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Uma grande expectativa toma conta das redes sociais com o anúncio ainda para o segundo semestre deste ano da segunda temporada da série “Cidade Invisível”, da Netflix. A série brasileira que propõe uma releitura de personagens do folclore fez sucesso na plataforma de streaming e está entre as mais assistidas em países como Nova Zelândia e França. A abordagem diferente da obra pode ser usada na escola para tratar da cultura popular brasileira e suas lendas.

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“Parece que as pessoas de repente se deram conta que a gente tem belíssimas histórias no nosso folclore, que, se a gente conhece, não valoriza, não se encanta. A série, primeiro, teve isso de bom, ela resgatou um material que é patrimônio imaterial do Brasil, as histórias do nosso folclore”, afirma a jornalista e escritora Januária Cristina Alves. Ela é autora do livro “Abecedário de personagens do folclore brasileiro” (FTD Educação/Edições Sesc SP), usado como fonte de pesquisa para a elaboração do roteiro da série.

Personagens modernos

O enredo apresenta Eric, um policial ambiental que descobre um mundo secreto de entidades do folclore brasileiro, como o Saci-pererê, a Cuca ou o Boto Cor-de-Rosa.
“A abordagem foi extremamente feliz, porque teve não só a oportunidade de trazer o personagem como ele é, na maior parte das histórias, mas, sobretudo, colocá-lo num contexto bastante contemporâneo. Ver o Saci-pererê com uma perna mecânica, nos Arcos da Lapa, por exemplo. Essa ambientação e esse tratamento aproximou mais ainda o público jovem dessas histórias de tradição oral”, avalia Alves. No áudio, a pesquisadora analisa como a série pode ser usada para o estudo do folclore em sala de aula.

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Transcrição do Áudio

Música: “Ipanema Daydream”, de Bird Creek, fica de fundo

Januária Cristina Alves:
Feliz ou infelizmente, foi preciso que uma série realizada por uma grande produtora, como é a Netflix, circulasse, pra que especialmente o público jovem descobrisse o folclore.
A série mexeu com personagens bem conhecidos nossos, como é a Cuca, o Saci, o Curupira; a série também apresentou outros personagens como o Corpo-Seco, por exemplo, que era desconhecido para a maior parte dos brasileiros.
Então, parece que as pessoas de repente se deram conta que a gente tem belíssimas histórias no nosso folclore, que, se a gente conhece, não valoriza, não se encanta. A série, primeiro, teve isso de bom, ela resgatou um material que é patrimônio imaterial do Brasil, as histórias do nosso folclore, né?
Olá, pessoal! Eu sou Januária Cristina Alves, jornalista, educomunicadora, escritora, sou pesquisadora sobre as histórias de tradição oral do folclore brasileiro, a razão pela qual eu escrevi o abecedário de personagens do folclore brasileiro e, também, a coleção de personagens do folclore brasileiro, editada pela FTD Educação.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Com o sucesso da primeira temporada e a conclusão das gravações para a segunda, uma grande expectativa envolve a série “Cidade Invisível”. Neste episódio, Januária Cristina Alves analisa o que há de interessante na série sobre o folclore para tratar em sala de aula. Ela começa contando como o “Abecedário do folclore brasileiro” passa a servir de consultoria para a elaboração do roteiro de “Cidade Invisível”.

Januária Cristina Alves:
Eu e o Carlos Saldanha, que é o diretor da série ‘Cidade Invisível’ e também o diretor, a gente costuma dizer que foi o saci que nos uniu. Ele não lembra direito como é que o ‘Abecedário’ foi parar na mão dele, mas alguém deu o livro pra ele ler e ele resolveu usar o ‘Abecedário’ como material de consulta e também um material de inspiração. E, agora, na segunda temporada, que acabou de ser gravada faz poucos dias, eu fiz uma consultoria mais formal, né, analisando os roteiros etc.

Áudio do trailer da 2ª temporada:
(música de suspense) Há uma história que me estremece sempre, como uma sombra diabólica proibida.
Locução: Ela possui o corpo de uma mula e, no lugar da cabeça, fogo, chamas incontroláveis.

Januária Cristina Alves:
A abordagem foi extremamente feliz, porque teve não só a oportunidade de trazer o personagem como ele é, na maior parte das histórias, mas, sobretudo, colocá-los num contexto bastante contemporâneo. Ver o Saci-pererê com uma perna mecânica, né, nos Arcos da Lapa, essa ambientação e esse tratamento aproximou mais ainda, principalmente o público jovem, dessas histórias de tradição oral.

Música: “Quando era meia-noite”, com “Cantadeiras do Souza”
Quando era meia-noita
Lá no céu parece um dia
Cai sereno, cai
No cabelo de Maria

Januária Cristina Alves:
Eu fiquei muito feliz e eu acho que o mundo inteiro – porque a série foi exibida em 190 países -, se encantou com essas histórias que, na verdade, fazem parte da mitologia universal. Se a gente for ver, os nossos personagens conversam com grandes mitos e, por isso, eles têm muito a ver com a identidade nossa como ser humano. Então eles mostraram esta potência. E agora na segunda temporada eu acho que isso vai ficar mais evidente ainda.

Marcelo Abud:
Januária diz ter se surpreendido positivamente sobre como a série tem sido utilizada nas escolas para resgatar o folclore.

Januária Cristina Alves:
Eu recebi muitos pedidos de escola para conversar com os alunos, para aprofundar a pesquisa, conhecer o livro – são 141 personagens. Então, eu acho que as escolas rapidamente perceberam que essa conversa entre a literatura e o cinema, essa coisa do multiletramento, permitir que o estudante tenha acesso à mesma história em diferentes suportes, em diferentes mídias, a escola rapidamente entendeu que esse é um canal.
Foi interessante de ver também como é que os jovens recriaram em cima. O folclore tem isso de bom, as histórias do folclore são de todos nós. As pessoas rapidamente se identificam, se apropriam e recriam. Teve escola que criou jogo, game, que inventou outros personagens. Muitas regiões têm personagens que são, às vezes, bem particulares daquela região, são muitos brasis. Então, pega o personagem daquela região, daquele estado, recria a história. Eu senti assim que foi como se abrisse uma janela imensa de oportunidades de redescoberta do nosso folclore.

Marcelo Abud:
A pesquisadora avalia que são justamente esses aspectos da cultura popular que devem ser valorizados pelas escolas.

Januária Cristina Alves:
De repente estão ali, né, guardados num cantinho e acabam sendo deixados de lado em detrimento de uma cultura mais globalizada. Eu faço o convite, sempre, de olhar para o local: onde a gente está, o contexto que a gente vive, quais são as histórias que os avós ouviam? Recuperar um pouco a memória do local, porque isso vai trazendo um desejo grande, inclusive de autoconhecimento: de onde eu venho, de onde vem minha família, quais são minhas raízes? E aí, com isso, a gente vai engrossando o caldo, aí vai descobrindo as tradições do Brasil inteiro para então chegar na conexão com o resto do mundo.
Na pré-adolescência, na adolescência, essa questão da identidade é muito forte. A gente precisa se conectar enquanto povo brasileiro, precisamos resgatar o nosso jeito de ser, para que a gente possa se diferenciar e fazer a nossa própria história com bastante alegria e gosto de ser quem a gente é.

Marcelo Abud:
A palavra folclore vem do inglês folk, que significa povo, e lore, no sentido de conhecimento empírico. Em outras palavras, folclore quer dizer sabedoria de um povo.

Januária Cristina Alves:
O folclore é de todos nós, os personagens do folclore estão em todos nós. Então, isso dá uma liberdade criativa muito interessante, inclusive para o próprio trabalho em sala de aula, para a recriação desses personagens. No entanto, a gente tem que preservar os elementos constitutivos. O Curupira é uma entidade da floresta. De alguma maneira, mesmo que a gente coloque o Curupira na cidade – como foi o caso de ‘Cidade Invisível’ -, manteve-se nele as características do personagem, que o constituíram como um protetor das matas. Até pra, exatamente, se a gente está apresentando o personagem, reconhecendo o personagem, é importante que ele apareça como ele é. Como ele é, nesse sentido, a face mais conhecida, que é a essência desse personagem.

Música: “Ye Mele” (Luiz Carlos Vinhas)
A rainha mãe do mar
Traz o seu amor
Sua bênção vem me dar
Que eu dou uma flor

Januária Cristina Alves:
Então, eu sou a favor sim de adaptar, de colocar num contexto mais próximo do jovem, porque o intuito é exatamente isso, é causar uma identificação, uma conexão. Porque aí depois que se faz, né, que se liga, que faz essa ligação, aí todo mundo vai atrás de mais coisa, enfim, vai se aprofundar no conhecimento dos outros personagens. Então fica o convite ‘folclore para além de agosto’, já cunhei até uma hashtag aqui (ri) ‘folclore para além de agosto’.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Os episódios de “Cidade Invisível” propõem um mergulho sociocultural, ao colocar entidades populares como pessoas comuns.
Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.

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