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O interesse pelo breakdance, assim como aconteceu com o skate nas Olimpíadas de Tóquio, deve aumentar até os próximos jogos. Em Paris-2024, a dança, também chamada de breaking, vai se tornar a mais nova modalidade esportiva. Consequentemente, a educação física na escola também deve voltar ainda mais as atenções para os movimentos corporais que têm origem na cultura hip hop.

“Alguns [alunos] têm um pouco mais de dificuldade, mas eu procuro encorajá-los, elogiar as evoluções que eles fazem, para justamente adquirirem cada vez mais autoconfiança, melhorar a autoestima deles com a prática da dança. A ideia principal, quando eu coloco também o break, é valorizar esse aspecto emocional”, afirma o professor de educação física Edson Júnior, que atua em escolas da rede pública do Rio de Janeiro.

Interdisciplinaridade para abordar o hip hop

Para ele, o breakdance deve ser trabalhado de maneira interdisciplinar. “Com cada [professor] pegando um dos elementos da cultura: eu ficando com a dança; a professora de artes trabalhando a parte de grafite; a professora de português se incumbindo de fazer a parte da prosa e do verso, da poesia pra desenvolver o rap; e o professor de história, na parte do desenvolvimento do conhecimento das raízes histórico-culturais do movimento hip hop, no passado e atualmente”, exemplifica com os projetos que participa.

No áudio, Edson e alguns alunos que tiveram aula com ele relatam como o breakdance e a proximidade com a cultura urbana ajudam no desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e cultural.

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Transcrição do Áudio

Música: “Pique de Atlanta” (ThePerezz & Ygby MC), com Faixa Rap

Edson Fernando da Silva Júnior:
A gente pode trabalhar o Hip Hop ‘na escola’, que é o que traz de fora pra dentro, e a gente pode criar o Hip Hop ‘da escola’. O que se ganha com essa aula é justamente a criatividade. Eu procuro trabalhar justamente a condição de desconstrução e reconstrução: ele desconstrói aquilo que já está pronto e reconstrói da forma como ele acha que deve. E, com isso, a coisa evolui. Ele adquiriu confiança em torno do movimento, ele cria um novo movimento, da melhor forma possível.
Eu sou o professor Edson Fernando da Silva Júnior, mais conhecido como Edinho, trabalho na Escola Municipal Juan Antônio Samaranch, uma escola vocacionada ao esporte, na educação física que é minha área de atuação, e no Colégio Estadual Dom Helder Câmara, que é uma escola de ensino médio regular. E também trabalho com educação de jovens e adultos.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música: “Linhas”, com Faixa Rap

Marcelo Abud:
Assim como aconteceu com o skate nas últimas Olimpíadas, o Break Dancing deve ganhar maior visibilidade a partir dos próximos jogos. A novidade faz crescer o interesse pela cultura Hip Hop também no ambiente escolar. Esta edição é embalada pelo som do grupo Faixa Rap, que nasceu nas aulas do professor, pesquisador e incentivador das culturas urbanas, para além das aulas de educação física, Edson Júnior.

Edson Fernando da Silva Júnior:
O Break Dance é um estilo de dança de rua que foi criado por afro-americanos e latinos, na década de 70, em Nova York. E aí ela era dançada ao som de Hip Hop, Funk, Break e Beat. Eles aproveitavam justamente os intervalos das músicas onde vinha a parte instrumental, que eles chamavam de break, pra desenvolver movimentos relacionados à realidade do momento.

Música: “Linhas”, com Faixa Rap

Edson Fernando da Silva Júnior:
Eu sempre tento contextualizar e fazer justamente um vínculo com a cultura Hip Hop e a situação da contestação, o espírito crítico, ao que a juventude quer que melhore na sociedade. Eu dou voz a eles. A gente tem oficinas de Rap, onde eles fazem justamente a composição das letras, voltadas para, justamente, falar o que eles acham interessante; falar o que eles acham importante, sem querer que seja uma coisa relacionada somente à curtição. Que eles possam ter voz e poder se manifestar é importante.

Ygor Abílio:
Prazer, meu nome é Yor Abílio, tenho 19 anos, meu vulgo artístico é Ygby. Tudo começou na escola, pelas batalhas de rima que a gente organizava na hora do almoço, no recreio. Um dia um garoto fez uma rima, eu queria responder ele e eu consegui responder ele…. a escola toda gritou e eu ‘poh’ vi que aquilo lá era muito bom. E vi que eu tinha facilidade em fazer aquilo e decidi continuar. Aí não teve jeito: comecei rimar nas aulas, em casa, no banheiro, no ônibus e rimava em tudo em que é canto.

Marcelo Abud:
Por se tratar de uma manifestação cultural que vem das ruas, a turma já traz uma bagagem a respeito do Break Dance. As aulas devem ser adaptadas a essa vivência para, aos poucos, o grau de dificuldade aumentar.

Edson Fernando da Silva Júnior:
Alguns têm um pouco mais de dificuldade, mas eu procuro encorajá-los, elogiar – sempre que possível – as evoluções que eles fazem, para justamente eles adquirirem cada vez mais autoconfiança, melhorar a autoestima deles com a prática da dança. A ideia principal, quando eu coloco também o Break, é valorizar esse aspecto emocional.

Helen (estudante):
O meu nome é Helen, tenho 17 anos de idade, estou estudando atualmente no Colégio Prefeito Mendes de Moraes. O que a dança mudou na minha vida? Ela me fez perder os meus medos, minhas inseguranças. Eu tinha muita vergonha de dançar na frente das pessoas, então ela me ajudou muito nisso. Quando eu dançava, eu esquecia meus problemas… a dança me libertou, entendeu?

Edson Fernando da Silva Júnior:
Eles chegam achando que não vão conseguir realizar determinado movimento, que não vão conseguir realizar determinada manobra, e aí – a partir do momento que eu faço a progressão pedagógica pra ele atingir aquele objetivo daquele movimento, e ele consegue fazer – eu encorajo a continuar evoluindo. E eles percebem que eles conseguem ir além. E aí isso colabora muito no aspecto da autoconfiança, na melhoria da autoestima, da valorização deles enquanto pessoas capazes de conseguir superar desafios.

Kauã Dias:
Olá, meu nome é Kauã Dias, tenho 17 anos, e atualmente eu sou estudante.
Muitas pessoas se deprimem de muitas coisas no mundo. A dança é livre! Você é livre na dança. E, tipo, dançar não é só pular: tem o vocabulário. É muito bom dançar e me ajudou em muita coisa pessoal. E você que não dança, pode começar a dançar que você vai gostar bastante. Não é só de berço, você aprende a gostar.

Marcelo Abud:
Edson Júnior estimula uma visão interdisciplinar do Hip Hop, para aumentar o interesse pelo Break Dancing.

Edson Fernando da Silva Júnior:
Eu vejo algumas manifestações em outras disciplinas, como Artes, por exemplo, como eu já vi também em História, inclusive com trabalho interdisciplinar, cada um pegando um dos elementos da cultura: eu ficando com a Dança; a professora de Artes trabalhando a parte de grafite; a professora de Português se incumbindo de fazer a parte da prosa e do verso da poesia pra desenvolver o Rap; o professor de História, na parte do desenvolvimento do conhecimento das raízes histórico-culturais do movimento Hip Hop, no passado e atualmente.

Marcelo Abud:
O professor resume o contexto em que esta dança surgiu.

Edson Fernando da Silva Júnior:
No passado e atualmente começou a se desenvolver a movimentação baseada, principalmente, no que eles protestavam contra: a Guerra do Vietnã. Então eles faziam movimentos que pareciam movimentos de pessoas que tinham sofrido danos físicos (estavam com lesão por conta dos combates que sofreram).
Então os movimentos eram bem similares para justamente sinalizar que eles estavam contra aquela imposição, na época, do sistema militar americano, que direcionava a convocação dos latinos e dos negros para participarem da Guerra do Vietnã – isso início da década de 70. E além disso, também, tem a condição de o movimento Hip Hop ter sido criado como um movimento de cultura de resistência, né, e aí envolve os outros elementos.

Marcelo Abud:
Edson Júnior enumera os ganhos que a dança traz nas aulas de educação física.

Edson Fernando da Silva Júnior:
Você adquire muita capacidade física, que é o que a gente chama de ‘força relativa’, em que todos os movimentos são realizados você fazendo a sustentação do seu próprio peso corporal. Então você vai justamente adquirir um controle psicomotor corporal, um controle de movimento peculiar e bastante útil para o dia a dia, porque você vai ter movimentos que você vai, justamente, ter a capacidade de, se cair, se levantar, de uma forma bem rápida.
Então desenvolve bastante a força, por serem movimentos repetitivos, são movimentos que vão desenvolver bastante a resistência muscular, cardiovascular; são movimentos que têm uma dinâmica bem interessante, trabalha a parte da mobilidade, que a gente chama, do alongamento da flexibilidade do atleta. Quando você vê uma programação pronta, aquele atleta, pra ele ter chegado naquele movimento, naquela performance, ele treinou segmentadamente, pra adquirir aquele movimento e pra desenvolver aquilo de uma forma bonita, pra você ver e gostar do que você está vendo.

Marcelo Abud:
E o que estudantes conquistam em termos emocionais.

Edson Fernando da Silva Júnior:
Existe o aspecto da saúde mental que está tão em voga hoje em dia com a pandemia, né? Faz com que o aluno, que ele tenha mais confiança em realizar aqueles movimentos com segurança, com eficácia, com beleza. A dança é uma exibição. Então, automaticamente, você se comunica sem falar. Você fala com o seu próprio corpo. Então também desenvolve a capacidade de expressão corporal, ele tentar expressar o que ele está querendo dizer, sem ele emitir palavras, só com os movimentos corporais, pra justamente compor da melhor forma possível.

Música: “Pique de Atlanta” (ThePerezz & Ygby MC), com Faixa Rap

Marcelo Abud:
O Break Dance na escola ajuda a entender sobre a cultura que vem das ruas. Quando trabalhado de maneira interdisciplinar, auxilia no desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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