapa: Análise da obra

CARVALHO, B. Nove noites. Companhia das letras, 2006.

No primeiro capítulo da obra, podemos observar a voz do primeiro narrador, Manoel Perna, amigo de Buell Quain, que relata a história do antropólogo e os motivos pelos quais não gostaria que suas lembranças fossem embora junto de sua memória. As lembranças relatadas na carta, que é endereçada a alguém que ele não conhece, possuem um tom melancólico sobre a sua relação com o pesquisador.

Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo. Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui. Pergunte aos índios. […] Desde então eu o esperei, seja você quem for. Sabia que viria em busca do que era seu, a carta que ele lhe escrevera antes de se matar e que, por segurança, me desculpe, guardei comigo, desconfiado, já que não podia compreender o que ali estava escrito — embora suspeitasse — nem correr o risco de pedir ao professor Pessoa que me traduzisse aquelas linhas (CARVALHO, B. 2006, p. 2).

Ao longo da narrativa, passado e presente se alternam durante os relatos dos narradores. O narrador-jornalista aparece no segundo capítulo para explicar como conheceu a história do antropólogo e os motivos que o levaram a entrar em contato com uma pesquisadora que escreveu um artigo sobre as cartas deixadas por Buell Quain.

[…] não insistiu em saber as minhas razões. Supôs que eu quisesse escrever um romance, que meu interesse fosse literário, e eu não a contrariei. A história era realmente incrível. Aos poucos, conforme me embrenhava naquele caso com as minhas perguntas, passou a achar natural a curiosidade que eu demonstrava pelo etnólogo suicida (CARVALHO, B. 2006, p. 7).

O narrador-jornalista demonstra, desde o início, a sua fixação pela história de Buell Quain. Passou a montar um quebra-cabeça com todas as informações que tinha sobre o caso e criou uma imagem do jovem de 27 anos, que se matou sem explicação. A primeira carta a que o jornalista teve acesso foi a de Heloisa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional no Rio de Janeiro.

Prezada dona Heloísa, estou morrendo de uma doença contagiosa. A senhora receberá esta carta depois da minha morte. A carta deve ser desinfetada. Pedi que as minhas notas e o gravador (me desculpe, sem nenhuma gravação) fossem enviados ao Museu. Por favor, remeta as notas para Columbia. Não pense o pior de mim. Apreciei a sua amizade. Mas não posso terminar o catálogo da coleção que os índios vão encaixotar e lhe enviar. Pedi que dois contos lhe fossem remetidos por conta do meu fracasso. No entanto, se a senhora receber alguma peça da coleção, por favor, lembre-se dos índios e mande o que achar adequado para Manoel Perna, de Carolina. Espero que Lipkind e Wagley cumpram com as suas expectativas. Sinceramente, Buell Quain (CARVALHO, B. 2006, p. 14).

No capítulo 3, há uma mudança de narrador para Manoel Perna. O engenheiro começa a relembrar sobre o que o antropólogo e os motivos que o levaram a esconder a única carta não enviada ao Rio de Janeiro. Perna guardou a carta, pois tinha medo de que descobrissem algum segredo de Quain.

Da sua carta, todavia, ninguém nunca soube nada. Quando ele decidiu que não podia mais ficar na aldeia e comunicou aos índios a sua decisão […] Ninguém além de mim nunca soube da carta que ele lhe deixou. Estive à sua espera por todos estes anos. Ao peso do silêncio veio somar-se o da culpa. Mas naquele momento não tive escolha (CARVALHO, B. 2006, p. 16).

Observamos, ao longo desse capítulo, um narrador melancólico pela morte do antropólogo, e tentando se desculpar por não ter enviado a carta ao remetente. O narrador vai, durante da narrativa, contando sobre os nove encontros que teve com Quain, explicando os motivos pelos quais se chocou com a sua morte.

Percebemos que o narrador-repórter mantém um discurso jornalístico investigativo em sua fala. A cada capítulo, o narrador segue uma linha de investigação, com suposições acerca dos motivos que levaram Quain a se suicidar. O narrador cita, ainda, a situação da pesquisa científica no Brasil, na época do Estado Novo de Getúlio Vargas.

O Estado Novo exigia a presença de um cientista brasileiro nas expedições estrangeiras como uma forma de controle, figura que o próprio Lévi-Strauss definiu, com alguma antipatia, como um “inspetor fiscal” […] Ser responsável por alguém naquela época era uma coisa muito séria, porque você tinha que prestar conta aos órgãos oficiais, que tinham um vasto controle sobre o espaço brasileiro e a pesquisa. Os órgãos de repressão eram muito ativos (CARVALHO, B. 2006, p. 20-22).

Alguns relatos sobre os motivos do suicídio levam a entender que o antropólogo tinha uma doença sexualmente transmissível. A julgar pelas manchas no corpo, poderia ser sífilis, porém nunca ocorreu qualquer diagnóstico, tampouco tratamento. As entrevistas feitas pelo narrador-repórter mostram Buell Quain como excêntrico e, apesar de ser filho de pais ricos, não gostava de mostrar essa característica.

A mudança de narrador entre os capítulos deixa a narrativa fragmentada. É necessário ter atenção para entender de qual perspectiva a história é narrada, a cada etapa. A perspectiva do narrador-repórter inclui suas próprias lembranças de vida, o que adiciona tramas extras à história central.

Ninguém nunca me perguntou, e por isso nunca precisei responder que a representação do inferno, tal como a imagino, também fica, ou ficava, no Xingu da minha infância […] Era a fazenda mais próxima da que o meu pai tinha decidido fundar, em 1970, no Xingu, e que batizou de Santa Cecília, em homenagem à prima com quem vivia naquele tempo e que logo o perseguiria com advogados, humilhada pelo engodo da própria paixão, para reaver o dinheiro que lhe emprestara e que ele havia enfiado naquelas terras, supostamente em gado, ao mesmo tempo que saía com outras mulheres de maneira cada vez mais descarada (CARVALHO, B. 2006, p. 43).

Ao colocar lembranças pessoais, o narrador-repórter se insere na narrativa, como forma de fazer parte da história que ele tanto quer desvendar. De certa forma, por compartilhar suas lembranças de infância no Xingu, demonstra que também compartilha dos interesses de Quain em relação aos indígenas, pois participava de expedições com seu pai quando criança. Além disso, seu pai costumava dizer a todos que seu filho era neto do Marechal Rondon, sertanista militar que atuou para integrar a região Norte ao restante do Brasil, além de ter sido defensor dos povos indígenas.

Ao final da narrativa, o narrador-repórter demonstra que não há uma solução para o caso de Buell Quain, pois há muitos elementos que não se encaixam, o que impossibilita a compreensão dos motivos que o levaram ao suicídio.
A obra de Bernardo Carvalho nos mostra como é possível interligar, dentro da narrativa, diferentes gêneros, realizando uma nova história. Nos agradecimentos do autor, ele deixa claro que a história é uma obra de ficção, embora baseada em fatos, experiências e pessoas reais. Após a leitura do livro, responda às questões, acesse os links sugeridos e faça relações com a História e com a Antropologia, além de buscar entender as relações entre o gênero romance e o jornalístico. Bons estudos!

Marechal Rondon

Acesso em: 27 de março de 2022.

Estado Novo
Acesso em 26 de março de 2022.

Antropologia
Acesso em: 27 de março de 2022.

5ª Etapa: Exercícios de fixação

Questão 1 – (UFPR) Escritores de uma nova geração, Milton Hatoum (nascido em 1952) e Bernardo Carvalho (nascido em 1960) já garantiram seu lugar no panorama multifacetado da literatura brasileira contemporânea. Relato de um certo oriente, publicado em 1989, marcou a estreia de Milton Hatoum na literatura. Nove noites, publicado em 2002, é o sétimo livro lançado por Bernardo Carvalho, que estreou na literatura em 1993 com o livro de contos Aberração. A respeito das comparações entre Relato de um certo oriente e Nove noites, considere as seguintes afirmativas:

1. Milton Hatoum consegue trazer para a sua ficção o espaço amazonense sem cair no exagero do exotismo; Bernardo Carvalho, por sua vez, tensiona o realismo pela inclusão, na ficção, de fatos e personagens históricos, autobiografia e experiências pessoais.
2. Através de estratégias diferentes, os dois romances buscam compreender o passado, conscientes da obrigação histórica de recuperá-lo tal como aconteceu: Relato de um certo oriente resgata a memória trágica de uma família que viveu em Manaus; Nove noites investiga a morte de um antropólogo no sul do Maranhão, para entregar ao leitor a solução de um mistério até então não resolvido.
3. A epígrafe de W.H. Auden – “Que a memória refaça/A praia e os passos/O rosto e o ponto do encontro” (em tradução de Sandra Stroparo e Caetano Galindo) – anuncia o elemento central da narrativa de Milton Hatoum. O título do romance de Bernardo Carvalho se refere às nove noites que o antropólogo Buell Quain passou na companhia de Manoel Perna, durante a sua estada entre os índios Krahô.
4. O tratamento dado aos nativos em Relato de um certo oriente pode ser verificado na humilhação e nos abusos sofridos pelas caboclas e índias que trabalhavam na casa de Emilie, principalmente por parte dos dois “inomináveis”. Em Nove noites, a narração do jornalista volta a momentos centrais da história do Brasil no século XX – Estado Novo, Ditadura Militar e Período Democrático –, marcando a situação de vulnerabilidade permanente dos índios num mundo de brancos.
5. Na Manaus multicultural da primeira metade do século XX, Emilie e seus filhos, com a curiosidade natural do imigrante, atravessam constantemente o rio que separa a cidade da floresta. Da mesma forma, o narrador-jornalista de Nove noites visita inúmeras vezes os índios Krahô, em busca de informações sobre o suicídio de Buell Quain.

a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 5 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.

Questão 2 – (UFSM) O romance Nove Noites (2002), de Bernardo Carvalho, apresenta um narrador em primeira pessoa que é uma espécie de investigador – o seu objetivo inicial é o de desvendar o mistério em torno da morte do antropólogo Buell Quain. Em determinado momento, em relação à leitura, o narrador revela: “Cada um lê os poemas como pode e neles entende o que quer, aplica o sentido dos versos a sua própria experiência acumulada até o momento em que os lê”. A visão do narrador-personagem relativa ao ato de ler assemelha-se à própria investigação por ele empreendida. No romance, essa busca:

a) é conduzida de forma precisa e obstinada, o que é decisivo para a resolução do caso.
b) realiza-se de modo obsessivo e os resultados finais do caso se mostram, portanto, tendenciosos.
c) revela-se um capricho, já que o personagem, inclusive, abandona a investigação no meio da narrativa.
d) está ligada às experiências particulares e a jornada do personagem acaba por ser mais gratificante do que o caso em si.
e) é realizada de forma intuitiva e os seus resultados finais são, portanto, questionáveis.

Questão 3 – (UFU) Considerando a obra Nove noites e a introdução abaixo, assinale a alternativa correta.

“Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo. Vai
entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui. Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta.”
Bernardo Carvalho. Nove noites.

a) O fragmento acima refere-se a carta que Buell Quain escrevera antes de cometer o suicídio e que fora deixada para Manoel Perna, seu grande amigo, como forma de atestar a inocência dos índios.
b) A narrativa é constituída por relatos verídicos, incluindo cientistas verdadeiros como Lévi-Strauss (antropólogo) e as respostas às indagações sobre a morte de Buell Quain encontravam-se em poder dos índios Krahô.
c) Na busca de dados sobre Buell Quain, o narrador volta ao Xingu para ouvir o que os índios lembravam de Quain, conseguindo, durante o tempo que lá permaneceu, o testemunho dos índios envolvidos no mistério do suicídio.
d) O autor Bernardo Carvalho constrói uma obra diferente e complexa, em que mistura realidade e ficção, apresentando um enigma em torno de um suicídio cujas causas serão investigadas. Porém, a verdade permanecerá ambígua.

Questão 4 – (Fuvest) Ninguém nunca me perguntou, e por isso nunca precisei responder que a representação do inferno, tal como a imagino, também fica, ou ficava, no Xingu da minha infância. E uma casa pré-fabricada, de madeira pintada de verde-vômito, suspensa sobre palafitas para a proteção dos moradores contra os eventuais animais e ataques noturnos de que seriam presa fácil no rés do chão. É uma casa solitária no meio do nada, erguida numa área desmaiada e plana da floresta, cercada de capim-colonião e de morte. Tudo o que não é verde é cinzento. Ou então é terra e lama. Há uma estrada de terra que chega até a escada à entrada da casa, mas que dali não parece levar a nenhum lugar conhecido. A maneira mais fácil de chegar é de avião, que não deve ser grande, no máximo um bimotor, para poder pousar na pista de terra aberta ao lado da casa. Do alto, quando nos aproximamos em voo rasante, é só o que vemos: a casa solitária com a pista de pouso ao lado, numa grande clareira de capim alto, cercada por todos os lados de uma floresta a perder de vista. A estrada de terra leva da casa ao campo de pouso e depois segue direto para a mata, onde desaparece, como tudo ali, à procura de um caminho — ou talvez num impulso suicida.
(Nove Noites, 2019, p. 60, 61)

A partir do fragmento extraído do romance Nove Noites, de Bernardo Carvalho, e considerando o enredo da referida obra, assinale a afirmação que não corresponde a uma adequada interpretação dela:

a) Na recuperação do passado, percebe-se um desvelamento arqueológico das realidades perdidas na lembrança e, a partir daí, o surgimento de novas realidades.
b) A infância é apresentada como lembrança do narrador-investigador e não é o objetivo final de seu romance.
c) As lembranças do narrador-investigador estão inseridas em uma história na qual ele não tem participação.
d) A experiência do narrador-investigador, desencadeada pelo convívio com os índios na infância, é o ponto de partida para a recuperação da memória de seu avô, Marechal Cândido Rondon.
e) A narração envolvendo fatos da vida do narrador-investigador aparece entremeada à carta-testamento de Manoel Perna.

Questão 5 – (Fuvest) MODIFICADA – Publicado em 2002, Nove Noites narra as desventuras do jovem antropólogo estadunidense Buell Quain, durante sua estada no Brasil no final da década de 1930. Quanto às características e ao enredo do romance, assinale a alternativa FALSA:

a) O relato dos fatos reais é inquestionavelmente verdadeiro, uma vez que Buell Quain existiu e esteve no Brasil para desempenhar uma pesquisa.
b) Bernardo Carvalho desenvolve na dimensão ficcional fatos ocorridos, confundindo o leitor por meio de uma narrativa híbrida, em que o mistério em torno do suicídio de Quain não é resolvido.
c) Há na obra dois focos narrativos: Manoel Perna, engenheiro da cidade de Carolina e amigo de Buell, e um jornalista, o narrador-investigador, anônimo.
d) Sessenta e três anos depois da morte de Buell, a curiosidade do narrador-investigador é despertada por meio da leitura de um artigo de jornal.
e) Enquanto o narrador-investigador deseja revelar o motivo pelo qual Quain se matou, Manoel Perna parece tentar preservá-lo.

Parabéns, você fez todos os exercícios sobre “Nove noites”.
Confira agora o gabarito:

Questão 1
Alternativa correta:
c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

Questão 2
Alternativa correta:
e) é realizada de forma intuitiva e os seus resultados finais são, portanto, questionáveis.

Questão 3
Alternativa correta:
d) O autor Bernardo Carvalho constrói uma obra diferente e complexa, em que mistura realidade e ficção, apresentando um enigma em torno de um suicídio cujas causas serão investigadas. Porém, a verdade permanecerá ambígua.

Questão 4
Alternativa correta:
d) A experiência do narrador-investigador, desencadeada pelo convívio com os índios na infância, é o ponto de partida para a recuperação da memória de seu avô, Marechal Cândido Rondon.

Questão 5
Alternativa correta:
a) O relato dos fatos reais é inquestionavelmente verdadeiro, uma vez que Buell Quain existiu e esteve no Brasil para desempenhar uma pesquisa.

Questões disponíveis em: Beduka.
Acesso em: 22 de março de 2022.

Roteiro de estudo elaborado pela Prof.ª Fernanda Alves de Souza.
Revisão textual: Professora Daniela Leite Nunes.
Coordenação Pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Monge.

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