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A pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19) modificou as atividades de docentes devido à necessidade de distanciamento social. Levando em conta a já alta demanda vocal desses profissionais, o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz (Lif Voz), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), está investigando os impactos dessas adaptações na voz dos professores.

Por meio do questionário online “Covid-19: impacto do período de distanciamento social na voz do professor”, o intuito é propor orientações que ajudem a diminuir os possíveis prejuízos trazidos pelas necessidades advindas das aulas online.

“Todos tivemos que nos adaptar muito rapidamente e perdemos algumas referências ambientais e de contato visual e auditivo, que acabam impactando na comunicação”, afirma a professora da universidade, responsável pela área de voz, do curso de fonoaudiologia, Katia Nemr, entrevistada nesse podcast.

No áudio, a pesquisadora explica as consequências desse fato de muitos estudantes entrarem sem câmera e sem áudio nas aulas remotas, entre outros fatores. “Sem essa referência dos alunos, é como se você estivesse dando aula com a luz apagada. Isso, de fato, faz com que, muitas vezes, você eleve o tom de voz, sem necessidade. E nós temos um outro agravante nesse momento remoto, que é o uso de fones. Muitas pessoas, com o fone de ouvido, falam numa intensidade mais alta”.

Ela também antecipa orientações que foram pensadas para auxiliar professores, a partir dos dados preliminares da pesquisa, que ainda pode ser respondida. Essas dicas estão sendo transformadas em material informativo sobre cuidados com a voz para ser compartilhado com os participantes do estudo e nas redes sociais do Lif Voz.

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Crédito da imagem: zubada – iStock (com edição de arte)

Transcrição do Áudio

Música “Contact High”, de RKVC, de fundo

Katia Nemr:
Modular a voz, articular as palavras, olhar os alunos, interpretar as reações que eles têm, ver o que está acontecendo ao redor, pensar no que vai expressar, então, professores e também os profissionais da voz artística, como os cantores, são os mais estudados ainda hoje.

Meu nome é Katia Nemr. Sou docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, responsável pela área de voz, do curso de fonoaudiologia.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Diante do novo cenário trazido pelo ensino remoto, o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz, da Faculdade de Medicina da USP, tem estudado como a demanda vocal de docentes se altera com a mudança do ambiente da sala de aula para a sala de casa. Neste podcast, você vai entender quais são essas mudanças e acompanhar orientações para diminuir os impactos negativos na saúde vocal. Antes, a professora Kátia Nemr, explica por que, mesmo antes da prevalência de aulas online, a voz de professores já demandava cuidados especiais.

Katia Nemr:
Vários fatores podem interferir na voz do professor: salas muito cheias, ruído externo ou interno, aquela lousa antiga de giz – que produz muito pó, muita poeira; sendo um professor, principalmente da escolas públicas, dos níveis de ensino fundamentais ou médio, muitas vezes eles dão aula em três períodos diferentes.

Marcelo Abud:
O ensino remoto mudou hábitos e dinâmicas, antes comuns aos professores.

Katia Nemr:
O cenário presencial era um e o cenário remoto passou a ser outro e, na verdade, nós não tivemos tempo suficiente… o mundo não teve tempo suficiente para se preparar para essa pandemia e para esse trabalho remoto. Todos tivemos que nos adaptar muito rapidamente e nós perdemos algumas referências ambientais, referências de contato visual e auditivo, que acabam impactando na comunicação. Muitos alunos, a grande maioria, entra sem câmera e sem áudio, e são só acionados quando solicitados ou quando têm algum questionamento.

Música: “Se queres saber” (Peterpan), com Nana Caymmi

“Olha bem nos meus olhos / Quando eu falo contigo / E vê quanta coisa / Eles dizem que eu não digo”

Katia Nemr:
Quando você não tem a pista visual, naturalmente gera aquela ansiedade de você não ter certeza se a sua mensagem está chegando, porque, quando você está na sala presencial, você está observando a reação dos alunos e isso vai te dando parâmetros: se você precisa elevar mais ou menos a voz, dar uma entonação diferente, se você precisa pegar um outro rumo da aula… Sem essa referência, é como se você estivesse dando aula com a luz apagada. Isso, de fato, faz com que, muitas vezes, você eleve o tom de voz, sem necessidade. E nós temos um outro agravante nesse momento remoto, que é o uso de fones. Muitas pessoas, com o fone de ouvido, falam numa intensidade mais alta. Então, também ficar atentos a isso, o quanto você se sente mais confortável ou menos confortável com o uso do fone de ouvido é importante.

Marcelo Abud:
A pesquisadora cita outros fatores que impactam as aulas online.

Katia Nemr:
Muitas vezes, o ambiente que o professor tem disponível para dar as suas aulas não seria o ambiente mais adequado em termos de ruído, por exemplo, de ambiente mais arejado, mais tranquilo. A parte organizacional: uma cadeira confortável, uma altura adequada para o computador e para a sua postura. E, além disso, nós temos todos os fatores pessoais ligados às questões emocionais com a pandemia, um certo medo, uma certa insegurança de não saber o que vai acontecer, como que isso vai acabar, quando vai acabar. Na verdade, este professor ele teve que se adaptar a uma nova realidade, a um novo cenário, a um novo ambiente, trazendo consigo todas as questões comuns a todos nós diante de uma pandemia e de uma gravidade, como a situação que estamos vivendo.

Música: Cuide-se bem (Guilherme Arantes), com Bruna Caran
“Cuide-se bem! / Eu quero te ver com saúde / E sempre de bom humor / E de boa vontade”

Marcelo Abud:
E como se cuidar para diminuir os impactos dessas mudanças?

Katia Nemr:
Esse professor tem, obrigatoriamente, que fazer algum alongamento entre as aulas, que andar  um pouco dentro de casa, para que ele não gere tensão no corpo que possa impactar na voz. Muita atenção com fumo, com bebidas alcoólicas e com poeira, evitar esses aspectos é bastante interessante no dia a dia; tentar, na medida do possível, dar aula de uma forma bastante confortável, prestar muita atenção em posturas que podem tensionar essa região do pescoço; em termos ambientais, procurar na casa um lugar mais arejado, mais iluminado, com o mínimo de ruído externo possível.

E, quanto mais organizado ele estiver, com as coisas na mão, que ele não precise se estressar, então, que ele esteja mais confortável nesse sentido, tanto melhor pra ele. Uma outra coisa muito importante é a hidratação: tenha ao seu lado uma garrafinha de água o tempo inteiro que ele esteja dando aula e que vá hidratando essas pregas vocais ao longo do dia.

Música: “Minha voz, minha vida” (Caetano Veloso), com Gal Costa
“Minha voz, minha vida / Meu segredo e minha revelação”

Katia Nemr:
E quando eu falo voz, eu não falo só da produção vocal: uma voz mais alta, menos alta ou mais grave, mais aguda; eu falo da competência comunicativa, eu falo da comunicação como um todo, que junta a produção da voz, com a expressividade, com o conforto ao falar, com o passar essa mensagem de uma maneira que ele consiga passar o seu conhecimento, sem que ele tenha impactos negativos na sua comunicação.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
A partir de um questionário online que tem sido respondido por professores, o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz, da Faculdade de Medicina da USP, está preparando material com orientações, como as que antecipamos neste podcast. A ideia é auxiliar educadores a lidarem da melhor forma com a voz.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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