O karatê é uma arte marcial desenvolvida ao Sul do Japão, na Ilha de Okinawa, por Gichin Funakoshi. A ilha recebeu influência da imigração chinesa e suas artes marciais entre os séculos XIV e XV. No século XVII, ela foi invadida pelo Japão e a população ficou proibida de portar armas, o que incentivou a prática de defesa pessoal. O karatê desenvolve diversas habilidades e pode ser trabalhado na escola durante as aulas de educação física.

No Brasil, a arte marcial chegou junto com a imigração japonesa no Sudeste, na década de 1950. A primeira academia de treinamento do esporte foi instalada na cidade de São Paulo, em 1955. “O karatê é o caminho das mãos vazias. Na etimologia da palavra: Kara (vazio), Tê (mãos), Dô (caminho)”, ensina o professor e atleta do Centro de Treinamento Kronos Dojo (GO) Victor Augusto Siqueira.

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Ele destaca que o esporte é pacífico e voltado à defesa. Seu código de honra é o Bushi-dô, formado por sete princípios e que remete aos samurais. “Gi: a verdade, a justiça. Ou seja, quando devemos dormir, devemos dormir, quando temos que lutar, deveremos lutar. Yu: bravura. Jin: amor incondicional. Rei: o comportamento justo, ser cortês. Makoto: sinceridade; Melyo: honra, ter consciência daquilo que é. Chugi: ser leal ao karatê”, lista Siqueira. O professor é autor da monografia “Esporte de lutas: karatê no ensino fundamental como conteúdo pedagógico” (2021).

Preparando o corpo

Siqueira indica iniciar a sequência didática para trabalhar karatê em educação física apresentando história e fundamentos do esporte. A maioria dos estilos tradicionais divide a aula em: aquecimento, Kihon, Kata, Kumite e alongamento – com saudações antes e ao final da aula.

No artigo, “O karatê e suas possibilidades como conteúdo de lutas na educação física escolar” (2014), Yuri Michael Rodrigues de Campos explica que o Kihon é o trabalho de todo o corpo. “Ele é voltado à ampliação e aprimoramento dos golpes, possibilitando ao estudante realizar movimentos de chutes, socos giros e saltos”, descreve.

O Kata é a luta imaginária e pode ser explorada em apresentações artísticas. Já o Kumitê é a aplicação de tudo o que foi estudado frente a um adversário real. Após apresentar a história e fundamentos do karatê, o professor pode usar como Kihon alguns jogos lúdicos.

Nesse caso, Siqueira indica a amarelinha.“A intenção nesse tipo de brincadeira é fazer com que a criança aprenda a pular e saltar, movimentos que serão muito usados no karatê”, justifica. Uma segunda atividade é um jogo de bola com as mãos. “Os alunos jogam a bola para o alto usando socos. Isso trabalhará habilidades de coordenação motora grossa e fina, ajudando também a ‘soltar o braço’”, recomenda Siqueira.

Ensinando as saudações

Antes de entrar nas defesas, é fundamental destacar a importância da saudação e do respeito. O professor da Associação Liberdade Karatê, de São Paulo, Sergio Hisaoka indica ensinar aos alunos duas saudações. O Hitsurei é um cumprimento em pé, em posição Musubi Dachi (calcanhares juntos e pontas dos pés separadas): “Este cumprimento deve acontecer quando aluno ou sensei (mestre) saem do Dojo, início e fim de qualquer atividade.”

Já o Zarei é o cumprimento em posição de Seiza, permanecendo sentado sobre as panturrilhas. O professor sugere apresentar outras palavras de respeito, que ajudam a aproximar o aluno da cultura japonesa. “Diz-se: ‘sensei gomem-kudassai’ (licença professor) e onegai-shimasu (permissão para iniciar o treinamento/por favor)”, ensina. “Uma das primeiras saudações aprendidas por todas as idades é arigatô-gozaimasu (obrigado) e sayonara (até logo)”, acrescenta.

Ao final do treino, é comum o compilado de cinco “regras do dojo (local do treino)”, conhecido como Dojo Kun. “Os preceitos são lidos um a um, geralmente no final do treino”, explica  Hisaoka. São eles:

HITOTSU! JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO!
(Primeiramente) Esforçar-se para a formação do caráter!

HITOTSU! MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO!
(Primeiramente) Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão!

HITOTSU! DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO!
(Primeiramente) Criar o intuito do esforço

HITOTSU! REIGI O OMONZURU KOTO!
(Primeiramente) Respeitar acima de tudo

HITOTSU! KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO!
(Primeiramente) Conter o espírito de agressão

“Todos os preceitos têm como característica a palavra Hitotsu (Primeiro). Isso porque não existe uma ordem de importância ou valor, todas devem ser respeitadas por igual”, esclarece Hisaoka.

Alternativas à luta

As aulas podem evoluir com as explicações de posições básicas como Mae-geri (chute frontal), Seikem, Guiako zuki e Hajiki uke. Após explicar as posições e defesas, Siqueira recomenda aplicar com alunos brincadeiras lúdicas como alternativa às lutas (Kumitê). Ele indica “estátua”, mas com os alunos “congelando” nas posições de karatê aprendidas.

“Outra é um jogo de duplas no qual os jogadores são um espelho do outro. Os alunos precisam imitar os gestos e expressões do outro sem rir”, recomenda. Assim, eles podem realizar socos, chutes, movimentos como saltos ou giro e pedir que o colega faça o mesmo. “A ideia é sempre colocar um aluno mais desenvolvido com aquele que tem dificuldade, pois no karatê, os movimentos são repetitivos e uma das melhores formas de aprender é a observação”, justifica.

Na monografia “A prática do karatê e suas contribuições na formação dos alunos do 3º ano de uma escola pública do município de Garanhuns” (2019), o professor Adeildo Gomes da Silva trabalhou saudações, aquecimento lúdico, atividades de parceria, técnica de defesa alta (Age-Uke) e golpe Gyaku-Zuki. As aulas, voltadas o ensino fundamental foram finalizadas com o a exibição do filme Karatê Kid e com uma apresentação coletiva e artística de luta imaginária (Kata) para toda a escola.

Materiais de referência

Os professores podem encontrar as principais bases, defesas e tipos de soco ilustrados, assim como mais informações sobre saudações e aspectos históricos do karatê, na cartilha gratuita desenvolvida por Silvio Melo. Outra opção é a cartilha do Centro de Treinamento Krono Dojo. Os docentes também indicam videoaulas sobre karatê básico para o ensino fundamental do SESC, desenvolvidas pelo professor de educação física escolar Matheus Heller: primeira e segunda.

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Atualizado em 20/06/2022, às 17h20

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