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Sextorsão ou pornografia de revanche, segundo a ONG SaferNet, é a ameaça de se divulgar imagens íntimas para forçar alguém a fazer algo – por vingança, humilhação ou para extorsão financeira. É uma forma de violência grave, que pode levar a consequências extremas, principalmente quando atingem crianças e adolescentes.

“Essa pornografia de vingança é uma violência virtual que atinge com mais frequência mulheres. A mesma coisa acontece com crianças e geralmente, da mesma forma que na vida adulta é com mais mulheres, acaba acontecendo com mais frequência com meninas. E isso tem se dado cada vez mais cedo, a partir dos 9, 10 anos”, revela a advogada especialista em direito digital e proteção de dados Alessandra Borelli, autora do livro “Crianças e adolescentes no mundo digital”.

Ingenuidade perigosa

Uma prática comum em relacionamentos online envolvendo adolescentes é conhecida como ‘sexting’. “É uma palavra originada da união de duas palavras em inglês, ‘sex’ de sexo e ‘texting’ de envio de mensagens. Ela se refere ao fenômeno de produzir e compartilhar com amigos, namorados ou pretendentes fotos sensuais do seu corpo nu ou seminu. Ou mensagens de texto, também, com conteúdo íntimo – de forma livre, de forma consciente”, exemplifica.

O problema é que, em redes sociais e chats de games, alguns adultos mal-intencionados fingem ser pessoas mais jovens ou que poderiam gerar interesse nesse público. “Eles se fazem passar por crianças da mesma idade, por artistas, influenciadores, técnicos de futebol, caça-talentos, agenciadores de modelos, crianças que estudam numa mesma escola… E aí eles têm muita paciência”, enumera Borelli.

Ao ganhar a confiança das vítimas, e com dados extraídos, muitas vezes, de postagens da criança, do adolescente ou da família dela, cometem o crime. “Tenho, na minha vivência profissional, uma série de casos que acompanhei de crianças que realmente caíram nesse tipo de emboscada e que, de fato, acreditavam estarem interagindo com alguém da mesma idade. E aí acabaram compartilhando a sua própria intimidade e sendo, então, chantageadas”, relata a advogada.

De posse de imagens íntimas da criança ou do adolescente, o criminoso exige uma cobrança financeira ou pede mais imagens para não divulgar a foto ou o vídeo entre familiares ou expor o conteúdo nas redes sociais. As extorsões incluem ainda a ameaça de compartilhamento das imagens com professores e amigos ou ameaça de violência física contra a vítima, pessoas próximas e até mesmo animais de estimação.

Como evitar o golpe

No áudio, a especialista traz uma série de dicas para tornar a internet segura para crianças e adolescentes, mas ressalta que “proibir não é o caminho, o caminho realmente é orientar. Não é ‘nós contra eles e as telas’, mas ‘nós com eles’ para que a gente possa ensiná-los a tirar o melhor e mais seguro proveito delas”.

Borelli aconselha ainda aos responsáveis que tiveram um filho ou uma filha vítima do crime virtual que evitem condená-los ou recriminá-los. “Acolha sempre, sob qualquer circunstância. O mais importante é proteger, minimizar essa sensação de vergonha, essa angústia, e aprender com essa experiência. Para que todas as medidas sejam também adotadas tempestivamente, é muito importante que a criança se sinta livre e à vontade para trazer esse assunto, esse problema que está passando, para dentro de casa”, explica.

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Transcrição do Áudio

Música: “Blue Nude”, de Verified Picasso, fica de fundo

 

Alessandra Borelli:

Essa pornografia de vingança é uma violência virtual que atinge, com mais frequência, mulheres. Por exemplo, quando um ex-namorado ou um ex-marido ameaça divulgar ou acaba divulgando mesmo fotos e vídeos íntimos, expondo nas redes sociais para difamar, para ameaçar e tudo mais. E a mesma coisa acontece com crianças e, geralmente, da mesma forma que na vida adulta com mais mulheres, acaba acontecendo com mais frequência com meninas. E isso tem se dado cada vez mais cedo, a partir dos 9, 10 anos.

Alessandra Borelli, advogada dedicada às áreas de direito digital e proteção de dados, palestrante e autora do livro “Crianças e adolescentes no mundo digital – orientações essenciais para o uso seguro e consciente das novas tecnologias”, da editora Autêntica.

 

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

 

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

 

Marcelo Abud:

Você já ouviu, foi vítima ou conhece alguém que sofreu “sextorsão”? Sabe qual a origem e intenção por trás deste crime virtual?

 

Alessandra Borelli:

Você sabe que o termo ‘sextorsão’ foi cunhado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 2010, ao ser usado oficialmente pelo próprio FBI em uma de suas investigações. Os policiais se depararam com um caso onde um hacker estava chantageando mulheres e as ameaçando de expor a sua intimidade, extorquindo mesmo – por meio da internet – caso elas não atendessem as suas exigências, que, no caso, era o envio de fotos nuas. Então a gente fala nesse termo de extorsão relacionada ao sexo – sextorsão – para se caracterizar o crime quando há grave ameaça, chantagem, o constrangimento para a prática de um ato libidinoso, que pode haver aí entendimento pelas autoridades como um crime até de estupro virtual.

 

Marcelo Abud:

Borelli lembra que pessoas mal-intencionadas não surgem com a internet. No entanto, elas têm mais facilidade de cometer crimes neste ambiente virtual.

 

Alessandra Borelli:

A tecnologia propiciou um ambiente muito mais facilitado e favorável para a prática desses comportamentos criminosos. Nunca foi tão fácil ganhar a aproximação e a confiança de crianças e adolescentes. E isso tem se dado, também e principalmente, por meio de redes sociais e chats de games.

 

Marcelo Abud:

Antes de entender como criminosos passam a ameaçar crianças e jovens, é preciso esclarecer uma prática cada vez mais comum a partir da adolescência.

 

Alessandra Borelli:

“Sexting” é uma palavra originada aí da união de duas palavras em inglês, que é “sex” de sexo e “texting” de envio de mensagens, e se refere ao fenômeno de produzir e compartilhar com amigos, namorados e pretendentes fotos sensuais do seu corpo nu ou seminu. Ou mensagens de texto, também, com conteúdo íntimo – de forma livre, de forma consciente.

 

Marcelo Abud:

O risco deste tipo de prática é que, atrás das telas, adultos criminosos, muitas vezes, se passam por pessoas que são iguais ou admiradas pelas vítimas.

 

Alessandra Borelli:

Então eles se fazem passar por crianças da mesma idade, por artistas, por influenciadores, técnicos de futebol, caça-talentos, por agenciadores de modelos, crianças que estudam numa mesma escola… E aí eles têm muita paciência. Então eles ganham aproximação, ganham a confiança. Muitas vezes, se valem dos insumos disponibilizados pela própria criança ou pela família da criança nas redes sociais e, com base nessas informações, eles vão conquistando ali um espaço, até que chega um momento – e eu tenho na minha vivência profissional – uma série de casos que eu acompanhei de crianças que realmente caíram nesse tipo de emboscada e que acreditavam, de fato, estarem interagindo com alguém da mesma idade. E aí acabaram compartilhando a sua própria intimidade e sendo, então, chantageadas.

 

Música: “Ilusão” (Julieta Venegas / Arnaldo Antunes / Marisa Monte), com Marisa Monte

Uma vez eu tive uma ilusão

E não soube o que fazer

Não soube o que fazer

Com ela

Não soube o que fazer

 

Alessandra Borelli:

As consequências, sob a perspectiva psicológica, são naturalmente devastadoras, sobretudo porque nem sempre esse conteúdo será totalmente eliminado do universo digital, tendo em vista o poder que existe de disseminação, de perpetuidade. Eu costumo dizer que conteúdo digital não tem devolução e quando a gente compartilha alguma coisa, por meio da internet, a gente perde o controle sobre aquilo e aí pode circular mesmo.

Agora, quando são vítimas menores de 18 anos, utiliza-se o Estatuto da Criança e do Adolescente. A divulgação de imagens íntimas de crianças e adolescentes é considerada crime pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, com penas que também podem chegar a seis ou oito anos de reclusão. E nas mesmas penas incorre quem fornecer os meios para o “simples” armazenamento de fotos e vídeos ou qualquer tipo de imagem que tenha conteúdo íntimo de criança e de adolescente.

 

Marcelo Abud:

Autora de cartilhas e livro sobre o tema, Alessandra Borelli traz algumas dicas para tentar evitar que crianças e adolescentes caiam na sextorsão.

 

Alessandra Borelli:

Celular não é brinquedo. A gente tem que pensar direitinho sobre a idade certa e o momento certo para entregar o celular para uma criança ou adolescente, estabelecer um canal de comunicação bastante acessível, conversar sobre tudo com a criança, com o adolescente. “Alessandra, vou falar sobre pornografia infantil com meu filho que tem apenas 8, 9 anos?”. Ele tem acesso à internet? Ele tem um smartphone? Então você vai conversar com ele sobre tudo sim. É lógico que, com cada idade, a gente tem um vocabulário diferente, mas, se a gente não falar, a internet vai dizer do jeito dela.

Respeitar e fazer com que a criança também respeite a classificação de jogos e aplicativos. Isso também vale para a liberdade de interações nos chats: até que ponto pode interagir com uma pessoa estranha? Quer jogar com alguém, que seja com alguém da família.

Dialogar sobre direitos sexuais, sobre dúvidas e curiosidades para que eles tenham e adquiram o conhecimento necessário e para o qual eles despertem algum tipo de curiosidade, mas que eles obtenham isso dentro de casa.

 

Música: “Educação Sentimental” (Herbert Vianna, Leoni e Paula Toller), com Kid Abelha

Vai ser tão simples quanto eu vejo nas revistas

Que falam de amor como uma coisa tão normal

Como se não passasse de um encontro casual

Educação sentimental

Ôô

Eu li o anúncio no jornal

Ninguém vai resistir

Se eu usar os meus poderes para o mal

 

Alessandra Borelli:

Não confundir, por favor, a capacidade técnica: crianças e adolescentes são extremamente habilidosas com a tecnologia. Isso não se discute, mas fisiologicamente continuam seres em condição peculiar de desenvolvimento, que, portanto, carecem de direcionamento, de orientação, isso não muda. Então eles não têm discernimento. Proibir não é o caminho, o caminho realmente é orientar. Não é ‘nós contra eles e as telas’, mas ‘nós com eles’ para que a gente possa ensiná-los a tirar o melhor e mais seguro proveito delas. Softwares de controle parental são excelentes para crianças até uns 9, 10 anos. Lembrando que software de controle parental não substitui o diálogo.

E, caso tenha a experiência de um filho ou uma filha vítima, não condene ou recrimine. Acolha sempre, sob qualquer circunstância. O mais importante é proteger, minimizar essa sensação de vergonha, essa angústia, e aprender com essa experiência, né? Para que todas as medidas sejam também adotadas tempestivamente, é muito importante que a criança se sinta livre e à vontade para trazer esse assunto, esse problema que ela está passando para dentro de casa.

É muito importante, quando a gente fala de criança e adolescente, cuidar com carinho das emoções, de modo que eles se sintam realmente à vontade para procurar um amigo ou apoio psicológico para resolver. Ninguém precisa passar por isso sozinho, né?

 

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

 

Marcelo Abud:

Sextorsão ou pornografia de revanche é uma violência grave e pode levar a consequências extremas. Ao saber de alguém que esteja passando ou ser vítima dessa situação, comunique com urgência o site em que o conteúdo está exposto e procure uma delegacia especializada em crimes digitais. Pelo Marco Civil da Internet, provedores têm o dever legal de tirar do ar  conteúdos não consentidos e plataformas como o Google têm agido para desindexar das buscas essas imagens ou vídeos íntimos.

Marcelo Abud para o podcast de cidadania do Instituto Claro.

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