Mesmo relatando carências e dificuldades, o uso de tecnologia foi uma realidade na rotina dos professores durante o segundo ano da pandemia da covid-19. Segundo a pesquisa TIC Educação 2021, lançada este mês, 98% dos professores aplicaram atividades na modalidade remota nos 12 meses anteriores à realização da pesquisa. Além disso, houve maior adoção de tecnologias entre os professores durante atividades de interação com os alunos, incluindo uso da internet para esclarecer dúvidas dos alunos (84%), disponibilizar conteúdo (82%), receber trabalhos ou lições (81%) e avaliar o desempenho (75%).

“Em 2019, levando-se em conta apenas os dados de professores de escolas localizadas em áreas urbanas, 51% disponibilizavam conteúdo para os alunos pela internet”, compara a coordenadora da pesquisa TIC Educação, Daniela Costa. Na preparação de aulas e atividades, os educadores fizeram uso de redes sociais como o WhatsApp ou Telegram (80%), YouTube ou Vimeo (66%) e Pinterest (31%).

“Porém, redes sociais geralmente citadas por crianças e adolescentes, como Facebook (20%), Instagram (19%) e TikTok ou Kwai (10%) são mencionadas em menores proporções pelos docentes”, compara Costa.

Para a realização de atividades, grande parte dos professores utilizou recursos próprios, como celulares (93%) e computadores portáteis (84%). Nas áreas rurais, 12% não contavam com computadores e utilizaram exclusivamente o celular na condução das atividades remotas.

A edição de 2021 da pesquisa trouxe indicadores inéditos, como a proporção de docentes que produzem videoaulas ou materiais para outros educadores (21%) e que ministram cursos ou palestra para outros educadores sobre o uso de tecnologias digitais (10%).“Dados relevantes para que se possa refletir sobre o papel da formação e da troca de informação entre pares como forma de promoção das habilidades digitais dos educadores”, aponta Costa.

Diferenças entre redes públicas

Segundo Costa, o uso da tecnologia pelos professores foi condicionado a algumas situações, como a capacidade da rede de ensino de ofertar aos seus professores recursos educacionais que eles pudessem utilizar com os alunos e conhecimentos prévios dos professores a respeito da tecnologia.

“Sobre o apoio dado pelas redes, embora o acesso gratuito a aplicativos, plataformas e recursos educacionais digitais tenha sido mencionado por 58% dos professores de escolas públicas, esse foi recebido por 49% dos docentes de escolas municipais e por 74% dos atuantes em escolas estaduais”, lembra Costa.

Um quinto dos professores de escolas municipais (19%) recebeu apoio na forma de oferta de software e programas de computador, enquanto esse percentual entre os professores de escolas estaduais foi de 29%. Além disso, 34% dos docentes de escolas municipais reportaram não ter recebido nenhum tipo de apoio da rede de ensino, contra 14% de escolas estaduais”.

Sobre o uso de tecnologia no trabalho, os professores das redes municipais reportaram em maiores proporções o uso de aulas gravadas em vídeo (69%) ou em áudio (56%) e materiais didáticos presentes em sites da rede de ensino (62%).

“Entre os professores das redes estaduais, além das mesmas menções, notou-se maior diversificação de uso de recursos digitais, como ambientes virtuais de aprendizagem (82%), plataformas de videoconferência (82%) e aplicativos da escola ou da rede de ensino (76%)”, lista Costa.

Desigualdades também foram vistas entre os docentes de áreas rurais e urbanas. No primeiro caso, 55% haviam utilizado ambientes ou plataformas virtuais em atividades remotas com os alunos, contra 71% dos que lecionavam em escolas urbanas.

Necessidade de formação continuada

Entre os docentes, 92% relataram adotar novos métodos de ensino e 84% ter acessado materiais didáticos mais diversificados. No entanto, 59% do total de professores reportou que a falta de um curso específico dificultava o uso de tecnologias em atividades educacionais. Nos 12 meses anteriores à pesquisa, 65% dos professores haviam participado de alguma formação continuada sobre o tema, percentual que foi de 48% entre os professores de escolas rurais.

A realização de atividades com os alunos sobre o uso seguro, responsável e crítico da internet também foi analisada. “Identificamos a necessidade de maior oferta de apoio aos professores para que possam abordar tais temas na sala de aula. Apenas 38% dos docentes haviam participado de formação continuada sobre proteção à privacidade e aos dados pessoais no uso da internet; 37% sobre formas de orientar os alunos no uso seguro do computador, do celular e da Internet; e 32% sobre fake news e compartilhamento responsável de conteúdos e opiniões”, contextualiza a coordenadora.

Pandemia mudou parâmetros da TIC

A TIC Educação é uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Desde 2010, ela era realizada de forma presencial e chegou a incluir entrevistas com alunos, professores, coordenadores pedagógicos e gestores de escolas públicas e particulares, de áreas urbanas e rurais, com turmas regulares de ensino fundamental e médio.

Por conta da pandemia, porém, as duas últimas edições foram realizadas por telefone, sendo 2020 apenas com gestores e, 2021, com professores. Este ano, foram ouvidos 1865 docentes entre outubro de 2021 e maio de 2022.

Veja mais:

TIC Educação 2020: Maioria das escolas fez atividades com tecnologia na pandemia, mas falta de dispositivos foi entrave

TIC Educação 2019: Alunos da rede pública não estão preparados para ensino remoto

TIC Educação 2018: Professor tem interesse em tecnologia, mas pouca chance de formação inicial e continuada

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