Conteúdos

  • Povos negros
  • Racismo religioso
  • Candomblé
  • Matriz africana
  • Religiosidade
  • Legislação
  • Resistência negra

Objetivos

● Compreender os conceitos de intolerância e racismo religioso;
● Conhecer aspectos das tradições religiosas de matriz africana;
● Refletir sobre a resistência dos povos negros, por meio da religiosidade; e
● Reconhecer a necessidade de combate ao racismo religioso no Brasil.

Ensine também:

Políticas indigenistas no Brasil

Formas de resistência ao escravismo

Palavras-chave:

Religiosidade. Negritude. Matriz africana.

Previsão para aplicação:

2 aulas (50 minutos/cada).

Série:

Ensino Médio.

1ª Etapa: Contextualização

Professor/a, nesta etapa você deve introduzir o assunto que será trabalhado durante a aula, aproveitando o momento para identificar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do tema.

Projete a imagem abaixo, e leia com a turma o trecho do samba-enredo da G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio, do ano de 2020:

Démerson D’alvaro interpreta Exu na comissão de frente da G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio em 2022. (crédito: CNN Brasil). Acesso em: 05 de março de 2023.

Okê! Okê! Oxóssi é caçador
Okê! Arô! Odé!
Na paz de Zambi, ele é Mutalambô!
O Alaketo, guardião do Agueré
É isso, dendê e catiço
O rito mestiço que sai da Bahia
E leva meu pai mandingueiro
Baixar no terreiro quilombo Caxias
Malandro, vedete, herói, faraó
Um saravá pra folia
Bailam os seus pés
E pelo ar o benjoim
Giram presidentes, penitentes, yabás
Curva-se a rainha e os ogans batuqueiros pedem paz
Salve o candomblé, Eparrei Oyá
Grande Rio é Tatalondirá
Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé
Eu respeito seu amém
Você respeita o meu axé

Samba-Enredo 2020 – Tatalondirá: O Canto do Caboclo No Quilombo de Caxias. G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio.
Disponível em: Letras.
Acesso em: 05 de março de 2023.

Analisando a foto e o trecho do samba-enredo, responda:

● Sobre o que trata o samba-enredo?
● Você sabe o que é Exu, representado na foto pelo ator Démerson D’Alvaro?
● Você conhece algum dos ritos ou nomes presentes na letra do samba-enredo?

Professor(a), faça a mediação da reflexão sobre as questões colocadas, junto aos estudantes. É possível que alguns já conheçam as imagens, visto que o desfile ecoou além da bolha carnavalesca, sendo transmitido e repercutido em rede nacional por um tempo. Aqui, é importante frisar a relevância de trazer um enredo sobre Exu, já que esse Orixá foi muito demonizado ao longo da História, tendo sido constantemente equiparado ao diabo do Cristianismo. Aproveite para explicar que essa equiparação é incorreta, visto que nas religiões de matriz africana não existem demônios, e que ela advém do preconceito e do racismo religioso que correlaciona as tradições do povo negro a tudo que é “ruim”.

Para aprofundar, explique um pouco sobre o contexto do carnaval das escolas de samba, especificamente nos anos das fontes utilizadas:

● O desfile da Acadêmicos da Grande Rio, no carnaval de 2022, trouxe como tema Exu, um dos orixás do culto do Candomblé. O desfile acabou como campeão do ano e repercutiu fora do mundo carnavalesco, pela sua beleza e coragem. Um carnaval antes, a mesma escola cantou o pai de santo Joãozinho da Gomeia que vivia no bairro de Caxias, no subúrbio do Rio de Janeiro, onde se localiza a escola de samba.

● As escolas de samba surgiram do associativismo negro no início do século XX, após a abolição. Excluídos dos carnavais oficiais dos clubes e salões, exclusivos da elite branca, a comunidade negra criou, então, seus próprios clubes para brincar nos carnavais nas ruas, nos cordões, junto com a população pobre das cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Além de brincar o carnaval, as escolas de samba eram espaços de manutenção da cultura negra, mantendo viva a ancestralidade do seu povo, que sofria com a violência e a exclusão, depois da Lei Áurea. Dentre as tradições cultivadas, as religiões de matriz africana, como o Candomblé, estavam diretamente ligadas às escolas de samba.

2ª Etapa: Problematização e aprofundamento

Professor/a, esta etapa tem como objetivo aprofundar a discussão do tema proposto para a aula. Projete e assista ao vídeo com os estudantes, sobre o Candomblé:

Canal Àwúre – Você conhece o candomblé
Acesso em: 05 de março de 2023.

● Após assistir ao vídeo, peça para a turma compartilhar as suas impressões e pergunte quais das informações trazidas pela Yalorixá eles já conheciam.
● Em seguida, explique para a turma que as diferentes etnias do continente africano cultuam divindades, chamadas de orixás. Ao serem trazidos forçadamente para as Américas, para serem escravizados, os povos de diferentes partes do continente se encontraram no Brasil e, para manter suas tradições vivas, ressignificaram seus cultos, dando origem ao Candomblé brasileiro.

Mais algumas informações importantes, que precisam ser transmitidas aos alunos, são:

● O Candomblé é uma religião que possui diversas ramificações, chamadas de Nações, que são relacionadas às suas origens étnicas. Cada Nação possui seus ritos, sua língua e seus cultos específicos. As principais Nações são:
o Candomblé Ketu de origem Nagô – Iorubá;
o Candomblé Jeje de origem Fon-gbe; e
o Candomblé Angola de origem Congo Angola.

● Os escravizados foram proibidos de manter seus cultos religiosos locais e obrigados a se converter ao Catolicismo. Como forma de driblar a fiscalização dos senhores, os escravizados passaram a cultuar os orixás nas imagens dos santos católicos, dando origem ao sincretismo religioso que mesclou cultos aos orixás com santos católicos, como o caso de Ogum com São Jorge e Iansã com Santa Bárbara. Mesmo depois da abolição, a perseguição aos terreiros de Candomblé continuou, tendo estes sido proibidos por lei, por muitos anos.
● As tradições de matriz africana vão além do culto religioso do Candomblé. O Brasil é um país em que a maioria da população é autodeclarada negra (preta ou parda), e para onde veio a maior parte dos negros africanos escravizados, de forma que a cultura brasileira tem muitos elementos da tradição africana. Muitas festas e tradições populares, como pular sete ondas no ano novo, ou levar flores ao mar, têm origem nos ritos do Candomblé. Pratos da nossa culinária, como a feijoada e o acarajé, também.

Festa para a Orixá Iemanjá acontece todos os anos no dia 02 de fevereiro. (crédito: G1)
Acesso em: 05 de março de 2023.
Alvorada para São Jorge, festa que acontece todo dia 23 de abril na cidade do Rio de Janeiro. (crédio: Jeffcelophane) Acesso em: 05 de março de 2023.

Curiosidade: a palavra AXÉ, que dá nome a um ritmo musical baiano, é uma palavra iorubá ligada ao Candomblé. Axé, em iorubá, significa energia, poder e força, que está presente em cada Orixá e em cada pessoa. O ritmo musical do Axé surgiu na Bahia, um dos estados brasileiros mais negros e com forte influência da cultura africana em sua formação.

3ª Etapa: Sistematização

Professor/a, esta etapa tem como objetivo sistematizar os conhecimentos dos estudantes a respeito do tema trabalhado durante a aula. A atividade deve servir como forma de evidenciar aquilo que os estudantes aprenderam, tornando visíveis os objetivos alcançados ao longo da aula.

Agora, os estudantes devem realizar uma análise de documentos. Divida a turma em duplas e entregue os documentos a seguir:

Documento 1:

Relatório aponta aumento de casos de intolerância religiosa no país.
Disponível em: Agência Brasil.
Acesso em: 8 de março de 2023.

Documento 2:

LEI Nº 11.635, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2007.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro.

Art. 2º A data fica incluída no Calendário Cívico da União para efeitos de comemoração oficial.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 27 de dezembro de 2007.

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Brasília, 5 de janeiro de 1989.

LEI Nº 14.519, DE 5 DE JANEIRO DE 2023
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser comemorado anualmente no dia 21 de março.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 5 de janeiro de 2023; 202º da Independência e 135º da República.

Oriente as duplas a realizarem a leitura atenta dos documentos, respondendo às questões a seguir:
1. Como essas leis se relacionam com a reportagem lida?
2. Qual o principal fator motivador para os crimes de intolerância religiosa?
3. Qual a importância das tradições de matriz africana na construção da identidade cultural brasileira?
4. Qual o papel da educação no combate ao crescimento do racismo religioso?
Depois de finalizada a atividade, peça para que as duplas que se sentirem à vontade compartilhem as respostas com o restante da turma.

Plano de aula elaborado pela Professora Júlia Bittencourt.
Coordenação Pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Bitencourt Monge.
Revisão textual: Professora Daniela Leite Nunes.

Materiais Relacionados

● Alexandre, Claudia Regina. Exu e Ogum no terreiro de samba: um estudo sobre a religiosidade da escola de samba Vai-Vai. 2017. 166 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Religião) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.

Carnaval 2022: Grande Rio leva título pela primeira vez e é campeã no Rio de Janeiro
Acesso em: 05 de março em 2023.

Lei define 21 de Março como o Dia Nacional Tradições Africanas
Acesso em: 05 de março de 2023.

● SANT’ANNA, Márcia. Escravidão no Brasil: os terreiros de candomblé e a resistência cultural dos povos negros. Consult. em em, v. 17, p. 9, 2015.

● DE L’ESPINAY, François. Igreja e religião africana do candomblé no Brasil. Revista eclesiástica brasileira, v. 47, n. 188, p. 860-890, 1987.

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