Conteúdos
Este roteiro de estudos apresenta a vida e a obra do escritor Julio Cortázar, reconhecido como o mestre do realismo fantástico. Você conhecerá a sua biografia e as suas obras literárias mais importantes, além de saber mais sobre os últimos anos de sua vida. Este material abrange uma visão ampla da importância de Julio Cortázar para a literatura em língua espanhola, bem como para o cenário literário mundial.
Objetivos
- A trajetória de Julio Cortázar;
- Obras de realismo fantástico de Julio Cortázar; e
- Proposta de fixação.
Conteúdos / Objetos do conhecimento:
- A vida de Julio Florencio Cortázar;
- A obra de Julio Florencio Cortázar; e
- Propostas para fixação do conteúdo.
Palavras-chave:
Língua espanhola. Literatura. Julio Cortázar.
Proposta de estudos:
Este roteiro de estudos fornece informações sobre a vida e a obra de Julio Cortázar.
1ª Etapa: A vida de Julio Florencio Cortázar
Primeiros anos
Julio Florencio Cortázar nasceu em 26 de agosto de 1914, na embaixada da Argentina em Ixelles, distrito de Bruxelas, na Bélgica. Seus pais eram argentinos e diplomatas, trabalhando na embaixada belga de seu país natal. Aos quatro anos de idade, seus pais voltaram à Argentina, instalando residência no subúrbio de Banfield. Depois de voltar, seus pais se separaram, e Julio foi criado por sua mãe, sua avó e sua tia.
Vida acadêmica
Em 1935, formou-se em Letras na Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta, onde apaixonou-se pela literatura clássica. Em 1938, publicou o livro de poemas “Presencia”, com o pseudônimo de “Julio Denis”.
Passou a dar aulas de literatura na universidade Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo, entre os anos de 1939 e 1944, porém renunciou ao seu cargo quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Depois disso, trabalhou na Câmara Argentina do Livro, como tradutor.
Em 1946, publicou seu primeiro conto, “La casa tomada”, no periódico literário “Anales de Buenos Aires”. Em 1949, publicou o poema dramático “Los reyes”. Em 1951, aos 37 anos, Cortázar ganhou uma bolsa do governo francês para estudar por dez meses e, como não estava de acordo com a ditadura que se instalou na Argentina, decidiu ficar definitivamente em Paris, trabalhando como tradutor pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
2ª Etapa: Obras de Julio Florencio Cortázar
Obras e vida na França
Cortázar casou-se com a tradutora argentina Aurora Bernárdez, em 1953. Suas economias eram bem restritas, e foi nesse contexto que a Universidad de Puerto Rico pediu a ele para traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe. Os críticos daquela época disseram que essa foi a melhor tradução já feita por Cortázar. Em 1963, ele publicou “Rayuelas” (“O jogo da amarelinha”, no Brasil), que tornou-se seu primeiro sucesso internacional.
Foi a partir dessa época que Cortázar foi considerado uma das principais figuras do fenômeno “BOOM” da literatura hispano-americana, sendo comparado com escritores de grande sucesso até os dias atuais, como Garcia Márquez, Mario Vargas Llosa, Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato, entre outros.
Participação na política
Desde criança, Cortázar gostava de saber o que acontecia em seu país, principalmente no que diz respeito às questões políticas, mas foi apenas em 1963 que seu fascínio pela política realmente tomou forma. Ele se comprometeu politicamente na libertação da América Latina, à época sob regimes ditatoriais.
No ano de 1970, viajou ao Chile, onde se solidarizou com o governo de Salvador Allende. Em 1971, foi “excomungado” por Fidel Castro, assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla. Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis por seu “Libro de Manuel”, destinando a renda da obra à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi um dos membros do Tribunal Bertrand Russell II, para tratar sobre a situação política na América Latina, referente às violações dos direitos humanos.
Em 1980, Cortázar foi convidado a ministrar um curso universitário de dois meses nos Estados Unidos. Ali, fez várias conversas literárias sobre sua experiência como escritor e a gênese de suas obras, os contos fantásticos, o humor, o realismo e o lúdico na literatura. No mesmo ano, publicou “Aulas de Literatura — Berkeley, 1980”.
Cortázar morreu de leucemia em 1984, tendo sido sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris, na França, no mesmo jazigo da sua segunda esposa, Carol, com quem se casou em 1981. Em sua tumba há a imagem de um “cronópio”, personagem criado pelo escritor.
3ª Etapa: Obra de destaque – realismo fantástico
Nesta seção colocamos uma das obras do escritor Julio Florencio Cortázar mais interessantes para entender sua forma de escrita, no que diz respeito ao realismo fantástico.
Boa leitura!
Casa tomada – (Julio Cortázar)
Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.
Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada ideia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais. […]
Gostou da leitura? Recomendamos que leia na íntegra: Casa Tomada – (Julio Cortázar).
4ª Etapa: Proposta para fixação do conteúdo
Nesta etapa, a proposta é analisar a história “A casa tomada”, de Julio Cortázar, e o conto “O ex-mágico da Taberna Minhota”, de Murilo Rubião, autor brasileiro que também usa das características do realismo fantástico.
Para entender o que é realismo fantástico, abaixo há alguns tópicos sobre esse gênero. Depois, faça os apontamentos acerca de cada obra e em que ponto observou a presença do realismo fantástico nas leituras propostas.
Características do realismo fantástico:
- Mescla entre realidade e fantasia: A principal característica é a fusão do mundo real com elementos fantásticos, sem que haja uma distinção clara entre os dois. O extraordinário é apresentado como algo comum e corriqueiro.
- Ausência de explicação: Os eventos fantásticos não são explicados de forma racional ou científica. O leitor é convidado a aceitar o absurdo como parte da realidade da narrativa.
- Ambiente cotidiano: As histórias geralmente se passam em ambientes familiares e reconhecíveis, o que torna a presença do fantástico ainda mais surpreendente.
- Questionamento da realidade: O realismo fantástico frequentemente questiona a natureza da realidade e as fronteiras entre o real e o imaginário.
- Presença do insólito e do absurdo: Situações e personagens naturais, que desafiam as leis da lógica e da natureza, são comuns nesse gênero.
- Simbolismo e metáfora: O fantástico é frequentemente utilizado como uma forma de expressar ideias e conceitos complexos, por meio de símbolos e metáforas.
- Atmosfera de mistério e encantamento: O realismo fantástico cria uma atmosfera de mistério e encantamento, que envolve o leitor e o transporte para um mundo em que o impossível se torna possível.
Referências:
- Vida & Obra – Julio Cortázar – L&PM Editores
- Julio Cortázar Escritor argentino – eBiografia
- JULIO CORTÁZAR, Biografía Animada
Roteiro de estudos elaborado pela Professora Tayna Rosa.
Coordenação Pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Bitencourt Monge.
Revisão textual: Professora Daniela Leite Nunes.
Crédito da imagem: Colin Anderson Productions pty ltd – Getty Images