Infográficos são gêneros textuais com função expositiva e explicativa. “Eles têm como objetivo explicar de forma clara e dinâmica como algo é ou funciona. Para isso, misturam diferentes linguagens e elementos: palavras, imagens, cores, sons, ícones, setas, números, gestos, expressões faciais etc.”, resume a doutora em estudos linguísticos e professora nas redes estadual e municipal de Divinópolis (MG) Cláudia Ribeiro Rodrigues.

“Esse recurso tem circulado cada vez mais em diversas esferas sociais e mídias. Assim, saber interpretar a infografia é importante para que os alunos ampliem suas práticas de participação na sociedade”, justifica ela, que é autora da dissertação “Infografia como estratégia para ensino de leitura e de escrita de textos multimodais” (2018). Nas aulas de humanidades e ciência da natureza, os infográficos podem ser usados didaticamente no ensino de conteúdos complexos. “Eles desenham a informação, facilitam a assimilação e ampliam as possibilidades de compreensão dos conteúdos”, pontua Rodrigues.

Professoras respectivamente de educação física e biologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet/RJ), Rebeca Cardozo Coelho e Fabiana Cordeiro viram nos infográficos uma possibilidade de melhorar a aprendizagem à distância durante a pandemia da covid-19. Para isso, desenvolveram infográficos para trabalhar com os alunos a relação entre imunidade e alimentação equilibrada e entre atividade física e saúde.“Os infográficos foram importantes no contexto pandêmico para alimentar a mente de alunos com conteúdo. Além disso, permitiram uma tentativa de comunicação com os alunos e abriram uma possibilidade de construção do conteúdo curricular de forma interdisciplinar”, explica Coelho.

Produzindo infográficos

Já nas aulas de língua portuguesa, pode-se explorar a produção e a leitura de infográficos. No primeiro caso, pode-se pedir que os estudantes transformem textos verbais como reportagem e verbete de enciclopédia em infográficos. Para isso, vale lembrar que todas as linguagens nesse gênero textual possuem uma importância no todo. “O tamanho da fonte, layout, cores e até mesmo os espaços em branco colaboram na produção do sentido global do texto”, enfatiza.

Durante a produção, um desafio comum é aprender a selecionar informações relevantes a serem apresentadas e sintetizar conteúdos que serão expostos verbalmente. “Assim, antes de começar a sequencia didática, é importante oferecer atividades que desenvolvam as habilidades que são pré-requisito para a construção de infográficos, como: identificar partes principais e secundárias de um texto, escrever de forma sintética, articular o verbal e o não verbal etc.”, aponta.

Outro desafio é pensar visualmente, isto é, definir como um determinado conteúdo pode ser exposto de forma visual. “É preciso ainda definir a linguagem mais adequada para expor cada informação e criar o layout para que o texto fique visualmente atraente”. “A recomendação aos alunos é que sejam claros e objetivos; que usem gráficos e tabelas sempre que possível; e que apresentem um texto conciso mas com toda a informação necessária e sem deixar de criar uma narrativa”, orienta Coelho.

Vale ainda apresentar exemplos de cores, tipos de letras, formatos e imagens. “Conhecendo diferentes tipos de infográficos, os alunos podem usar a criatividade ao construírem os seus próprios”, explica Carneiro. Furtado salienta que a falta de computadores e de internet nas escolas pode ser um empecilho para o professor ao trabalhar infografia. “Foi necessário trazer um notebook de casa e roteava a internet do meu celular”, compartilha sobre sua experiência.

Aprendendo a interpretar

Segundo Rodrigues, propor atividades de leitura de infográficos ajuda os alunos a desenvolverem a habilidade de articular o verbal com o não verbal. “Eles passam a compreender a relação entre as partes do texto bem como articulações entre elas para a construção do sentido global”, informa. Autora da dissertação de mestrado “Leitura do gênero infográfico nas aulas de língua portuguesa: multimodalidade no ensino fundamental (2020)”, Rosilene Sabino Furtado trouxe o tema para sala de aula na tentativa de incentivar a leitura. “Quando chegava na classe com um texto verbal em uma folha A4, percebia preguiça e falta de engajamento dos alunos ao trabalhar o material. Além disso, quando trouxe gráficos, notei que eles não sabiam interpretá-los. Foram essas duas informações que me fizeram trabalhar o tema”.

Para ela, que leciona nas redes estadual e municipal em Campina Grande (PB), não precisar fazer uma leitura linear é um dos motivos de interesse dos alunos. “No início, ajude-os a determinar um ponto para início da leitura do infográfico e ir direcionando o trajeto da leitura”, ensina Rodrigues. Também é importante ressaltar a importância da articulação entre as linguagens usadas para uma boa leitura. “É comum, no início, eles buscarem informações apenas na parte verbal do infográfico. O aluno precisa entender as imagens, as cores, os efeitos visuais não como meras ilustrações do texto verbal, mas informações complementares que colaborarão com o sentido global do texto”, completa Rodrigues.

Poder de síntese

Furtado lembra ainda que o infográfico pode ser trabalhado em todos os níveis de ensino:“Penso que a partir do 5º ano do ensino fundamental ele já pode começar a desenvolver as habilidades de interpretação que o ajudarão ao final dessa etapa e no ensino médio.” O trabalho com leitura e produção de infográficos desenvolve habilidades linguísticas e discursivas que serão úteis na hora de estudar outros gêneros textuais.

“Ao esmiuçar a escrita de forma clara e sintética, dialoga com atividades de produção de esquemas, resumos, tabelas e gráficos”, apresenta Rodrigues. Ainda em língua portuguesa, pode-se associar atividades de produção de infográfico com o uso de pronomes e sinônimos para construir uma linguagem clara e objetiva. “O mesmo para o uso de tempos e modos verbais, uma vez que é comum o uso do tempo presente do modo indicativo em infográficos. Outra possibilidade é o uso de orações em forma direta para deixar a informação mais objetiva, envolvendo conteúdos de sintaxe: frase, oração, período, sujeito, predicado etc.”, aponta.

Veja mais:

Infográficos: linguagens verbal e não verbal ajudam na aprendizagem

Opinião – Infográficos: ampliação ou substituição do texto?

Como usar infográficos na educação com 8 sites

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